Em 2016, o jornalista Richard Louv lançou o livro “A última criança na natureza”. Na publicação, Louv cunhou o termo Transtorno de Déficit de Natureza (TDN). Seu objetivo era alertar a comunidade internacional para um problema grave: o distanciamento das novas gerações em relação à natureza.
“Estamos criando as crianças em ambientes, na escola e em casa, nos quais elas estão usando apenas dois sentidos: visão e audição”, critica Louv, em um vídeo publicado no youtube pelo Instituto Alana, para explicar o TDN.
Ele afirma que mais tempo passado na natureza representa mais saúde e felicidade familiar.
Sua preocupação vai ao encontro do que é endossado por entidades como a Organização das Nações Unidas (ONU) e a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP). Afinal, o direito da criança brincar na natureza é garantido por lei.
A Constituição Brasileira toca no assunto nos artigos 225 e 227, os quais citam que “todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à qualidade de vida sadia”.
O Estatuto da Criança e do Adolescente, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação e o Marco Legal da Primeira Infância são outros documentos que asseguram o direito de brincar no Brasil. Em âmbito internacional, a Convenção das Nações Unidas Sobre Direitos da Criança prevê a garantia do direito ao lazer e à educação que desenvolvam o respeito ao meio ambiente.
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Urbanização afasta crianças de áreas verdes
Há diversos razões para as crianças de hoje estarem longe da natureza. O Grupo de Trabalho em Saúde e Natureza, da SBP, cita a urbanização desenfreada e suas consequências: redução de áreas naturais, poluição ambiental, falta de segurança e qualidade dos espaços públicos ao ar livre.
Para se ter uma ideia, São Paulo tem 2,6 metros quadrados de área verde por habitante. A recomendação da ONU é de no mínimo 12 metros quadrados por habitante – embora, entre especialistas, defenda-se o triplo de espaço por pessoa.
Em documento publicado pelo Comitê dos Direitos da Criança, a ONU afirma que “em um mundo cada vez mais urbanizado e privatizado, o acesso das crianças aos parques, jardins, florestas, praias e outras áreas naturais está sendo corroído. Crianças em áreas urbanas de baixa renda têm mais probabilidade da falta de acesso adequado aos espaços verdes”.
Paralelo a isso, acontece um processo de intoxicação digital. Segundo a SBP, a utilização exagerada de tecnologias digitais tem exposto as crianças à publicidade e a conteúdos inadequados, principalmente pela internet. O contato indiscriminado com o mundo digital é visto como responsável por aumentar a propensão ao sedentarismo e, consequentemente, à obesidade.
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O pediatra José Martins Filho concorda. Em uma entrevista publicada no canal do Instituto Alana, no Youtube, ele afirma que o fato de o Brasil ter triplicado o número de crianças obesas em 10 anos tem a ver não apenas com uma alimentação errada, mas também com a falta de exercícios ao ar livre.
Como a obesidade – e problemas associados a ela – tende a acompanhar as pessoas durante a vida adulta, brincar na natureza é uma questão de saúde pública.
“Estamos percebendo que para tratar obesidade a criança precisa ter contato com a natureza e brincar. Uma criança brincando está ótima. O primeiro sinal que está ficando doente é quando ela para de brincar”, alerta Martins Filho.
A importância de brincar na natureza
Brincar na natureza é importante para o desenvolvimento infantil, uma vez que:
- proporciona experiências positivas;
- desenvolve a força motora, o equilíbrio e a coordenação;
- previne o estresse tóxico;
- promove a integração;
- aperfeiçoa a visão;
- diminui sintomas de depressão, ansiedade e déficit de atenção associado à hiperatividade;
- desenvolve o sistema cognitivo;
- e garante absorção de vitamina D.
Muitas vezes, entretanto, pais e familiares alegam uma série de dificuldades para colocar as crianças em contato com a natureza com mais frequência. Para organizar uma dinâmica capaz de aproximar os jovens de áreas verdes, o Nature Kids Institute criou uma pirâmide de conexão com a natureza com quatro estágios.
Na base da pirâmide, está uma atividade para ser feita diariamente: brincar ao ar livre. Na sequência, uma para ser feita semanalmente: explorar a natureza. Depois, um passeio mensal: visitar um parque. No topo, algo que pode ser feito anualmente: procurar áreas remotas livres de grandes interferências humanas.
Em um documento publicado recentemente sobre o tema, a SBP ressalta iniciativas como essa. “Brincar na areia, subir em árvores, construir cabanas e encontrar os amigos ao ar livre são experiências importantes que permitem estabelecer conexões positivas com a vida e com o outro.”
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Adoro, a natureza, sempre quando posso gosto de estar em meio as plantas e cachoeiras, e sei também que pra nossas crianças é muito importante, pé no chá, terra, areia barro, grama tudo maravilhoso. Me remete a lembrança de minha infância de subir em árvores, panhar o fruto do pé, e a infância de minhas filhas que também foi assim, portanto me sinto muito em sintonia com este olhar