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“O hábito é filho do tempo. Cada tempo tem as suas tecnologias e isso molda as gerações”. A frase, do psicólogo, doutor em Ciências Humanas e consultor da Hoper Educação, João Vianney, ajuda a dar um panorama dos desafios atuais na área da educação – e da velocidade com que eles se atualizam.

Você já parou para pensar como era a vida em 1920? Quais os materiais disponíveis nas escolas? Não havia internet, celulares, tablets. O rádio vivia sua era de ouro. A tecnologia que deu origem aos primeiros televisores estava nascendo – e só chegaria ao Brasil na década de 1950. Tudo isso é importante para pensarmos o comportamento humano a longo das décadas.

Viver em um mundo altamente digitalizado faz com que tenhamos muitas ferramentas que nossos pais e avós sequer sonhavam. Mas isso não quer dizer que o cérebro humano, mesmo com toda a sua plasticidade, tenha se transformado no último século a ponto de mudar a forma de assimilar conhecimento.

Quando falamos das diferentes formas de aprender entre as gerações, estamos apontando para as diversas ferramentas que cada uma teve acesso, e como isso impacta a maneira como buscamos informações e lidamos com elas hoje.

É mais ou menos como na história do Mogli, o menino lobo. Ao ser criado por animais, ele aprende a linguagem deles. Ao serem cercados por telas, é de se esperar que os jovens sejam moldados por elas em muitos aspectos.

Afinal, o que é uma geração?

Basicamente, gerações são grupos de pessoas nascidas em um mesmo período e que partilham, no decorrer de suas vidas, de tradições, vivências, cultura, experiências históricas e sociais. A explicação está no artigo “Competência em informação e as diferentes gerações”, escrito por Adriana Rosecler Alcará e Aurea Celeste Pires de Souza, da Universidade Estadual de Londrina (UEL) e publicado em 2021.

No texto, elas destacam que a ideia de geração, no âmbito social, foi desenvolvida inicialmente na década de 1920, e que com o surgimento das tecnologias de informação e comunicação, as formas de fazer as coisas no dia a dia não foram apenas alteradas, mas também aceleradas, o que encurtou o tempo do que chamamos de geração para aproximadamente dez anos.

Conheça as características das gerações Y, Z e Alfa relacionadas ao aprendizado:

Geração  Y

As pessoas da geração Y, ou millenials, são aqueles nascidos entre 1981 e 1994. Estão acostumadas a fazer tudo de forma rápida, instantânea e simultânea, por meio de imagens, músicas, vídeos, mensagens etc.; têm paciência limitada para palestras e gostam de aprendizados alternativos – por meio de jogos, por exemplo. Segundo teóricos da área, pessoas dessa geração processam e realizam várias tarefas ao mesmo tempo.

Os millenials têm preferência pelos computadores em detrimento dos livros e dificuldade para adquirir conhecimento com profundidade e executar atividades de forma constante. São criativos e informais.

Geração Z

Na geração Z, composta por aqueles nascidos entre 1995 e 2009, surge o “protagonismo dos polegares”, dedos responsáveis por digitar nos smartphones.

Para as pessoas dessa geração, os famosos nativos digitais, a tecnologia é imprescindível e influencia na forma de comunicação. Tendem a ser multitarefas, imediatistas, afeitas às redes sociais, e entendem que o maior conhecimento é constituído no ambiente digital. Aprendem com rapidez, mas são dispersas em atenção e têm dificuldade de manter o foco.

“As redes sociais das Gerações Y e Z são as maiores em termos numéricos e geográficos. Face a isto, são indivíduos moldados por seus pares. Muitos optam por explicação em vídeo no lugar de ler um artigo”, explicam as pesquisadoras da UEL.

Geração Alfa

Os jovens da geração Alfa – aqueles nascidos a partir de 2010 – tendem a ser mais conscientes e tecnologicamente conectados.

Aprendem ao mesmo tempo que se divertem, de maneira informal, em ambientes com jogos e interação, sem a presença necessariamente de um educador, de forma autodidata.

Qual a importância da experiência para potencializar a aprendizagem? Assista ao segundo episódio da série Irreversível e saiba mais:  

O papel das tecnologias

Apesar de cada geração ter as suas características mais acentuadas, a única coisa que realmente muda ao longo do tempo é a forma como utilizamos os recursos tecnológicos para alimentar os processos cognitivos.

Agora, estamos vendo o uso da inteligência artificial (IA) na mão do aluno. Trata-se de uma nova etapa de recursos e ferramentas, que irá impactar a forma de ensinar e aprender.

João Vianney. Crédito: Acervo pessoal.

