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Quem foi Maria Firmina dos Reis?

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Neste sábado (11) se comemora o aniversário de Maria Firmina dos Reis,  uma intelectual negra e pioneira – tanto na educação quanto na literatura.

Autora de “Úrsula”, considerado o primeiro romance escrito por uma mulher no Brasil, ela também foi a primeira professora negra concursada do Maranhão e fundou a primeira escola mista para meninos e meninas do estado, ainda em 1880, oito anos antes da promulgação da Lei Áurea.

Apesar de tanto pioneirismo, não há retratos fiéis dessa importante personagem nacional. A história de Maria Firmina é repleta de invisibilidades geradas pelo racismo. A começar pela confusão em torno de sua fisionomia. Por muito tempo, foi confundida com uma escritora gaúcha, Maria Benedita Câmara. Até 2012, seus retratos eram baseados nela.

Assim como Machado de Assis, a autora foi embranquecida em suas representações históricas, como no busto do Museu Histórico do Maranhão e nos registros oficiais da Câmara dos Vereadores de Guimarães. Atualmente, é reconhecida como escritora negra e abolicionista.

Biografia

Filha de Leonor Felipa, escravizada por um comendador da região de São Luiz e posteriormente libertada, ela nasceu em 11 de março de 1822 e faleceu em 1917.

Escultura criada a partir de retrato falado colhido pelo biógrafo da autora. Crédito: Ramses Santos/ Wikimedia Commons

Aos cinco anos, mudou-se da capital para a vila de São José dos Guimarães, também no Maranhão, passando a morar com a avó e depois na casa de uma tia materna, com melhores condições financeiras.

Aos 25 anos concorreu à vaga de professora de primeiras letras da Vila de Guimarães, onde começou a lecionar, passando a ser a primeira professora negra concursada do Maranhão. Com seu salário, se sustentava sozinha, o que era mal visto pela sociedade daquele tempo.

Nessa época a autora já tinha ideais abolicionistas, conforme afirma a professora da Universidade Federal do Maranhão (UFMA) Régia Agostinho da Silva em entrevista à Revista Cult.

Ela destaca que, ao ser aprovada no concurso público, a escritora se recusou a desfilar carregada por pessoas escravizadas. “Na ocasião, Firmina teria dito que escravos não eram bichos para levar pessoas montadas neles”, conta.

Maria Firmina exerceu o magistério por 33 anos. Quando aposentada, fundou a primeira escola mista para meninos e meninas do Maranhão – algo extremamente progressista para a época.

A proposta estava tão à frente de seu tempo que a instituição funcionou por apenas três anos, devido às críticas da comunidade.


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A escritora

Mesmo diante de uma sociedade escravagista, Maria Firmina obteve certo prestígio social. Tanto que foi uma das únicas mulheres a escrever na imprensa da época.

Além disso, “Úrsula” foi o marco inicial do movimento literário afro-brasileiro e representou um passo rumo à abolição – anos antes de “Navio Negreiro”, de Castro Alves, e “A Escrava Isaura”, de Bernardo Guimarães.

O enredo de “Úrsula” trata em primeiro plano da história de amor entre a personagem-título e Tancredo. O conflito da narrativa tem como centro a figura do tio de Úrsula, o Comendador Fernando P., o qual ambiciona casar-se com a sobrinha independente da vontade dela.

Entretanto, costurado ao primeiro plano, há um universo distinto e pouco retratado em toda literatura oitocentista consagrada: a escravização dos africanos.

“É justamente nesse ponto que a narrativa ganha em originalidade e se afasta da bibliografia produzida em sua época. Para construir as personagens negras e escravizadas […] Maria Firmina dos Reis praticamente não tem modelos, já que na tradição brasileira do Romantismo, a qual se formava naquele momento, os africanos e afrodescendentes foram objetivamente invisibilizados em nome da criação de uma identidade brasileira que pudesse espelhar as ambições étnico-nacionalistas da elite pertencente ao centro do campo literário”, afirma a professora Laísa Marra, doutora em Letras, Teoria da Literatura e Literatura Comparada pela Universidade Federal de Minas Gerais, em resenha sobre a obra.

Ela considera admirável que a autora tenha dado corpo e voz a personagens negras e que, além disso, estas sejam representadas como seres humanos: pessoas que têm nome, história e memória. “Pessoas que discutem entre si o sentido de liberdade – conceito este fundamental para as revoluções do século XVIII, bem como para a estética do Romantismo”, explica a especialista.

Além do primeiro romance escrito por uma mulher no Brasil, Maria Firmina publicou outros livros, entre os quais se destacam “Gupeva” (1861), “A Escrava” (1887) e a coletânea de poesias “Cantos à Beira-Mar” (1871).


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Redação
A redação do portal Desafios da Educação é formada por jornalistas, educadores e especialistas em ensino básico e superior.

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