Ensino Básico

As diferenças entre recuperação e recomposição de aprendizagem

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Qualquer pessoa que passou pelo sistema formal de ensino já ouviu falar sobre –e até temeu – a famosa recuperação. Até pouco tempo atrás, esse era o conceito mais utilizado para tentar fazer com que estudantes alcançassem a aprendizagem esperada para cada etapa de ensino.

No entanto, a pandemia trouxe novos elementos para o debate sobre o tema. O distanciamento social adotado para conter o avanço do novo Coronavírus fez com que, em março de 2020, as escolas fechassem em 180 países. Um ano depois, as escolas ainda estavam parcial ou totalmente fechadas em 94 países. No geral, 1,3 bilhão de crianças perderam pelo menos meio ano de aulas; 960 milhões perderam pelo menos um ano inteiro, aponta relatório publicado pelo Banco Mundial.

Aprendiagem foi comprometida durante a pandemia. Crédito: Rovena Rosa / Agência Brasil.

Após a retomada o ensino presencial, ficou evidente a necessidade de encontrar soluções para turmas que sofreram com o déficit de aprendizado durante a pandemia. De acordo com dados do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb), o número de crianças do 2º ano do ensino fundamental com dificuldades para ler e escrever passou de 15% para 34% entre 2019 e 2021.

Na mesma faixa-etária, 22% dos pequenos não conseguem fazer operações de soma e subtração. Nesse contexto, a recomposição de aprendizagem foi a alternativa encontrada para atenuar o problema.

Como funciona a recuperação de aprendizagem

A recuperação é um método já tradicional nas escolas brasileiras. Ela foi implementada pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional nº 5.692, em agosto de 1971. O documento configurava uma nova oportunidade de aprovação para alunos de baixo rendimento ou frequência e visava combater um elevado índice de repetência naquela época.

Normalmente aplicada no fim do ano letivo, a recuperação da aprendizagem busca retomar os conteúdos em que os estudantes não obtiveram o desempenho ideal nos instrumentos avaliativos. Para isso, são utilizadas aulas extras e novos instrumentos a fim de que a aprendizagem seja alcançada.

Entretanto, esse método acaba sendo limitado pela falta de tempo. Por ocorrer no término do semestre ou ano letivo, a recuperação dura poucas semanas, o que é insuficiente para abordar os conteúdos de forma eficiente.


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Recomposição de aprendizagem: estratégia para o pós-pandemia

Ao contrário da recuperação, a recomposição de aprendizagem é um conceito recente, que surgiu como resposta ao déficit no ensino causado pela pandemia. Essa prática reúne um conjunto de estratégias em diferentes aspectos da vida escolar que visam reduzir os danos causados pelo fechamento das escolas durante a crise sanitária e colocar todos os alunos “na mesma página” no que se refere à aprendizagem. Além disso, esse método promete mais eficácia em outras frentes, como o combate à evasão escolar e a melhora na saúde mental de estudantes e professores.

“A alternativa que temos é pensar quais são os conteúdos necessários para que esse estudante possa seguir sua trajetória escolar. Não vamos conseguir recuperar tudo, mas precisamos garantir que ele tenha uma jornada escolar de qualidade”, defende Ariana Britto, coordenadora de produção de conhecimento do Centro de Excelência e Inovação em Políticas Educacionais da Fundação Getúlio Vargas (Ceipe/FGV), em entrevista ao Portal Rhyzos.

O primeiro passo para a implementação da recomposição de aprendizagem é avaliar a realidade dos estudantes na instituição de ensino. Isso inclui o acompanhamento da rotina e do desempenho deles em avaliações, assim como o diálogo com a comunidade escolar.

A partir daí, professores e equipes diretivas poderão realizar um diagnóstico com as principais dificuldades e os conteúdos-chave para que os estudantes possam progredir. Assim, será possível traçar as melhores estratégias para recompor o aprendizado. Entre os aspectos que podem ser trabalhados na recomposição escolar estão:

  • Acolhimento: ações que visem tornar o ambiente escolar mais leve e aberto para a comunidade escolar expressar suas emoções. Aqui, a educação socioemocional pode ser um importante aliado para promover a saúde mental e o bem-estar dos estudantes;
  • Flexibilização curricular: adaptação dos currículos para dar prioridade a habilidades definidas pela Base Nacional Comum Curricular (BNCC);
  • Carga horária: oferecer reforço escolar no horário para estudantes com atraso no aprendizado;
  • Capacitação docente: promover capacitação profissional, preparando os professores para as demandas do cenário pós-pandêmico;
  • Estratégias metodológicas: definir quais arranjos didáticos e metodologias de ensino se adequam melhor ao cenário da instituição.

Todas essas ações fazem com que a recomposição de aprendizagem se destaque em relação às outras formas de recuperação no contexto atual. Isso porque ela ataca o déficit educacional em diferentes frentes e permite a retomada do processo de ensino-aprendizagem.


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