“O que nós temos hoje é o máximo de possibilidades de comunicação e recuperação da comunicação que a tecnologia oferece. E os alunos utilizam. Isso cria novos hábitos de estudo nos alunos e que espantam os professores”, pondera Vianney.

De acordo com o educador, o hábito de uma geração não espera dez anos para se transformar: vai sendo moldado ao longo do tempo. E o hábito geracional de hoje ele é o do tempo fragmentado.

Tempo, tempo, tempo…

A necessidade de ter tudo em todo lugar e quase ao mesmo tempo – parafraseando o filme ganhador do Oscar – faz com que muitas vezes os vídeos curtos, com respostas pontuais para dúvidas específicas, ganhem o coração e os dedos dos mais jovens.

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Claro, se trata de um conteúdo que, para ter qualidade, exige muita dedicação de um profissional, mas que de qualquer modo não abarca o que um livro de 200 páginas sobre o mesmo tema abordaria.

Uma das grandes questões em jogo é o tempo. E como ele é organizado para a dedicação aos estudos. Assim, a pergunta de um milhão de reais é: existe um jeito de aprender melhor que o outro?

Pedro Tedesco. Crédito: Eduarda Endler.

Para o mestre em Psicologia que atua na área da Psicologia Educacional e da Aprendizagem Pedro Tedesco, não há como cravar essa resposta. De acordo com ele, tudo vai depender dos objetivos de cada estudante, de suas preferências. O importante é o conteúdo ter qualidade.

“Se a gente quiser um conhecimento mais aprofundado, o livro irá suprir isso muito bem. Porque ele tem mais espaço pra isso, ele tem essa proposta”, pondera.

Já para um vestibular, por conta do formato e da estrutura da prova, com temas que são mais cobrados que outros, um vídeo no formato do TikTok ou mesmo no YouTube pode ser mais assertivo.

A tendência é juntar o melhor dos dois mundos (analógico e digital) de acordo com o que será ensinado, explorando vários formatos. Por exemplo: a tecnologia traz a possibilidade de ilustrar temas complexos e de difícil abstração. Como imaginar um elétron se deslocando por causa do campo? Nesse caso, o aprendizado pode ser facilitado por meio da realidade virtual.

A importância do interesse e da autorregulação

Vídeos, realidade virtual, gamificação, interação…Tudo isso pode ser útil, mas o X da questão, segundo os especialistas, segue sendo o interesse e a dedicação.

“Ninguém aprende sem dedicação. Sem esforço não há conquista”, afirma Vianney, lembrando que é impossível adquirir conhecimento por um passe de mágica – mesmo quando se trata de um vídeo curto ou um material gamificado.

Por mais que os nascidos a partir de meados da década de 1990 tenham muito mais facilidades com o mundo digital (e de ele realmente oferecer ferramentas vantajosas para os processos de ensino e aprendizagem), nada parece ser um combustível mais eficiente que o objetivo de cada um.

E aqui entra a importância da autorregulação.

A profusão de possibilidades ao alcance das mãos 24 horas por dia, sete dias por semana, gera a necessidades de os jovens desenvolverem rotinas de estudo e autocontrole. Ou seja, ter um bom nível de auto-organização em termos de gerenciamento de tempo.

“Uma pessoa que consegue organizar seu tempo de forma equilibrada entre as suas necessidades, separando determinado período para estudar, outro para ficar com os amigos, outro para fazer exercícios, enfim… Uma pessoa que consegue entender a forma como melhor aprende, seus pontos fracos e fortes, consegue manejar os diferentes estímulos ao mesmo tempo”, pontua Tedesco.

Um estudante que vê um vídeo atrás do outro sem saber quando parar não vai conseguir discernir se de fato aprendeu algo – até porque talvez ele nem tenha compreendido o que realmente tem que aprender. Ou seja, não tirou proveito da tecnologia e ela por si só não é capaz de ensinar nada.

Tudo é questão de objetivo

Marc Prensky. Crédito: Acervo pessoal.

Para Marc Prensky, escritor que criou o termo “nativos digitais”, as novas gerações recebem estímulos diferentes e também aprendem de maneiras novas. Mas essa não é a questão mais importante, segundo ele: “O que os jovens de hoje querem fazer e quais capacidades eles possuem a sua disposição para isso?”.

De acordo com Prensky, as novas gerações estão apenas começando a descobrir como usar os avanços tecnológicos de forma positiva, assim como as anteriores eventualmente aprenderam como usar todos os outros (mesmo os que sofreram resistência) no passado.

“Devemos dar a eles mais tempo e tentar não os puxar para trás”, reflete o especialista.


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