Os processos seletivos das empresas têm passado por transformações nos últimos anos. Uma delas é a valorização de competências que vão além do conhecimento técnico e estão ligadas ao relacionamento interpessoal.
Chamados de soft skills – habilidades leves, em tradução livre –, esses comportamentos incluem empatia, colaboração, flexibilidade, liderança e senso de grupo, entre outros. Eles aparecem com cada vez mais destaque nas listas de requisitos às vagas de emprego.
Entretanto, poucas universidades abordam o tema durante a formação. O foco nas soft skills tem a ver com os benefícios trazidos à rotina de trabalho. Além de melhorar o convívio com os colegas, as posturas positivas colaboram para a eficiência das tarefas e, por consequência, otimizam os resultados.
Muitas vezes, as competências comportamentais já fazem parte da personalidade do profissional. Mas também é possível desenvolvê-las por meio de cursos e prática.
As startups estão entre as empresas que mais dão importância às soft skills, devido à natureza dinâmica do negócio. Esse, aliás, é um movimento notado em diversos países.
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Desafio nacional
O estudo Soft skills for business success , por exemplo, estima que até 2030 dois terços das vagas de emprego da Austrália irão demandar o uso intensivo de habilidades comportamentais.
As escolas dos Estados Unidos já capacitam estudantes em habilidades comportamentais desde os anos 1970. O Brasil despertou para essa necessidade bem depois. A chamada Educação Baseada em Competências (EBC) ganhou espaço na década de 1990, a partir da Reforma do Ensino Brasileiro.
A EBC é pautada pela interdisciplinaridade. Ou seja, os conhecimentos adquiridos nas diversas disciplinas se complementam. Outra característica é a busca pelo equilíbrio entre a prática e a teoria. Daí a importância das metodologias ativas, que facilitam a introdução de situações reais no currículo.
O país, entretanto, ainda tem dificuldade em abordar competências no ensino superior. É o que afirma o Índice Mundial de Educação para o Futuro, publicado pela The Economist Intelligence Unit.
A pesquisa avaliou os sistemas educacionais de 35 países nos quesitos políticas públicas, ensino e socioeconômicos. Apenas 17 tinham estrutura adaptada às novas competências. E o Brasil não foi um deles.
O país ficou na 22º colocação e foi considerado ineficiente no preparo de universitários para o mercado do futuro. De acordo com o estudo, o problema brasileiro passa pela desvalorização da docência, além da formação deficiente.
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Caminhos da capacitação
O professor tem papel central na produção de bons profissionais, independentemente da área de atuação. No entanto, para que cumpra seu objetivo, precisa ele mesmo ter recebido instrução de qualidade.
Uma das maneiras de preencher o gap dos conhecimentos em soft skills é buscar atualizações nessa área. Além de cursos online, o Brasil já conta com literatura sobre como desenvolver competências comportamentais em sala de aula.
Em Dez Novas Competências para Ensinar, publicado em português pela Editora Penso, o autor suíço Philippe Perrenoud recomenda a aprendizagem através da prática.
O trabalho em equipe contribuiria para o processo educativo, assim como os ambientes de aprendizagem virtuais (LMS). Desta forma, o aluno ganha autonomia sobre sua educação.
As orientações de Perrenoud já são adotadas no Centro Universitário Fundação de Ensino Octávio Bastoso (Unifeob), em São João da Boa Vista (SP). Lá, as soft skills são ensinadas em todos os cursos desde 2012, segundo a Revista Ensino Superior .
A instituição aborda nove competências a partir de situações-problema criadas em aula. Além disso, os alunos podem acessar módulos sobre autoconhecimento, diversidade cultural e negociação por meio da plataforma LMS.
Os cursos se organizam em eixos temáticos, nos quais uma área de conhecimento complementa a outra, criando contextos que facilitam a compreensão por parte dos alunos. Mas não é preciso estar numa universidade para desenvolver as habilidades relacionais.
Já existem empresas especializadas no desenvolvimento de soft skills. A Conquer é uma delas. Fundada em 2016, a empresa de Curitiba (PR) se posiciona como uma “aceleradora de pessoas”, tomando emprestado uma terminologia utilizada para os polos dedicados a impulsionar o crescimento de startups.
O negócio nasceu a partir da insatisfação de seus sócios com o ensino que haviam recebido na graduação. A proposta da Conquer é exatamente preencher essa lacuna deixada pelas IES e capacitar pessoas em habilidades dificilmente abordadas no ensino superior.
Através de exercícios práticos, as aulas ensinam sobre inteligência emocional, resiliência, oratória, foco e capacidade de negociação, entre outras competências.
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