Gestão educacional

Planejamento estratégico: o que deve estar no radar das IES na volta às aulas

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Para os estudantes, o ano letivo tem seu início bem definido: o dia da volta às aulas. Mas, para os gestores educacionais, o calendário começa bem antes.

É no período de férias que as instituições de ensino superior (IES) se movimentam para fazer a captação de matrículas – no caso das universidades privadas –, a semana pedagógica e outras atividades de capacitação docente. Além disso, começam a traçar metas de curto, médio e longo prazo, de modo a definir seu planejamento estratégico.

Com a ajuda de Renata Perrenoud, cofundadora da Inovatio Educação e da Acady Software Educacional e consultora de Aprendizagem Baseada em Projetos da Plataforma A, o portal Desafios da Educação destaca os principais aspectos que devem ser observados pelas IES em seu planejamento para começar o ano letivo com o pé direito. Confira!

Planejamento estratégico precisa estar no radas das IES. Crédito: Freepik

Planejamento estratégico precisa estar no radas das IES. Crédito: Freepik

Identificando oportunidades

Depois de uma queda de 5,8% no total de IES em 2020, em virtude da pandemia, o setor educacional voltou a ganhar fôlego a partir de 2021. O aumento foi de 4,8%, segundo o mais recente Mapa do Ensino Superior no Brasil, divulgado no ano passado pelo Instituto Semesp.

A rede privada cresceu 5%, 2% a mais que a pública. No total, ela responde por 87,8% das IES (2.261) e concentra 76,9% (6.908) das matrículas. E, com a expansão da educação a distância (EaD), que teve um salto de 700% em uma década, a tendência é que a concorrência fique ainda mais acirrada.

Diante de um cenário de constantes transformações, deve-se identificar potenciais oportunidades e desafios. Nesse sentido, o planejamento estratégico é uma ferramenta valiosa para impulsionar o crescimento das instituições de ensino.

“É de extrema importância planejar as metas institucionais e saber como se posicionar em um mercado educacional altamente competitivo. Ao adotar uma abordagem diferenciada, inovadora, proativa e ter a visão do caminho a ser trilhado, a IES pode se diferenciar por suas ações”, afirma Perrenoud.

Para a educadora, quando se consegue flexibilizar modelos por meio do planejamento pedagógico, olhando para o futuro, fica mais fácil dar uma resposta ágil às mudanças no cenário educacional. “A identificação de demandas do mercado de trabalho, aliada à integração de métodos pedagógicos ativos, possibilita à IES preparar os alunos de forma mais eficaz, oferecer formação alinhada à rápida mudança que o mundo tecnológico traz e aos desafios futuros, criando um ambiente educacional dinâmico e atraente para eles.”

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Planejar é integrar

Além de abordar novas tendências educacionais, o planejamento deve englobar diferentes níveis e áreas de uma instituição de ensino. Ou seja, não basta apenas conectar coordenadores, professores e alunos, mas fazer com que ele esteja presente em todos os setores da IES, desde a secretaria ao departamento de marketing, passando pelo setor de TI.

Para destacar a relevância dessa integração, Perrenoud usa como analogia o corpo humano: há um órgão considerado vital, mas os demais são igualmente relevantes para seu funcionamento. “Pode-se dizer que o coração da instituição de ensino é o pedagógico, mas precisamos pensar nela como um corpo humano, fazer com que todos os setores atuem em perfeita sintonia e pensados estrategicamente para dar resultado e atingir metas de forma colaborativa”, acredita.

Além de abordar novas tendências educacionais, o planejamento deve englobar diferentes níveis e áreas de uma instituição de ensino. Crédito: Freepik.

Além de abordar novas tendências educacionais, o planejamento deve englobar diferentes níveis e áreas de uma instituição de ensino. Crédito: Freepik.

Cinco etapas do planejamento estratégico

A consultora ressalta que o planejamento estratégico requer atenção aos números, para que as IE consigam encontrar respostas para as seguintes perguntas:

  • Qual o break even do meu curso (ponto de equilíbrio, essencial para saber se ele é viável e tem potencial de crescimento)? E de cada período?
  • Como conecto pedagógico, marketing e empregabilidade, dando visibilidade a projetos institucionais e extensionistas?
  • Qual a melhor e mais atual tecnologia educacional, que possa me trazer indicadores para que a gestão seja baseada em dados?

Com base nesses questionamentos, podemos dizer que o planejamento estratégico passa pelas seguintes etapas:

1.Alinhamento da missão, visão e valores com todos os colaboradores

A missão é o propósito da IES, seu papel na sociedade e para quem ela presta serviços. Com esse aspecto bem definido, é possível projetar o futuro desejado para a instituição, indicando onde ela quer estar a longo prazo. Para atingir tal objetivo, é preciso estabelecer princípios éticos e culturais que norteiem ações e decisões e disseminá-los entre os colaboradores.

2.Análise de tendências e metas para implementar inovações

Antes de projetar o futuro, é fundamental fazer uma análise profunda do cenário atual – infraestrutura tecnológica, métodos de ensino, necessidades dos alunos e expectativas do mercado. Esse processo envolve pesquisar os avanços em inteligência artificial, ensino híbrido, metodologias inovadoras, entre outros pontos. Identificar tendências emergentes ajuda a antecipar mudanças e a se preparar para elas.

3.Metas colaborativas conectando o pedagógico com os demais departamentos da IES

Somente com o diálogo entre os diversos setores é possível criar uma sinergia favorável tanto à qualidade do ensino quanto à eficiência operacional. O compartilhamento de informações e recursos e o desenvolvimento de programas de capacitação profissional conjunta (não apenas dos docentes) são formas de criar um ambiente institucional mais eficiente. O resultado é uma experiência educacional mais rica e alinhada com as demandas do mundo contemporâneo.

4.Gestão e aprendizagem baseada em dados

As IES devem promover uma cultura de tomada de decisão baseada em evidências, com ações administrativas e pedagógicas respaldadas por informações concretas – do desempenho acadêmico dos alunos às taxas de retenção, passando pelo grau de satisfação do estudante e a eficiência operacional. A coleta de dados pode trazer insights riquíssimos para identificar padrões, tendências e áreas de melhoria da instituição.

5.Planejamento para engajamento docente e discente

Renata Perrenoud. Crédito: Arquivo Pessoal.

Quando a palavra “engajamento” é utilizada no contexto educacional, geralmente é para se referir aos estudantes e a formas de estimular seu interesse pelas aulas – e, claro, de evitar a evasão. Mas não são apenas os alunos que precisam ser engajados. Diante do avanço das novas tecnologias, os professores também podem acabar se sentindo desestimulados ou até mesmo excluídos do processo de ensino-aprendizagem. Daí a necessidade de implementar programas de atualização profissional. Em ambos os casos, de docentes e discentes, esse engajamento só é possível com um ambiente acolhedor, feedback construtivo, inclusão e oportunidades de desenvolvimento.

Executar um bom planejamento estratégico é uma missão desafiadora. E, segundo Perrenoud, “apenas realizar é insuficiente”. Ela diz que é importante acompanhar os resultados, observar números e indicadores, contar com pessoas motivadas em busca de objetivos comuns e ter uma gestão ágil para mudar o rumo em curto espaço de tempo, caso seja necessário.

“Podemos dizer que a importância do planejamento para uma IES vai além da organização interna. É uma questão que ultrapassa muros e representa a chave para a diferenciação e excelência no mercado educacional”, conclui a educadora.

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Redação
A redação do portal Desafios da Educação é formada por jornalistas, educadores e especialistas em ensino básico e superior.

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