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A tecnologia sozinha não transforma a educação: entrevista com José Francisco Vinci de Moraes

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Tablets e smartphones são valiosos auxiliares em pesquisas. Crédito: Ie University.

José Francisco Vinci de Moraes não vai apenas apresentar um seminário no próximo Fórum de Lideranças, ele vai dar uma aula. Convidando todos os participantes a levarem seus smartphones ou tablets, o professor Chico vai demonstrar metodologias que utilizam aplicativos e equipamentos móveis no ensino presencial. O educador é Coordenador do Núcleo de Tecnologias Mistas de Aprendizado da ESPM e responsável pelo ambiente virtual de aprendizagem (AVA) da instituição, desenvolvido pela Blackboard.

Nesta entrevista, ele fala sobre a realidade do ensino superior, os desafios enfrentados em sua carreira, a relação entre professor e aluno e, é claro, o uso de mobile no ensino.

Que avanços as novas tecnologias trouxeram e qual a importância da inovação para o futuro da educação?
As tecnologias de educação vêm permitindo que as instituições de ensino repensem seus modelos pedagógicos, tradicionalmente centrados no professor e na transmissão de seus conhecimentos. Novas tecnologias permitem a adoção de metodologias voltadas para a aprendizagem, voltadas para o estudante. A aprendizagem ativa ou por projetos são exemplos dessa transformação.

As novas tecnologias já estão inseridas na realidade do ensino superior?
Eu creio que sim. Grande parte das instituições de ensino superior conta com algum recurso tecnológico para apoio ao aprendizado. Todavia, o problema não é a disponibilidade de tecnologias, e sim de projetos pedagógicos que se apropriem dessas novas fontes de conhecimento e compartilhamento de conteúdos. A tecnologia por si só não transforma a educação.

O uso do mobile no ensino presencial geralmente é visto como um novo meio de interação com o conteúdo. Essa prática pode trazer mudanças para o modo de ensinar e aprender?
Eu creio que o “blended learning” é uma tendência natural na educação. Nesse sentido, o uso de mobile é mais um recurso que não pode ser desprezado. Ao invés de solicitarmos aos nossos estudantes que desliguem seus smartphones, deveríamos aproveitá-los para a interatividade em sala de aula. Este será o tema de meu workshop no Fórum de Lideranças.

Quais são as maiores dificuldades encontradas por professores e gestores ao começar a utilizar aplicativos e equipamentos móveis em sua prática?
São basicamente três. 1) a instituição precisa contar com infraestrutura adequada: wi-fi, conteúdos em nuvem ou mesmo salas conectadas; 2) a instituição deve ter um modelo pedagógico para esse uso, sendo que tal modelo deve preencher lacunas normais nesse tipo de processo, ou seja, quais temas ou disciplinas são mais apropriadas, qual o tipo de material, como produzir o material, etc; 3) professores precisam ser convencidos e capacitados para a utilização desses recursos.

Que dicas o senhor daria para quem quer começar a usar mobile na sala de aula?
No caso da instituição não ter um projeto ou programa para a utilização de mobile e o professor desejar começar por conta própria, minhas dicas seriam a utilização da web para pesquisa e resposta a questões formuladas em sala de aula. Outra dica é a consulta de mapas, preços, filmes, fatos históricos ou qualquer outro conteúdo, atribuindo a cada estudante a responsabilidade de uma pesquisa e sua posterior divulgação para o grupo todo.

Quais são as possibilidades da utilização do celular no ensino presencial?
Desde que o equipamento seja um smartphone não vejo diferença na utilização. Claro que a visualização pode se tornar um problema, mas os aplicativos procuram atenuar este tipo de desvantagem.

Como elas diferem das possibilidades de utilização do celular na EAD?
É uma opinião pessoal, que partilho com alguns autores da área, mas não vejo mais essa dicotomia entre educação a distância ou presencial. Cada vez mais a distância é reduzida na EAD e aumentada na aprendizagem presencial. A única questão que julgo ainda problemática no EAD não é o equipamento (desktop, celular ou tablet), e sim a forma como os conteúdos são desenvolvidos, pois devemos ser os mais claros e objetivos na interação, uma vez que a distância impede “coisas” do tipo “onde o professor colocou mesmo aquele texto?”, pergunta que não seria problema no presencial, pois um colega ou próprio professor estão mais próximos.

Como as tecnologias mobile podem contribuir para a relação entre alunos e professores?
Estudantes e professores podem interagir com muito mais qualidade, pois a escrita é a base dessa interação e não a palavra oral. Claro que, para isto, devemos pensar em um outro tipo de professor e de estudante.

Qual foi o principal desafio da educação que você superou ao longo da sua experiência?
Não tenho dúvida que o maior desafio que enfrentei e enfrento é a natural e compreensível resistência de professores ao uso da tecnologia e a ausência de projetos mais consistentes para sua utilização.

Para você, qual é o principal desafio a ser superado pelas instituições brasileiras nos próximos anos?
É repensar suas metodologias, independente da tecnologia, para tornar o aprendizado um processo mais ativo, centrado no estudante. Em outros termos, o modelo de aulas expositivas presenciais, centradas exclusivamente em conteúdos, está exaurido. Não que tais aulas devam ser eliminadas. Em várias ocasiões do processo de aprendizagem, elas são muito importantes.

Não perca a oportunidade de escutar José Francisco Vinci de Moraes ao vivo e debater as estratégias para o uso de aplicativos e aparelhos móveis no ensino. O Fórum de Lideranças acontece no dia 6 de agosto, e as inscrições estão abertas.

Redação
A redação do portal Desafios da Educação é formada por jornalistas, educadores e especialistas em ensino básico e superior.

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  1. […] José Francisco Vinci de Moraes não vai apenas apresentar um seminário no Fórum de Lideranças, vai dar uma aula usando smartphones e tablets.  […]

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