Em termos de fusões e aquisições, o setor educacional nunca esteve tão aquecido desde 2013. É o que afirmou Jânyo Janguiê Diniz, presidente da Ser Educacional.
De fato. A Kroton, por exemplo, adquiriu quatro faculdades pequenas localizadas no Norte e Nordeste do país nos últimos seis meses, segundo o Valor Econômico. A própria Ser Educacional chegou a negociar a aquisição da Unigranrio, controlada por sete irmãos da família Herdy, com 10 campi no Rio de Janeiro e 40 polos de ensino a distância. As empresas não chegaram a um acordo, mas Diniz defende que, em vez do crescimento orgânico, a chave para a expansão da empresa está nas aquisições e no investimento em EAD.
Assim como outros consolidadores, a Ser Educacional pega carona nas mudanças deliberadas no ano passado pelo governo. A primeira, em maio, flexibilizou o marco regulatório do ensino a distância. A outra reforma ocorreu em dezembro, no apagar das luzes de 2017, quando o Ministério da Educação (MEC) mudou a regulação, a supervisão e a avaliação dos cursos de ensino superior.
Ambas as mudanças facilitaram a expansão do ensino a distância no Brasil – principal viés de crescimento das IES nos últimos anos –, sobretudo àquelas empresas com escala e disponibilidade de capital. Foi assim que, de maio de 2017 para cá, a quantidade de polos EAD no Brasil mais que dobrou, ao passo que o número de matrículas da modalidade presencial registrou queda.
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Ocorre que, somado à recessão econômica e à redução do financiamento estudantil do governo federal (Fies), o aumento da oferta EAD pode fazer com que os preços das mensalidades, já bastante baixos, caiam ainda mais. Para os próximos três anos, a consultoria Atmã Educar prevê uma redução de 40% no valor cobrado pelas faculdades privadas – com o tíquete médio saindo dos atuais R$ 750 para R$ 450 por mês.
Concentração do mercado, flexibilização das avaliações dos cursos, economia fraca, projeção de retração nas mensalidades – esses e outros fatores colocam em alerta as pequenas instituições de ensino superior (IES) privado no país. Refiro-me a 1,3 mil faculdades e universidades, cada uma com até 1 mil alunos e que cuja participação no mercado não chega a 10%. Para efeito de comparação: a Kroton, maior grupo educacional do país, tem um market share superior a 23% – são 962 mil alunos matriculados.
As IES de pequeno porte resistem à pressão dos grandes conglomerados apostando na força regional de suas marcas. Boa parte delas é familiar. E, em alguns casos, pouco profissionalizadas em termos de gestão. Daí o risco de serem engolidas pela concorrência, seja fechando as portas ou adquiridas. A consultoria Hoper Educação estima que, a cada ano, entre 45 e 60 faculdades fecham as portas no Brasil.
É cada vez maior é a necessidade das instituições de ensino de pequeno porte readaptarem sua cultura organizacional. Isso inclui repensar modelos de atuação, modernizando-se por meio das melhores práticas de gestão disponíveis no mercado. E crescer é um fator preponderante: há uma maior chance de fechar as contas no azul com pelo menos 1,5 mil matriculados, segundo Caio Polizel, da Hoper, em entrevista ao Valor Econômico.
Mecanismos de controle de inadimplência, compra de materiais didáticos conjunta com outras IES, learning analytics e até a utilização de certificados de recebíveis imobiliários (CRI) são opções empregadas pelas pequenas na corrida pela competitividade. Adoção de metodologias pedagógicas inovadoras, como sala de aula invertida e ensino híbrido, também.
Aliadas à tradição local e ao apelo em suas comunidades, estratégias assim tendem a diminuir o risco e dar maior fôlego às pequenas instituições de ensino superior. A hora de agir é agora.
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