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Turmas exclusivas para mulheres podem mudar a cara dos cursos científicos

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Nos cursos da área de Ciências Exatas, como Tecnologia da Informação, Engenharia e Matemática, são onde mais se encontra o desequilíbrio de gênero. Há muito mais homens que mulheres, tanto exercendo profissões nesses campos quanto estudando nas faculdades. Para mudar esse cenário, surge uma solução que, à primeira vista, parece das mais antiquadas: a Online School for Girls, uma universidade online só para meninas. E o resultado tem sido surpreendente.

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Mulheres entre mulheres aprendem melhor
[FONTE: Boing boing]

A Online School for Girls, fundada em 2009, trabalha com EAD apenas para mulheres. No último ano, 21 de suas mil estudantes foram reconhecidas pelo National Center for Women in Technology (Centro Nacional de Mulheres na Tecnologia, em tradução livre), por suas conquistas e aspirações em computação e tecnologia. Além disso, em um biênio, a escola preparou 30 alunas para realizarem o exame chamado Advanced Placement (algo como um comprovante de conhecimentos avançados) em ciência da computação. Esse número fica acima da média nacional, ou seja, uma só instituição online preparou mais alunas do que cada estado norte-americano.

A estratégia pode ajudar a reduzir o desequilíbrio, presente mesmo na EAD, e, sobretudo, pode dar algumas pistas sobre porque, afinal, as mulheres se dedicam menos ao conhecimento científico exato. Embora existam diferenças biológicas entre homens e mulheres (meninos, desde cedo, costumam ter melhor noção espacial, por exemplo), é difícil acreditar que uma diferença tão gritante nos cursos de ciências exatas seja apenas um retrato “natural” da sociedade. A experiência da Online School for Girls tem mostrado que o ambiente estudantil pode ser muito mais determinante do que se imaginava.

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Marie Curie: uma das pioneiras no campo científico
[FONTE: Universo Racionalista]

Um estudo publicado no Journal of Personality and Social Psychology, o professor Sapna Cheryan conta os testes realizados com mulheres em ambientes com referências tipicamente masculinas e ambientes mais femininos. Na sala decorada com um pôster de Star Trek, videogames e restos de fast food, as meninas se intimidaram e não demonstraram muito interesse pelo conteúdo de ciência da computação que lhes foi oferecido. Já na sala com um pôster de uma paisagem natural, lanches saudáveis e cadernos, as alunas se sentiram confortáveis e touché: seu interesse pelo conteúdo atingiu o mesmo nível dos colegas homens.

Para verificar se o efeito se repetiria mesmo em cursos online, a universidade de Stanford criou salas de aulas virtuais – com estudantes virtuais – e convidou alunas a participarem das aulas. Mais uma vez, as mulheres cujo ambiente virtual era neutro e nos quais elas tinham colegas do mesmo sexo tiveram melhor desempenho nas disciplinas e mostraram maior interesse em outros cursos da área. Já as estudantes com colegas homens (lembrando que estamos falando de colegas virtuais), se distanciaram mais do conteúdo e não quiseram dar prosseguimento aos estudos em Exatas.

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Matemática, computação e engenharia são alguns dos campos considerados “masculinos”
[FONTE: University of Cambridge]

Como nem sempre é viável separar homens e mulheres na sala de aula, seja no ensino tradicional ou na EAD, uma solução mais acessível pode ser colocar mulheres em papeis de liderança dentro da instituição. Convidar professoras a ministrar palestras ou criar um programa de mentoras no qual mulheres guiem meninas são ideias que contribuirão com a criação de um ambiente mais convidativo às alunas.

Pesquisas recentes mostram que a desigualdade não é exclusiva das Ciências Exatas: quando se chega a programas de pós-graduação, como mestrados e doutorados, o desequilíbrio de gêneros se espalha para todas as áreas do conhecimento. Talvez seja hora de investir na equidade de gêneros também nessas esferas.

Na sua instituição, como são trabalhadas as diferenças de gênero e a disparidade no número de homens e mulheres? Para receber mais notícias e estudos da área da educação, assine nossa newsletter.

Redação
A redação do portal Desafios da Educação é formada por jornalistas, educadores e especialistas em ensino básico e superior.

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