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Nenhum estudante vai perder o ano letivo, afirma ex-secretária do MEC

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A ideia de perder o ano letivo está fora de cogitação, segundo Katia Smole.

A ideia de perder o ano letivo está fora de cogitação, segundo Katia Smole. Créditos: Reprodução.

Quatro meses se passaram desde o fechamento das escolas e a suspensão das atividades presenciais. Agora, à medida que governos e instituições de ensino anunciam a retomada das aulas, pais e alunos se sentem mais seguros em crer que nenhum estudante vai perder o ano letivo.

É improvável, no entanto, que as escolas voltem a um cronograma normal. Haverá uma maior carga de aprendizagem online, bem como um uso maior de metodologias ativas de ensino. Em vez de perder o ano letivo, o aluno provavelmente será apresentado a um currículo adaptado, com base na BNCC.

A análise é da ex-secretária de Educação Básica do Ministério da Educação, Katia Smole. Em 2 de julho, ela participou de uma live promovida nas redes sociais pelo portal Desafios da Educação. Katia Smole é doutora em Educação, diretora do grupo de formação e pesquisa Mathema e membro do Movimento pela Base Nacional Comum.

Você pode rever a live no Instagram do Desafios da Educação ou conferir, abaixo, os melhores trechos da entrevista – editada para efeitos de clareza.

 

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Leia mais: Pós-pandemia: quando e como reabrir as escolas

Muitos pais estão apreensivos, achando que o ano letivo está perdido. Mas caminhamos rumo à retomada das aulas presenciais. Como você imagina esse retorno? Para nós, educadores, a ideia de que esse ano não valeu é uma coisa que não cabe. Existem diferentes situações, eu tenho visto o esforço de todo mundo – educadores, gestores, pais e secretários de educação – para não deixar nem um aluno para atrás.

Teremos que cuidar de todos. Vamos ter que atender as questões de aprendizagem, mas também teremos que cuidar das questões emocionais e de saúde. Existe uma lista enorme de coisas que vamos precisar pensar – como acolher as diferenças e fazer avaliações diagnósticas, e com certeza teremos que realizar reposições de conteúdo e ajustes. Mas não se joga um ano letivo no lixo. Ninguém vai perder o ano. Ainda estamos em julho, temos muito tempo pela frente.

Katia Smole.

Há muito tempo falamos sobre a necessidade da educação brasileira se modernizar. A pandemia acelerou isso. O que a nova educação pode ganhar com essa modernização às pressas? Precisamos olhar os dois lados da moeda. Temos muitos desafios, mas também aprendemos muito. Principalmente na relação com a família e com a tecnologia.

A escola está aprendendo a conversar mais com os pais; consequentemente, os pais estão valorizando mais o lugar da escola e dos professores.

Katia Smole

Com relação a tecnologia, jamais aprendemos tanto sobre o poder do vídeo, da aula invertida, da aula distanciada não apenas mediada por tecnologia, mas por boas atividades. Minha sugestão é que a gente registre o que deu certo e o que poderíamos ter feito melhor.

Não se abre mão do ensino presencial, mas a gente vai trabalhar muito mais com uma possibilidade de um ensino mais híbrido. Acredito que não voltaremos a fazer o que fazíamos – porque não somos mais os mesmos.

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Como organizar a rotina do ensino remoto? Não dá para imaginar que será a mesma rotina que o professor tinha na escola. Acho que uma das coisas que precisamos saber é a implementação da sala de aula invertida. Outra coisa é entender que quem está acompanhando os alunos não são professores. É a família.

Como trabalhar o ensino remoto na educação infantil? A educação infantil tem uma vantagem, porque ela não tem um currículo tão focado, como tem o ensino fundamental e médio. Por isso, a volta à sala de aula será mais tranquila, porque você não vai precisar fazer um check-list do que você não trabalhou.

Quais são as novas competências que o professor precisa ter para dar conta dessa nova educação que está surgindo? A Base Nacional de Formação Docente, que foi homologada no ano passado junto com as novas diretrizes curriculares de formação docente, fala exatamente dessas novas competências que o professor precisa desenvolver.

O professor precisa ter conhecimento profissional e pensar no contexto social e estrutural da instituição em que trabalha. Não pode ser apenas uma pessoa que entra na escola, dá uma aula e vai em embora.

Katia Smole

Outra coisa é a prática profissional: o professor descobriu que ele precisa planejar ações de ensino nas mais variadas situações. Além de dominar a tecnologia, entender o ensino híbrido e as metodologias ativas.

Outra competência é o engajamento profissional. Neste momento de pandemia a busca ativa não é uma tarefa somente da gestão ou da secretária de educação, mas também do professor. Então, precisamos de um educador engajado. Tem muita coisa que está fora da alçada, mas o envolvimento e o planejamento das ações contam muito com o docente.

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No atual cenário, quais são os desafios da BNCC? Existe uma expectativa grande de que a gente não desista da BNCC por causa da pandemia. Por isso teremos que fazer uma priorização curricular. Inclusive, o Instituto Reúna está trabalhando com isso.

A gente fez um produto que se chama Mapa de Focos, que são sugestões de como as escolas podem priorizar as aprendizagens. Dessa forma, é possível fazer uma redução dos impactos da implementação que ficará um pouco comprometida na volta à escola.

Katia Smole durante a live do Desafios da Educação.

Katia Smole durante a live do Desafios da Educação.

Você citou a sala de aula invertida. Ela é uma alternativa para o retorno das aulas presenciais? Sim, é uma boa alternativa. Os professores que estão no grupo de risco, por exemplo, não podem voltar à aula presencial. Então, eu posso ter um time dando aulas distanciadas, com aula invertida ou ensino híbrido, e outro time na escola.

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Em seus livros, você estimula o ensino da matemática de uma forma lúdica. Como fazer em isso nesse período de isolamento? Existem muitas possibilidades. No Mathema fizemos uma série de sugestões para a matemática acontecer ludicamente. Que os professores possam produzir tarefas que sejam mais “maker” e menos tela.

As famílias tiveram uma experiência, que não foi incrível, mas a história dos nossos alunos pode ser diferente. Precisamos aproveitar os recursos que estão disponíveis.

Como se reinventar dentro da reinvenção? Ter dúvidas é muito normal. Mas os educadores precisam ter mais do que uma dúvida, precisam ter uma inquietude. Os professores finalmente perceberam que precisam se reinventar. Por muito tempo isso foi adiado, mas pandemia obrigou essa reinvenção. A reinvenção é dar o passo seguinte e ver o que nós podemos aproveitar dentro desse universo digital.

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Adriane Kiperman
Adriane Kiperman é diretora editorial do Grupo A Educação e membro do Conselho Editorial do portal Desafios da Educação e das Revistas Pátio.

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