Ensino Básico

Por que a falta de sono afeta a aprendizagem dos mais jovens

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As escolas da Califórnia (EUA) têm até o próximo mês de julho para se adequarem à legislação que estabelece o início das aulas matutinas em horários pouco convencionais. Instituições de ensino médio não começarão antes das 8h30. Já as aulas para escolas do equivalente ao fundamental 2 não começarão antes das 8h.  

A lei é uma forma de melhorar as taxas de frequência e reduzir o atraso. Mas também para respeitar o relógio biológico de crianças e adolescentes. É que, devido a fatores fisiológicos decorrentes da puberdade, os jovens têm uma necessidade maior de sono. Segundo a Academia Americana de Medicina do Sono, “adolescentes de 13 a 18 anos devem dormir cerca de 8 a 10 horas a cada 24 horas”. Considerando que os alunos têm aulas 5 dias por semana, eles simplesmente não dormem o suficiente para se sustentarem.  

Os jovens precisam dormir mais porque a melatonina – hormônio do sono desenvolvido de forma crescente quando a noite cai – é liberada com um delay de até duas horas em comparação com um adulto normal. Além disso, eles mostram maior resistência à adenosina, o hormônio que queima energia pelo corpo durante o dia – e que produz a sensação de cansaço.  

Leia mais : Aulas matutinas: vale a pena começar mais tarde? 

“Em razão de fatores como esses, os adolescentes naturalmente deslocam seu período de sono para mais tarde”, explica a neurologista infantil Leticia Soster, especialista em medicina do sono. 

Considere esse processo biológico junto ao uso excessivo de telas, e os adolescentes têm um problema ainda maior para gerir. Dormindo tarde e acordando cedo demais, os adolescentes ficam mais lentos, prejudicando o desempenho escolar. “A primeira coisa que se altera em uma pessoa que não dorme bem é o humor. Também há uma falha no desempenho cognitivo, limitando o raciocínio, memória, entre outras coisas”, ressalta Soster. 

De acordo com o médico Eric Kandel, ganhador do Nobel de Medicina em 2000 em razão dos estudos sobre a memória, o sono é um “estado altamente organizado, gerado pela ação cooperativa de muitos componentes comportamentais e neurais”.  

Além da Califórnia, outras regiões dos Estados Unidos alteraram o horário escolar para promover uma noite de sono mais agradável aos jovens, como Nova Jersey e Jessamine, no Kentucky.   

Leia mais: O impacto do sono (ou da falta dele) no processo de aprendizagem  

Enquanto isso, no Brasil…  

É difícil comparar a realidade americana com a de outros países, como o Brasil. São realidades completamente diferentes. Portanto, é necessária uma reflexão intensa sobre tal possibilidade. Nos Estados Unidos, muitos fatores oportunizam a perspectiva de as aulas começarem mais tarde, como moradias próximas as instituições de ensino, melhores transportes escolares etc.   

No Brasil, muitos jovens estudam em escolas longe de casa. Isso as obriga a acordarem ainda mais cedo – isso sem falar do déficit em transporte escolar. O horário que os pais saem do trabalho é outro aspecto a ser levado em consideração. Ou seja, diversas mudanças seriam necessárias para que a medida fosse compatível com o contexto brasileiro. 

Contudo, existem discussões locais sobre o tema, especialmente no pós-pandemia. A crise sanitária acarretou em inúmeros problemas na saúde mental dos adolescentes. Em contrapartida, o sono foi beneficiado pelo isolamento social. Isso porque tanto as crianças quanto os adolescentes tiveram a oportunidade de acordarem mais tarde, pulando a etapa do deslocamento à escola.  

“Pode-se dizer que houve um paradoxo: as condições psicológicas pioraram durante o isolamento, mas o sono melhorou “, afirma a bióloga Claudia Moreno, especialista em cronobiologia. 

Leia mais: Crise de ansiedade em escola de Recife reacende debate sobre saúde mental dos estudantes 

Como conciliar o sono com estudos e trabalho 

Quando os adolescentes entram na fase adulta, muitos se deparam com uma perturbação adicional no sono: a falta de equilíbrio entre trabalho e estudo. Grande parte dos universitários lidam com essa dificuldade diariamente. 

Todos os pontos que dificultam a aprendizagem de alunos no ensino médio também podem ser vistos em estudantes do ensino superior. Problemas cognitivos, como falta de memória e atenção, juntamente com um humor prejudicado, afetam o cotidiano do discente. 

Daí que a especialista Letícia Soster chama atenção para a higiene do sono. “Precisamos nos conhecer, conhecer a nossa necessidade de sono e respeitá-la. Devemos priorizar o sono. Ao chegar em casa, não ligue o celular, não fique em frente a telas. Se você já tem um estilo de vida que te impede de dormir adequadamente, não roube mais o seu sono.”  

Leia mais: Pandemia muda comportamento dos universitários 

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