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Anuário Brasileiro da Educação Básica aponta os principais desafios do setor

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Dos alunos pretos e pardos, cerca de 62% estão matriculados no ensino médio. A taxa sobre para 75,7% entre os alunos declarados brancos. Crédito: Visual Hunt.

Atualmente, 1,5 milhão de brasileiros com idade entre 15 e 17 anos estão fora do sistema educacional. Além disso, cerca de 11,2% dos jovens que ingressam no Ensino Médio não concluem o curso. A evasão, porém, não é o único problema dessa faixa de formação. Quem fica em sala de aula também apresenta dificuldades. A cada 100 estudantes que finalizaram o Ensino Médio, apenas 27 têm aprendizagem adequada em português.

Em matemática, esse número cai para sete. Os dados integram o 7º Anuário Brasileiro da Educação Básica e evidenciam algumas das principais carências da educação brasileira. A pesquisa, coordenada pela ONG Todos Pela Educação, foi publicada em agosto pela Editora Moderna.

O estudo foi baseado na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNADC), organizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), e em indicadores do Ministério da Educação (MEC). Entre outros gargalos, o trabalho demonstra como as diferenças no aprendizado, na renda e no acesso à escola impossibilitam a amplo ingresso ao Ensino Superior.

Segundo o Anuário, 57,3% dos alunos que integram a camada de renda mais baixa no Brasil estão cursando o Ensino Médio. Entre os mais ricos, a taxa é de 91,1%. A cor da pele também é um fator de influência. Quase 76% dos alunos declarados brancos estão matriculados no Ensino Médio. Já entre os estudantes pretos e pardos, o percentual cai para 62%.

Reflexos nocivos

Nessa toada, menos da metade da população brasileira com idade entre 18 e 24 anos consegue entrar na universidade. “O restante ingressa no mercado sem as competências exigidas. A competitividade do país acaba sendo abalada, em razão da baixa qualidade da mão de obra”, alerta Rafael Lucchesi, diretor do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai), em artigo publicado no Anuário.

Outro reflexo desse entrave é a desigualdade salarial. De acordo com a Fundação Getúlio Vargas (FGV), cada ano de estudo representa um aumento médio de 12% na renda do trabalhador. O diploma superior, porém, faz o índice saltar. Entre os profissionais graduados, o acréscimo nos vencimentos atinge 36%.

Com um sistema educativo “frágil”, os efeitos da desproporcionalidade no acesso à educação são sentidos em outras áreas. Cerca de 77% da população crê que a violência aumenta à medida que a qualidade do ensino brasileiro cai. Do mesmo modo, 60% dos brasileiros consideram os problemas estruturais do ensino como uma das raízes da corrupção. Ambos os dados constam numa pesquisa feita pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), em parceria com o Todos Pela Educação.

Diante desse cenário, a solução para fortalecer a educação passa pela criação de políticas que promovam a equidade desde o acesso ao Ensino Básico até a pós-graduação. Outra medida importante são as parcerias entre escolas técnicas, IES e mercado de trabalho. A Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), de Porto Alegre, tem um programa nessa linha.

Chamada de Service Learning, a iniciativa permite que graduandos de 52 cursos elaborem projetos inovadores sob a supervisão de representantes de mais de 100 empresas. Ações desse tipo facilitam a aproximação dos jovens com o mercado de trabalho, estimulando a competitividade e a criatividade na prática.

O incentivo à pesquisa é outra carência do setor educacional. Segundo o Anuário, apesar de se manter entre os 15 países com maior volume de publicações científicas, o Brasil precisa ampliar o desenvolvimento de estudos em tecnologia e inovação. Essa produção não só impulsiona o crescimento da economia, como garante a inovação dentro da sala de aula.

“Os avanços tecnológicos nos trazem novos desafios, mas também abrem oportunidades para a implementação de estratégias mais eficientes para aprimorar conceitos, práticas e ferramentas educacionais”, afirma Roseli de Deus Lopes, professora associada da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP) e coordenadora geral da Feira Brasileira de Ciências e Engenharia (Febrace), em artigo publicado no Anuário.

Segundo ela, as estratégias de inovação no ensino só irão funcionar se a cultura e a mentalidade dos envolvidos no processo educacional forem transformadas. “É preciso fomentar a cultura científica e tecnológica, induzir uma mentalidade positiva, criativa e inovadora”, resume.

Leia mais: Jo Boaler: alunos com mentalidade progressiva são melhores nos estudos

Redação
A redação do portal Desafios da Educação é formada por jornalistas, educadores e especialistas em ensino básico e superior.

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