A consolidação das startups tem atraído cada vez mais jovens no Brasil. Um levantamento recente, feito com 357 alunos de instituições de ensino de ponta – como USP, PUC-RJ e FGV –, mostrou que 37% dos estudantes demonstram interesse em fundar ou trabalhar em startups de tecnologia.
Não é de se impressionar. Afinal, jovens entre 18 e 34 anos eram 57% dos empreendedores de negócios em fase inicial em 2017, segundo o relatório Global Entrepreneurship Monitor (GEM), realizado anualmente pelo Sebrae.
O segmento das startups é atrativo aos estudantes por uma série de razões. Entre elas estão a possibilidade de crescimento profissional, bons salários e maior qualidade de vida.
O potencial de mercado também é levado em conta pelos universitários. Se 2017 o número de empreendimentos cadastrados pela Associação Brasileira de Startups (Abstartups) era de 5,1 mil, hoje são mais de 15 mil. Edtechs – startups de educação – são maioria.
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São Paulo, enquanto polo de negócios, é o estado com maior número de startups –3,1 mil no total. Das 25 startups mais visadas por quem procura emprego, 17 são paulistas, segundo o ranking LinkedIn Top Companies.
IES devem readequar planos de ensino
Cientes do interesse dos alunos e do potencial do mercado, as instituições de ensino superior (IES) poderiam readequar os planos de ensino, convergindo-os para uma aprendizagem focada nas competências exigidas por startups. O problema é que muitas escolas pecam no básico.
Segundo o estudo Empreendedorismo nas Universidades Brasileiras, realizado em 2016 pela Endeavor em parceria com o Sebrae, apenas 28,4% dos universitários que responderam ao questionário haviam cursado uma disciplina específica sobre empreendedorismo. Destes, um terço diz não ter feito a disciplina por desconhecer que a IES a oferecia – ou mesmo por não existir a opção.
Dos cursos de Engenharia e Ciências Sociais aplicadas (Administração e outras) mapeados pelo estudo, 50% ofertam disciplinas sobre a temática empreendedora. Em outras áreas de conhecimento, como em Ciências Agrárias, na Saúde e humanas, a porcentagem cai para 30%.
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Para fomentar a empregabilidade em startups, as universidades podem propor trabalhos e discussões nas disciplinas. Promoção de eventos e de incubadoras são alternativas para estimular criatividade e visão empreendedora.
A Universidade de São Paulo (USP) é um dos principais benchmarks brasileiros nesse sentido: a IES é a mais bem avaliada no quesito empregabilidade nas duas últimas edições do Graduate Employability Rankings e a primeira colocada no Ranking Nacional de Universidades Empreendedoras.
Quatro unicórnios – startups com valor de mercado superior a US$1 bilhão – foram fundadas por alunos ou ex-alunos da USP. Em 2018, as empresas incubadas na IES faturaram R$41,7 milhões.
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O exemplo da USP
A USP oferta 153 disciplinas sobre inovação, cultura empreendedora, criação de negócio e comercialização e vendas. A maioria é presencial. Alunos na graduação e pós-graduação de áreas como Comunicação e Saúde aprendem como criar uma empresa, produto e planos de negócio. Temas como legislação específica e planejamento financeiro também são abordados.
Em 2017, a universidade fundou a própria aceleradora de startups, a PoliStart. A iniciativa conecta alunos de Engenharia ao mercado exterior, incluindo investidores e provedores de tecnologia. Em um espaço de coworking, os negócios selecionados recebem mentoria e o capital necessário para transformarem suas ideias em negócios.
Diferente de outras aceleradoras, a PoliStart seleciona projetos ainda em pré-aceleração (fase de ideação). Também atua em corporate ventures, buscando empresas que assumam sociedade às startups dos alunos. Já através de venture building a equipe da aceleradora encontra ideias de negócios e designa alunos para executá-las.
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O Núcleo de Empreendedorismo (NEU) é outra estrutura disponível. Fundada em 2011, a pré-aceleradora de startups na universidade disponibiliza mentores que orientam o desenvolvimento e expansão de projetos.
O grupo organiza diversos eventos para universitários que buscam melhorar sua empregabilidade em startups. Um deles é o Ser Empreendedor, competição em que desenvolvem aplicativos ao decorrer de uma semana.
O que querem as startups
A habilidade empreendedora é, sim, importante para fundar ou trabalhar numa startup. Mas não é a única. Outra competência altamente valorizada é a resiliência.
“Também é preciso estar antenado nas tendências, nas questões jurídicas e contábeis de ter um negócio. Afinal, [empreender] não é um hobby”, acrescenta o presidente da Abstartups, Amure Pinho.
A sugestão é a mesma para estagiários e funcionários de startups. E mais. Segundo Samir Iásbeck, CEO da Qranio, startup que usa gamificação para desenvolver competências técnicas e socioemocionais, os recrutadores também valorizam “questões técnicas, o caráter e o desejo” em trabalhar.
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Fazer carreira numa startup traz diversas vantagens, frisa Iásbeck. O crescimento na carreira é mais fácil e rápido, além dos salários mais altos se comparados a outros modelos de empresa. A Qranio é prova disso: devido ao bom desempenho, cinco funcionários viram sócios da startup.
Se o estudante pensa em empreender, Iásbeck alerta que nem todo mundo que tem perfil para atuar na área. Saber lidar com as responsabilidades e os altos e baixos do mercado é essencial à saúde mental do empreendedor – e para a saúde financeira da startup.
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