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Quais são os futuros da educação brasileira?

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Vivemos um cenário de incertezas: um planeta em risco, retrocessos democráticos e a indefinição do papel das tecnologias na empregabilidade futura. Nos últimos três anos, registramos mais de 3 mil notícias com termos como “inimaginável” e “impensável” refletindo nossa despreparação diante da pandemia, colapsos em sistemas de saúde, desaparecimento de empregos, fechamentos de fronteiras, lockdowns, eventos climáticos extremos, campanhas de desinformação e poluição tóxica. Até mesmo prédios erodidos por condições climáticas extremas já são realidade.

Diante dessas policrises, como antecipar e oferecer uma educação verdadeiramente significativa e impactante? A recorrência do “inimaginável” e “impensável” mostra o quão desprevenidos estamos. Esta coluna, Futuros da Educação, visa tornar-nos mais intencionais na construção dos futuros educacionais. Promoverei provocações direcionadas a gestores, professores, líderes governamentais e empresariais para reimaginar juntos os futuros da educação. ENSINAR O FUTURO É URGENTE!

Em um mundo fixado no curto prazo — limitado a cenários econômicos e políticos — surge um novo paradigma: o dos pensadores de futuros antecipatórios. Com mais de 9 milhões de jovens fora da sala de aula no Brasil e uma crise climática ameaçando nossa existência, o papel dos educadores nunca foi tão crucial. Educação de qualidade é mais que um direito – é a chave para construir um futuro sustentável e responder aos desafios mais urgentes de nosso tempo.

É evidente que não estamos resolvendo os problemas da educação brasileira nem cumprindo nossas promessas de futuros mais pacíficos, justos e sustentáveis.

Para ter em mente:

  • Desempenho no PISA: O Brasil está entre as últimas posições em leitura, matemática e ciências, com desempenho estagnado há anos.
  • Taxa de Analfabetismo: A taxa de analfabetismo permanece alta, especialmente entre populações marginalizadas.
  • Evasão Escolar: O Brasil ainda enfrenta um alto índice de evasão escolar, principalmente no ensino médio.
  • Desigualdade no Acesso à Educação: Grandes disparidades persistem no desempenho entre diferentes regiões, classes sociais e grupos raciais/étnicos.

Mais mais: Coluna Impactando a Educação Políticas públicas como fundamento de transformação

Embora tenhamos avançado em áreas como a escolaridade e a educação infantil, os problemas estruturais da educação brasileira persistem, impedindo o cumprimento das promessas de um futuro mais pacífico, justo e sustentável.

Muitas escolas e universidades carecem de infraestrutura adequada, como laboratórios, bibliotecas e salas de aula em boas condições. A formação de professores é insuficiente, com muitos não recebendo formação continuada adequada. Além disso, a violência nas escolas prejudica o aprendizado e o bem-estar dos alunos.

Precisamos empoderar as novas gerações a pensar, imaginar e co-criar futuros mais esperançosos para si e para o planeta. Incorporar os estudos de futuros na educação prepara os jovens para interpretar, compreender e atuar em um mundo em constante transformação, tornando-os protagonistas na construção desses futuros.

Futuro Colonizado, Imaginado ou Desejado

Futuro colonizado, desejado ou imaginado são algumas construções mentais do que poderá acontecer no futuro. São baseados em suposições e projeções de tendências atuais. De modo geral, quando imaginamos o futuro, surgem imagens mentais criadas pelas produções midiáticas. Quer ver um exemplo?

Os Jetsons, de 1962, criado pelo estúdio Hanna-Barbera, foi pensado como uma versão futurista dos Flintstones. Enquanto a proposta dos Flintstones era mostrar a vida em uma idade da pedra ficcional, os Jetsons viviam no futuro em 2062. Mesmo não sendo um exercício sério de futurologia, e sim uma comédia infantil, é frequentemente citado pela capacidade de “prever” o futuro com ideias sobre telemedicina, smartwatches, videochamadas e outros avanços.

