Por Maristela Castro
No Brasil, costumamos dividir em dois formatos a educação superior: presencial e a distância. É uma particularidade nossa. Países como a Finlândia, Inglaterra e Alemanha, por exemplo, pensam diferente. Para eles, educação é simplesmente educação. Quer dizer, não há distinção entre os modelos de ensino. As distâncias são pequenas, o acesso é facilitado, os estudantes se dedicam aos estudos em tempo integral e a grande maioria dos alunos jamais pensaria em estudar e trabalhar ao mesmo tempo. Uma realidade bem diferente da brasileira.
No fundo, os europeus têm razão. Mesmo que se mude os lugares, os tempos, os espaços, os recursos, as estratégias, as tecnologias e os modos de desenvolver o processo de ensino, educação continua sendo educação. Aqui, por outro lado, ficamos apegados a certos conceitos. Temos de lidar com as “educações” – apesar de, não raro, sequer alcançarmos seus objetivos. Fracionamos, dividimos e atomizamos o conhecimento em tantas partículas que nos perdemos em fiapos insignificantes. Perdemos de vista que a educação deve ajudar as pessoas e resolver problemas.
A educação como conceito perde utilidade à medida em que engessarmos em programas curriculares fragmentados e ofertarmo-la em padrões pré-estabelecidos – como se todos aprendessem da mesma forma ou estivessem interessados nas mesmas coisas. Também perde sentido quando a oferecemos em linha reta e linear, distanciando-a dos fatos da vida, dos problemas das profissões, das empresas, das relações interpessoais, das problemáticas que o mundo globalizado passa e, principalmente, distante das tecnologias que todos, no mundo não acadêmico, utilizamos à enésima potência.
Estamos conectados a tudo e a todos o tempo inteiro. Todos – idosos, bebês, adolescentes, crianças, adultos – estão familiarizados às tecnologias. Um estudo da Cisco aponta que em 2020 haverá mais pessoas com celulares (5,4 bilhões) do que com água encanada (3,5 bilhões). Mais recentemente, o Brasil superou a marca de um smartphone por habitante e hoje conta com 220 milhões smartphones, segundo a 29ª Pesquisa Anual de Administração e Uso de Tecnologia da Informação nas Empresas, da Fundação Getúlio Vargas de São Paulo (FGV-SP). Apesar disso, há muitos lugares em que as tecnologias sofrem resistência. A educação “presencial” é uma delas.
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A adoção de tecnologia não é uma tábua de salvação – definitivamente não é. A questão é que, no Brasil, a concepção que temos de educação está atrelada a uma metodologia que considera o professor um transmissor e o aluno um receptor passivo. E isso dever mudar. É preciso dar sentido, utilidade ao conhecimento e, sobretudo, ajudar os estudantes por meio de uma abordagem baseada na resolução de problemas. Aí, sim, a tecnologia passa a ser essencial.
Os cursos superiores orientados por tecnologias já são realidade no Brasil. Mas seu sucesso depende de mediadores de aprendizagem treinados para tanto. O professor-mediador não é dispensável, faz parte do processo. No entanto, é uma aflição não termos resolvido questões importantes em relação a isso. Como resultado, temos (tal o final do século XVIII e o início do século XIX) uma república de bacharéis – somando-se aos dos licenciados e tecnólogos – que pouco contribui com soluções ou inovações que melhorem a vida das pessoas.
Apesar dessas dificuldades, as tecnologias da comunicação e informação ajudam a encurtar os caminhos entre os conteúdos teóricos e a realidade da vida. Também possibilitam ao estudante lugares, formas, tempos e espaços diferenciados da sala de aula. Ou seja, elas transformam a aprendizagem em um processo continuado de construção e elaborações novas contínuas. Ainda oferecem uma diversidade de inputs que ajudam ao estudante em suas diversas formas de aprender, que não somente a de um professor falando e transmitindo conteúdo.
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Em Inteligências Múltiplas – A Teoria na Prática, o psicólogo Howard Gardner diz que as pessoas requerem aprendizagens por meio da chamada Teoria das Inteligências Múltiplas. Segundo o especialista, trata-se de um contrapeso para o paradigma da inteligência única: propôs que a vida humana requer o desenvolvimento de vários tipos de inteligências, sem entrar em conflito com a definição científica de inteligência como sendo “a capacidade de resolver problemas ou fazer coisas importantes”. (Veja a imagem abaixo.)
Quais formas de oportunizar aprendizagens para múltiplas inteligências? Informar-se, ouvir músicas, assistir filmes e vídeos do professor, ler jornais, artigos científicos, gráficos, imagens; assistir vídeo-aulas do YouTube, ter espaços de conversa, reflexões, apresentação de cases, enfim… há um sem-número de cenários novos que podemos compartilhar, orientar, motivar, instigar, provocar e interagir com esse aluno. Sem esquecer dos chats, WhatsApp, e-mail, plataformas de aprendizagem, Twitter, fóruns, entre outros.
Não desejamos adjetivar a educação em presencial ou a distância, nem utilizar modismos pedagógicos que mais atrapalham que ajudam a solucionar nossos problemas. Apontamos sim, para o uso de recursos que estão disponíveis e que podemos utilizar de forma complementar as aulas. São recursos que podem ser formalmente utilizados por meio do ambiente virtual de aprendizagem (LMS, na sigla em inglês). Muitos utilizam a plataforma Moodle, que é aberta a formatos, códigos, programas e rótulos. Temos ainda o Google For Educacion, a Blackboard… São muitas as soluções, possibilidades, plataformas e aplicativos a desbravar em um LMS. A questão maior é construir programas educacionais para seres humanos, que privilegiem e utilizem da melhor forma possível nossas capacidades de expandir o cérebro, aprender sempre e mais, colaborar, respeitar e viver eticamente. Eis nossos verdadeiros desafios.
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Sobre a autora
Maristela Castro, pedagoga, é mestre em Políticas Públicas e especialista em psicopedagogia e em educação mediada por tecnologias.
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