Atualmente, mais de 4 milhões de alunos estudam fora do seu país de origem, segundo dados da Organização das Nações Unidas (ONU). E a estimativa é de que, até 2025, esse número chegue a 8 milhões.
Aqui, o aumento foi de 23% em 2017, na comparação com o ano anterior, totalizando 302 mil estudantes brasileiros fora do país. O número é da Associação Brasileira de Agências de Intercâmbio (Belta).
Esse crescimento, entretanto, não foi alavancado pelas IES privadas. A maior parte dos calouros, tanto os brasileiros que saem do país quanto os estrangeiros que chegam por aqui, têm vínculo com as universidades estatais.
Em 2017, uma pesquisa da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), do Ministério da Educação (MEC), consultou 320 IES brasileiras sobre o tema e evidenciou o gargalo da internacionalização no setor de ensino privado. Do total, 225 entidades se consideraram pouco ou nada internacionalizadas.
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Além disso, 84% afirmaram ter condições de receber visitantes, mas 64% delas não possuíam um plano estratégico para isso.
Internacionalização como estratégia
Segundo Aldo Bona, reitor da Universidade Estadual do Centro-Oeste (Unicentro) e presidente da Associação Brasileira dos Reitores das Universidades Estaduais e Municipais (Abruem), a internacionalização pode ser um meio para as IES auferirem maior qualidade de ensino. Os motivos seriam a projeção internacional e o enraizamento de valores importantes, como a colaboração.
A saída para melhorar o quadro é a elaboração de programas e políticas que possibilitem uma maior inserção das IES em redes globais e sistemas educacionais integrados.
“Muitos países estão questionando o modelo de mobilidade estudantil em larga escala e passando a pensar como outras formas de colaboração internacional, com melhor custo-benefício, podem ser implementadas”, diz Diana Daste, gerente sênior de Projetos de Educação Superior e Fundo Newton do British Council, uma organização internacional do Reino Unido voltada para relações culturais e oportunidades educacionais.
No Brasil, a mobilidade ativa foi o primeiro item a compor as estratégias de internacionalização das IES. E o seu escopo vai muito além do envio de estudantes e acadêmicos para universidades de outros países.
Criar um diálogo competitivo entre universidades, estabelecer redes de conhecimento, produzir talentos e gerar pesquisas direcionadas ao desenvolvimento regional e nacional estão entre os propósitos estratégicos.
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Fatores como esses fortalecem projetos e ampliam a divulgação das IES, levando a um maior número de citações e colocando as entidades em posições de relevância.
Em países como os Estados Unidos e o Reino Unido, a prática já é rotina. Isso porque as IES de lá dependem financeiramente das mensalidades pagas pelos alunos. Então, quanto mais relevante a instituição for em termos globais, mais estudantes nacionais e estrangeiros irão procurá-la para cursos regulares ou outros programas.
Cenário nacional
Por aqui, a Capes e o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) são os responsáveis por incentivar os processos de internacionalização, principalmente em programas de pós-graduação.
Desde o ano passado, a Capes passou a adotar como critério avaliativo o número de internacionalização das IES. Assim, muitas delas ampliaram seus investimentos para o intercâmbio de professores, estudantes e pesquisadores.
E ainda que esses processos estejam mais adiantados nas instituições públicas, o desejo por colaboração global e intercâmbio acadêmico tem feito algumas IES privadas acelerarem a girada de chave.
Um exemplo disso é o programa American Academy, da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR), que oferece diplomação tanto no Brasil quantos nos Estados Unidos.
O projeto é uma parceria com a Universidade de Kent, em Ohio, e segue o modelo norte-americano de liberal arts. Ou seja, o estudante se candidata a uma vaga na universidade – e não em um curso específico. Se aprovado, ele poderá experimentar conteúdos de diversas áreas até definir qual será a sua graduação.
Na PUC-PR, o aluno tem acesso a aulas ministradas por professores da Kent State até a metade do curso. É quando ele escolhe se deseja concluir a graduação aqui ou nos EUA. Dependendo da opção, o discente poderá receber o diploma das duas instituições.
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Passaporte para o mercado de trabalho
“Em geral, as empresas veem as pessoas que têm diploma internacional de forma diferente. Entendem que esse aluno possui uma visão de mundo e uma competência de interculturalidade e entendimento de problemas de forma mais ampla”, diz Paulo Mussi, coordenador do American Academy.
Segundo ele, o diploma internacional abre um leque de possibilidades que não é possível quando o aluno fica restrito apenas a uma visão nacional. O contato com professores e estudantes estrangeiros também pode abrir portas, pois cria uma rede de networking internacional que propicia oportunidades além das encontradas aqui.
O crescimento das empresas transnacionais tem aumentado a procura por profissionais qualificados para atuar em projetos de âmbito global. Dominar o idioma inglês e ter uma formação multicultural podem ser elementos-chave nos processos seletivos para essas vagas.
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O Google, empresa dos sonhos de muitos jovens profissionais brasileiros, é famoso por suas seleções que exigem a resolução de situações práticas, avaliadas por uma equipe de recrutadores. Lá, as ideias inovadoras e a experiências de vida têm um maior peso entre os critérios de escolha.
Outra empresa com perfil semelhante é a EBANX, fintech voltada para pagamentos digitais, com foco no mercado global. Ela exige domínio de pelo menos dois idiomas para todas as posições – e o português entra na lista.
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