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Alunos do 3° ano querem adiar a faculdade. Saiba o impacto desse movimento nas IES

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O efeito da pandemia na educação brasileira ainda não foi totalmente medido. No começo de agosto, ainda era difícil calcular os prejuízos sociais e emocionais, bem como de aprendizagem, causado pelo fechamento prolongado das instituições de ensino. Mas é possível observar certas tendências. Alguns estudantes do ensino médio, por exemplo, cogitam adiar a entrada na faculdade – e, inclusive, não se submeter ao Enem.

É o que mostrou um levantamento feito pela consultoria Educa Insights, em parceria com a Associação Mantenedora de Ensino Superior (Abmes). O estudo, realizado em maio, aponta que 52% dos 963 entrevistados não pretendem fazer o próximo Exame Nacional do Ensino Médio – agendado para os dias 17 e 24 de janeiro de 2021.

O atraso no Enem fará com que as notas sejam divulgadas apenas no fim de março do próximo ano. Segundo a Educa Insights, isso compromete o ingresso de até 2,5 milhões de alunos no ensino superior privado em 2021. O que gera preocupação no setor.

“No ano passado, 21% das matrículas foram feitas antes da divulgação das notas do Enem e 79% após a publicação”, disse Daniel Infante, sócio da Educa Insights, ao jornal Valor Econômico.

Aluna Giovana Lencioni estudando em casa. Ela decidiu adiar a faculdade para 2022. Crédito: Arquivo pessoal.

Aluna Giovana Lencioni estudando em casa. Ela decidiu adiar a faculdade para 2022. Crédito: Arquivo pessoal.

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Veja o caso da estudante Giovana Lencioni. Ela acha que 2020 é um ano perdido. “Eu estava muito focada [para o Enem] no começo do ano, me esforçando muito, mas a quarentena quebrou o meu ritmo de estudo”, comenta Giovana, de 17 anos, ao portal Desafios da Educação.

Como milhares de estudantes no país, Giovana estuda em casa desde o início da quarentena. Ela considera “boas” as aulas remotas, mas seu aproveitamento está bem abaixo do normal. “Não consigo me concentrar, não tenho ânimo”, admite ela, que cursa o 3º ano do ensino médio em uma escola da capital paulista.

A dificuldade prejudicou sua preparação para o vestibular. Antes do isolamento, o objetivo de Giovana era fazer o Enem para conseguir uma bolsa de estudos ou desconto em alguma faculdade privada. Agora, ela não descarta que a entrada no tão sonhado curso de Publicidade e Propaganda tenha que esperar um pouco mais.

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Falta de acessibilidade

Uma pesquisa do Conselho Nacional de Juventude, divulgada em junho, mostrou que 30% dos estudantes de 15 a 29 anos pensam em sair da escola. O estudo também revelou que 49% dos que planejam fazer o Enem pensaram em desistir da prova.

A pesquisa ouviu 33 mil jovens em todo o país. Entre outras descobertas, identificou que sete em cada 10 estudantes afirma que seu estado emocional piorou durante a pandemia. Segundo o estudo, 34% dos jovens são pessimistas em relação ao futuro.

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O pensamento de adiar a faculdade percorre quilômetros e atinge jovens de todas regiões do Brasil. É o caso de Vitória Canhete de Jesus, moradora de Vilhena (RO), e Andrey de Goes, de Rolim de Moura (RO). Ambos alunos do 3º ano, eles decidiram não ingressar no ensino superior em 2021.

“Não vou entrar na faculdade porque deixei para estudar [para o Enem] no próximo ano”, afirma Vitória, de 16 anos. Ela desistiu da prova porque não conseguia se preparar adequadamente. A razão? Vitória não tinha internet em casa até o mês de junho. Agora, tem pilha de tarefas acumuladas da escola.

Vitória é aluna da escola estadual Shirlei Ceruti, que aderiu ao ensino remoto emergencial. Ela também diz se sentir insegura e preocupada com os seus estudos. “Eu estou no 3°ano, então a única coisa que eu queria era terminar os meus estudos, mas está difícil”, desabafa.

Andrey, 17 anos, conta que a quarentena foi um balde de água fria no seu aprendizado. “Eu esperava que esse ano seria o auge dos meus estudos, pelo fato de ser o último, mas fiquei um pouco desanimado”, diz.

Andrey está se preparando para o Enem em casa, mas enfrenta dificuldades para estudar em casa. “Como não tenho computador, estudo pelos livros do Agora Vai Enem”, conta. O Agora Vai Enem é um projeto criado pela secretaria de educação do estado de Rondônia que disponibiliza conteúdo para os alunos da rede pública estudarem para a prova.

Apesar do recurso, a preparação de Andrey nos estudos têm sido “bem confusos”. Por isso, decidiu adiar a faculdade. Ele promete usar o ano de 2021 para se preparar para o exame.

Leia mais: Estudantes de baixa renda são os mais prejudicados na quarentena

A desistência do Enem e o consequente adiamento da entrada no ensino superior pode ocasionar mudanças nas IES. Crédito: Reprodução/EBC.

A desistência do Enem e o consequente adiamento da entrada no ensino superior pode ocasionar mudanças nas IES. Crédito: Reprodução/EBC.

O impacto nas faculdades

O Enem é uma das principais portas de entrada para o ensino superior. A pontuação obtida na prova permite que os alunos pleiteiem bolsa de estudos, através do Sisu e do Prouni, bem como o Fies e descontos nas próprias instituições de ensino superior (IES).

Segundo pesquisa da Educa Insights, divulgada no fim de julho, 76% dos entrevistados farão o próximo Enem exclusivamente para obter desconto na faculdade. Nove por cento fará a prova com o objetivo de conquistar uma bolsa no Prouni.

Mas a desistência do Enem, também observada pela consultoria, e o consequente adiamento da entrada no ensino superior pode ocasionar mudanças nas IES. “A expectativa é que decresça o número de entradas no presencial nos próximos dois ou três anos”, diz Infante.

Para ele, a procura pela educação a distância deve aumentar nos próximos meses. E as instituições de ensino precisam estar preparadas para a demanda. “A expectativa é que nesses anos [2020 e 2021] a gente tenha mais entrantes de EAD do que de cursos presenciais.”

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Redação
A redação do portal Desafios da Educação é formada por jornalistas, educadores e especialistas em ensino básico e superior.

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