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Learning analytics: o poder dos dados na instituição de ensino superior

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Alunos da Lewis & Clark: learning analytics fornecem aos gestores informações que subsidiam melhorias na IES. Crédito: divulgação.

A Lewis & Clark Community College está localizada em Illinois, Estados Unidos. A faculdade comunitária começou sua operação na década de 1970, com 450 alunos, e hoje conta com aproximadamente 20 mil. Ao longo desse período, a instituição se destacou com iniciativas sustentáveis, sociais e de educação para a comunidade.

Alguns anos atrás, porém, a empresa percebeu um número crescente de alunos abandonando a faculdade. Os gestores passaram a se reunir com maior frequência, na esperança de encontrar uma solução rápida e assertiva. A opção, por fim, foi recorrer às ferramentas disponíveis no ambiente virtual de aprendizagem (LMS, na sigla em inglês), um dos preceitos do learning analytics.

O gerenciamento massivo de dados permite às instituições de ensino superior (IES) conhecer melhor os hábitos, as preferências e o desempenho de estudantes e professores. Esse levantamento dá o subsídio necessário para a empresa rever métodos de aprendizagem, otimizar avaliações e decisões corporativas.

No caso da Lewis & Clark, o learning analytics disponível na plataforma Blackboard possibilitou a criação de um painel de desempenho e soluções. Com a ferramenta, foi possível que a IES identificasse quantos estudantes deixaram de acessar o sistema – um dos principais sinais de evasão. A partir disso, a empresa refez sua estratégia institucional (leia o caso completo neste link). Em apenas três semestres, a instituição aumentou em 17% o índice de retenção e incrementou mais de US$ 700 mil em receita.

A virada no negócio através da adoção de novas tecnologias serve de inspiração ao Brasil. Afinal, 80 mil alunos deixaram de ingressar nas universidades privadas brasileiras no primeiro semestre de 2018, conforme uma pesquisa do Sindicato das Entidades Mantenedoras de Estabelecimentos de Ensino Superior no Estado de São Paulo (Semesp). O volume representa queda de 5% nas novas matrículas, ante o mesmo período de 2017 – e de 20% no acumulado desde 2015. Já o número total de matrículas (incluindo calouros e rematriculados) caiu 1,6% no primeiro semestre de 2018, em comparação ao mesmo período do ano anterior.

Leia mais: Captação de alunos: as estratégias para diferenciar sua IES

Para Phill Miller, vice-presidente de Ensino e Aprendizagem da Blackboard, faculdades e universidades que queiram recuperar o índice de captação e de retenção de alunos precisam manter um alto nível acadêmico e criar experiências inovadoras. Não só para dar a volta por cima – como na Lewis & Clark –, mas sobretudo para manter a competitividade no mercado. Investir em tecnologia, segundo ele, é fundamental. “É o que permite um entendimento profundo dos processos de ensino e aprendizado”, diz.

Acompanhamento em tempo real

Foi o que fez a Escola Superior de Administração, Marketing e Comunicação (Esamc) na unidade de Uberlândia, interior de Minas Gerais. O objetivo da IES é usar a tecnologia para atingir a excelência em ensino e aprendizado e, assim, ganhar mais competitividade. Uma das principais ações da empresa consistiu na criação de uma campanha que reforçou, entre seus 150 professores, o uso do LMS.Esamc, em Uberlândia (Foto: Divulgação)

“Utilizamos o sistema principalmente para desenvolver o método da sala de aula invertida, que é uma das nossas grandes estratégias”, explica Adriano Novaes, diretor da Esamc em Uberlândia. Na sala de aula invertida – flipped classroom, em inglês –, boa parte das tarefas tradicionalmente realizadas pelo estudante em sala de aula são transferidas para casa. O aluno estuda por meio de vídeo-aula, jogos, apostilas, manuais interativos e diversos outros materiais disponibilizados no LMS.

Além de turbinar a experiência acadêmica, a campanha permitiu que docentes e gestores acompanhassem em tempo real o desempenho dos 3.500 alunos de Uberlândia. Esse processo de learning analytics possibilitou que a Esamc identificasse, por exemplo, um aumento de 2 mil horas por semestre no uso do LMS, o que indica certo sucesso com o modelo de sala de aula invertida. A empresa também notou uma ligação intrínseca entre o tempo despendido pelo aluno na plataforma e a sua nota. “Os estudantes com tempo médio maior geralmente são os que têm avaliações melhores”, diz o diretor do Esamc.

Leia mais: A inteligência artificial e seu impacto transformador na educação

Antes do investimento, atenção

Adriano Novaes alerta que learning analytics via LMS deve ser pensado estrategicamente no projeto pedagógico da instituição de ensino superior. É que muitos gestores investem na plataforma concentrado na experiência de outras IES, sem considerar que a sua possui idiossincrasias diferentes das demais. O risco, nesse caso, é o de acabar mensurando dados imprecisos e irrelevantes, quando os indicadores, métricas e avaliações servem justamente para o oposto.

Segundo Pavlos Dias, gerente nacional da Blackboard (na foto abaixo), outro grande erro das universidades na adoção do ambiente virtual de aprendizagem é olhá-lo como algo definitivo e imutável. “A primeira rodada, após o LMS ser colocado em prática, nunca vai ser como imaginávamos”, diz. “O mais importante é que o projeto tenha uma discussão rápida, em que revisamos os indicadores e os objetivos para, assim, mirarmos um resultado mais assertivo.”

Pavlos Dias, gerente nacional da Blackboard (Foto: Divulgação)

A Universidade Positivo, de Curitiba, obteve os resultados almejados somente após três anos de learning analytics. “Hoje, depois de avaliar os indicadores de desempenho do ambiente virtual de aprendizagem, conseguimos formar quadrantes de alunos de acordo com seu entendimento e prestar melhor assistência de ensino”, explica Carlos Longo, pró-reitor acadêmico da universidade.

A Concordia University, de Wisconsin (EUA), também usou a ferramenta de inteligência do LMS para reprojetar e otimizar a abordagem acadêmica de forma mais personalizada. Segundo Elizabeth Polzin, vice-presidente de assistência acadêmica da instituição, as ferramentas de análise permitiram à IES criar e planejar melhor a assistência, principalmente aos estudantes em risco. Em apenas um ano, a taxa de retenção da universidade, que era de 72%, pulou para 82%, como mostra uma reportagem da revista E-learn.

No caso da Positivo, Longo diz que até 2022 quer fazer da universidade um ambiente de ensino totalmente híbrido. Para isso, todos os currículos, planos de ensino e professores estão voltados para o trabalho com o ambiente virtual de aprendizagem. Atualmente, dos 62 cursos de graduação oferecidos pela IES, 16 estão inseridos no modelo. Até 2019, serão 32.

Leia mais: 6 dicas para a IES acertar na escolha do LMS

Redação
A redação do portal Desafios da Educação é formada por jornalistas, educadores e especialistas em ensino básico e superior.

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