Há muitas instituições de ensino que, neste momento, estão reinventando a roda: desenvolvem projetos “inovadores” que, na verdade, já foram criados por outras escolas. A redundância poderia ser evitada se as experiências fossem devidamente documentadas e de fácil acesso. Mas o Brasil ainda peca nesse sentido.
Para tentar preencher a lacuna, Paulo Blikstein, professor assistente na Escola de Educação da Universidade de Stanford, junto a Flávio Rodrigues Campos, consultor pedagógico do grupo de Educação da Gerência de Desenvolvimento do SENAC-SP, recentemente lançaram Inovações Radicais na Educação Brasileira (2019, Editora Penso).
Publicado dentro da série Tecnologia e Inovação na Educação Brasileira, o livro reúne relatos que abordam experiências em diferentes etapas – do ensino básico, passando pelo profissionalizante, até o superior – presencial e a distância.
Acadêmicos, professores e alunos
O que os cases do livro têm em comum? Todos implementaram práticas radicalmente inovadoras. Isto é, promoveram uma transformação profunda no setor, como a supressão completa do currículo estruturado por disciplinas, da seriação por idade, da divisão física do ambiente escolar e da aplicação de avaliações.
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Outros exemplos mostram o desenvolvimento de um método democrático de construção do currículo. Nesse processo, os alunos participam da definição da grade, e há, ainda, a inclusão de conteúdos não tradicionais.
Estudantes e docentes, aliás, participam do livro em colaboração – descrevem, juntos, o impacto das ações nos processos de ensino e aprendizagem. “A participação deles, e não só de acadêmicos, também é uma inovação”, afirma Blikstein.
Com essa diversidade, os organizadores esperam que o livro circule não apenas no meio acadêmico, mas que também inspire qualquer interessado em desenvolver práticas educacionais inovadoras – pesquisadores, professores, estudantes, gestores e entes do poder público.
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O que é inovação?
Essa é uma discussão levantada pelos organizadores. Segundo eles, fala-se cada vez mais sobre inovar em sala de aula. O problema é que, na maioria das vezes, as experiências são superficiais ou oriundas de outros países, que, na maioria das vezes, tem uma realidade muito distinta da brasileira.
A consequência é um cenário com pouca solidez teórica e metodológica que justifique investimentos públicos. “Para fazer inovação sustentada e ir além da inovação de bordão, precisamos de documentação da inovação, saber quem são os professores que a implementam e os acadêmicos que a estudam há décadas”, diz Blikstein.
Os organizadores de Inovações Radicais na Educação Brasileira defendem que os estudantes tenham controle da própria aprendizagem. O curso técnico Profissional em Agroecologia, ministrado pelo Serviço de Tecnologia Alternativa (Serta), de Pernambuco, é um exemplo disso.
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No Serta, a formação vai além da sala de aula. Como o cerne do curso é a interação entre as disciplinas e os saberes populares, as aulas exploram os conceitos da pedagogia da alternância em uma visão sistêmica e integrada do conhecimento.
Os programas da instituição são voltados para a capacitação de agricultores familiares, educadores do campo, gestores públicos, lideranças e jovens. Os participantes fazem o curso justamente com o intuito de se apropriar de questões relativas às suas propriedades e à comunidade em que estão inseridos. E esse é o segredo do sucesso.
A análise apresentada pelos coordenadores do projeto mostra que o envolvimento e a interação dos alunos no curso do Serta se dá justamente pela confluência entre teoria e prática. Dessa maneira, eles dialogam com as necessidades da sociedade do conhecimento, interagem com suas realidades e desenvolvem ações para transformar as circunstâncias apresentadas.
“Devido à concepção sistêmica desenvolvida no processo de ensino e aprendizagem, eles não foram objetos dos processos metodológicos conduzidos pelos professores, mas atores e sujeitos da sua própria construção do conhecimento”, afirma Flávio Campos.
Transformação semelhante ocorreu com alunos de 8 e 9 anos de idade da Escola Lourenço Castanho, em São Paulo. Eles elaboraram dois projetos com o tema ‘tecnologias aplicadas à sustentabilidade’ para ajudar na solução da crise hídrica pela qual o estado de São Paulo passou em 2015.
Um deles foi a montagem de uma cisterna no pátio da escola para captação da água da chuva. O outro foi um plano de instalação de placas fotovoltaicas nos telhados da instituição, utilizando a captação de luz solar para a geração de energia elétrica. As iniciativas foram batizadas de Cata-Chuva e Cata-Sol.
O Maker Space (Laboratório de Criação) da escola, segundo os coordenadores, serviu para a compreender os impactos causados ao meio ambiente e propor intervenções práticas para sua preservação.
Os dois casos aqui apresentados são apenas um esboço das referências presentes no Inovações Radicais na Educação Brasileira. Clique para baixar um trecho gratuito do livro.
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