Fonte: Jetsons/ Hanna-Barbera

Mas pense bem: todas as ideias que os criadores imaginaram não foram necessariamente capazes de influenciar o que temos hoje. Será que foi previsão ou influência? As pessoas costumam dizer que eles são visionários, mas será que as imagens de objetos criadas por este desenho realmente influenciaram os objetos do presente, colonizando nossa ideia de futuro?

O futuro colonizado pode gerar a ideia equivocada de que estamos fadados a viver uma realidade predeterminada, sobretudo em um mundo cada vez mais ambíguo, acelerado e imprevisível. Por vezes, esquecemos que o criador disso tudo é o próprio ser humano, devido à sua mentalidade criativa.

Já o futuro desejado é a visão idealizada de um futuro melhor, que deve ser construído por meio de ações e transformações. É uma visão motivadora e inspiradora que direciona decisões e planos para alcançar esse futuro. Enquanto o futuro imaginado pode ser visto como uma previsão do que pode ocorrer, o futuro desejado é uma aspiração para o que gostaríamos de ver realizado.

É essencial entender que, de acordo com Mark W. Johnson e Josh Suskewicz na obra “Lead from the Future”, não é apenas o presente que molda os futuros, mas os futuros também moldam o presente. Ao visualizarmos os futuros desejados, ajustamos nossas ações no presente para tentar realizá-los, influenciando assim a construção dos futuros que realmente buscamos. Quais são os futuros que você almeja para a educação? Como suas ações hoje podem transformar esses futuros em realidade?

Quando se afirma que o futuro é incerto, não significa que não somos capazes de realizar projeções. Na verdade, isso é completamente possível. O problema é que não estamos sendo capazes de imaginá-lo juntos. E aí fica o desafio para os professores e gestores das IES: se não formos capazes de imaginar coletivamente os futuros que queremos, como seremos capazes de criá-los? Futuros melhores não são apenas desejáveis, mas também possíveis, desde que estejamos comprometidos em fazê-los acontecer de forma consciente e estruturada.

Leia mais:

Futuro x Futuros

Você deve ter observado que utilizamos “futuros” em vez de “futuro”. Isso porque, quando falamos em “futuros”, ampliamos a possibilidade de pensar em diferentes alternativas dentro da unidade de tempo futuro.

O futuro não está predestinado a ser um só. Isso nos leva a refletir sobre várias possibilidades do que está por vir. Por exemplo, um dos futuros possíveis para a educação é que o professor conte com um assistente robô na sala de aula ou que sua sala seja totalmente on-line sem a necessidade de campus.

Em outro cenário, as salas de aula podem se tornar mais diversas, abertas e inclusivas, com apenas ênfase na tecnologia, mais foco na interação humana, na diversidade e na personalização da aprendizagem. Ainda podemos enfrentar um cenário de desigualdade brutal, onde alguns estudantes acessam o melhor da ciência enquanto outros ficam completamente à margem. Para cada um desses cenários ou outros, nossas ações presentes estão colaborando para construir essas realidades.

Num mundo em constante mudança, a promoção do pensamento futuro no sistema educativo tem sido reconhecida como uma estratégia poderosa para transformar a atual orientação de aprendizagem fabril numa cultura antecipatória, sistêmica, global e menos reativa aos insucessos.

Certamente, você já deve ter ouvido expressões como Alfabetização de Futuros (Futures Literacy), Estudos de Futuros (Futures Studies), Aprendizagem Prospectiva (Foresight Learning) ou Pensamento de Futuros (Futures Thinking). Nada disso tem a ver com esoterismo ou adivinhações. Todos esses termos fazem parte de uma abordagem que estuda o movimento das mudanças com foco na preparação para o futuro.

Organizações como a World Futures Studies Federation consideram o estudo de futuros uma ciência interdisciplinar e o definem como um campo de pesquisa que auxilia na criação de cenários futuros a partir de uma análise baseada nos estudos atuais, capazes de criar panoramas possíveis e desejáveis. Considerando que o futuro não é algo definitivo, estudamos as diversas possibilidades de futuro, portanto, “futuros”, no plural.

Como suas ações hoje podem transformar os futuros da educação?

Estamos prontos para adotar uma mentalidade que acolha futuros alternativos, projetando e experimentando diferentes cenários para garantir uma educação mais relevante, inovadora e sustentável? Ou continuaremos vivendo em realidades não idealizadas por nós mesmos? É crucial refletir: se nós, líderes da educação, não fazemos isso, outras pessoas colonizarão nossas ideias sobre o futuro da educação.

Na escolarização, estudamos história, pessoas e eventos passados para entender de onde viemos. Mas, quando se trata do futuro, muitas vezes estamos perdidos. Falamos sobre como será a escola, os professores e o ensino no futuro, mas estamos realmente aplicando uma abordagem voltada para o futuro? Estamos oferecendo serviços e produtos educacionais que atendam às necessidades do mundo do trabalho e que perdurem nos cenários educacionais?

Embora não possamos prever o futuro com exatidão, podemos combinar ciência com imaginação, capturar sinais fortes e fracos, e projetar tendências e apostas, evitando modismos educacionais. Ao praticar a construção dos futuros da educação, devemos explorar diferentes cenários estratégicos.

Não Mudar

Manter o status quo, resistindo a mudanças e continuando com práticas tradicionais, pode rapidamente tornar sua instituição obsoleta em um mundo em constante evolução. A inércia diante da inovação é um caminho certo para a irrelevância.

Responder

Reagir às mudanças e desafios conforme surgem pode oferecer respostas rápidas a crises imediatas, mas é uma abordagem insuficiente para transformações profundas e sustentáveis a longo prazo. Essa postura reativa pode fazer sua instituição perder espaço para concorrentes mais visionários e proativos.

Inovar

Buscar ativamente novas soluções, metodologias e tecnologias para transformar a educação é essencial para atender às necessidades emergentes e preparar os estudantes para futuros incertos. No entanto, a inovação precisa ser bem planejada e implementada com eficácia para evitar o risco de perder tempo com modismos educacionais ou realizar mudanças apenas marginais.

Antecipar

Este é o cenário mais relevante, onde prevemos e moldamos futuros possíveis através de estratégias proativas. Antecipar permite uma preparação robusta e resiliente, garantindo que a educação esteja alinhada com as necessidades futuras e emergentes da sociedade. Mais do que seguir tendências, é criar tendências e liderar o caminho para o futuro da educação

 O futuro não é um destino inevitável, mas um espaço de possibilidades.

A antecipação do futuro na educação não é uma opção, é uma necessidade imperativa para garantir a relevância e a sustentabilidade das instituições de educativas. Mas, se não conseguirmos imaginar coletivamente os futuros desejados, como seremos capazes de construí-los? O acesso para um futuro melhor está em nossa capacidade de agir agora, com visão, coragem e colaboração.

Você está disposto a criar o futuro da educação que deseja?

Thuinie Daros
Thuinie Daros é diretora de planejamento acadêmico na Vitru Educação (Mantenedora da Uniasselvi e Unicesumar. Palestrante e facilitadora de workshops sobre temáticas que capacitam profissionais a aplicar metodologias ativas, promover a criatividade, explorar abordagens híbridas de educação, incluir tecnologias educacionais e incorporar a pedagogia de futuros em suas práticas pedagógicas e dentro do contexto empresarial (formação de líderes). Autoras de diversos livros na área de inovação educacional.

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1 Comment

  1. muito profundo seu questionamento, sou estudante de licenciatura em informática, estou no 6 semestre – onde realizo estágios e como estou entrando na área agora.
    Na minha vivência profissional, trabalho com pessoas e treinamento e vejo jovens que nao conseguem usar o computador corretamente, um dos motivos que me levou a fazr a faculdade e poder entender o novo que esta cada dia mais próximo de nós.
    Acredito que necessitamos repensar e quebrar paradgimas para podermos acompanhar esta evolução cosntante e rápida.

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