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Especialistas debatem sobre a importância das boas perguntas na educação

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Qual o lugar da criatividade, da arte e das boas perguntas na educação? 

Educadores de renome nacional e internacional responderam essa pergunta na VI Jornada de Educação Infantil, realizada em 3 de outubro pelo Observatório da Cultura Infantil (OBECI), em parceria com a Pós Educação Unisinos. 

O evento 100% online teve curadoria e mediação do pesquisador e formador do Instituto para Inovação em Educação da Unisinos, Paulo Fochi. Participaram do evento o presidente da Reggio Children, Cristian Fabbi, a atelierista e consultora da Fundação Reggio Children, Mara Davoli, e o professor do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), Mitchel Resnick. 

O público também pode assistir aos cases das escolas Ateliê Carambola e Thema Educando, que ao longo de 2021 e 2022 desenvolveram projetos que tiveram como ponto de partida uma pergunta feita para as crianças. 

Educadores de renome nacional e internacional responderam essa pergunta na VI Jornada de Educação Infantil, realizada em 3 de outubro pelo OBECI. Créditos: Pexels

O protagonismo das crianças no processo de ensino e aprendizagem 

A experiência de Reggio Emilia foi compartilhada pelos primeiros palestrantes do evento. O presidente da Reggio Children, Cristian Fabbi, contou a história das primeiras escolas da comuna italiana para mostrar que o processo de ensino e aprendizagem deve começar com as perguntas e não pelas respostas. Os professores devem escutar o que meninas e meninos têm a dizer, o que implicaria migrar o protagonismo do saber dos adultos para as crianças. 

“Partir das perguntas significa aceitar a ideia de que as crianças são competentes para cocriar a cultura, por meio da interação, de projetos e de experiências e pesquisas”, explicou Fabbi. 

Uma das maneiras para estimular a geração de perguntas é a arte, tema da fala de Mara Davoli. A educadora atuou como atelierista entre 1973 e 2007, trabalhando lado a lado de Loris Malaguzzi. Ela esteve entre os organizadores da exposição “L’occhio se salta il muro”, realizada em 1981 para mostrar para a comunidade os resultados do trabalho nas escolas de Reggio Emilia. 

Davoli contou histórias de quando começou a trabalhar como atelierista, uma profissão até então desconhecida. Esse profissional é responsável por apresentar novas vivências estéticas às crianças e documentar as experiências de cada uma delas. 

Ela reiterou a importância das boas perguntas na educação, ao falar sobre o papel da arte para lidar com os desafios da atualidade. “Professores, pedagogos e educadores devem ser capazes de fazer perguntas que os ajudem a conviver com as incertezas que trabalhar com educação implica. Essas perguntas devem garantir que todos os meninos e meninas, de qualquer parte do mundo e origem étnica, tenham o direito de ter direitos”, concluiu. 

O último palestrante da VI Jornada de Educação Infantil, Mitchel Resnick, falou sobre criatividade. É comum associarmos essa qualidade apenas ao campo artístico, mas ela está presente em diferentes aspectos da nossa vida, sendo considerada uma soft skill fundamental para lidar com as transformações no mundo do trabalho. 

Por isso, Resnick defendeu que as escolas deveriam ajudar crianças e adolescentes a desenvolverem o pensamento criativo. “Há cem anos, quando as pessoas saíam da escola, elas iam trabalhar em uma linha de montagem, fazendo a mesma atividade repetidamente. Hoje as máquinas realizam muitas dessas tarefas rotineiras. Isso pode ser um problema, mas de certa forma liberta os seres humanos para se dedicaram ao que fazem de melhor, além de realizarem atividades mais satisfatórias”, ponderou. 

Uma iniciativa de desenvolvimento do pensamento criativo citada pelo professor do MIT foi a comunidade Scratch, organizada em torno de uma linguagem de programação voltada para crianças. Para Resnick, o Scratch é um exemplo de reflexão sobre a relação entre a tecnologia e as novas gerações. 

“Em vez de pensar em como minimizar o tempo de tela, deveríamos pensar em como maximizar o tempo de criatividade. Se elas estão usando a tecnologia para criar, então está tudo bem. A educação deve ajudar as pessoas a se desenvolverem como pensadores criativos e a se expressarem, para assim serem membros produtivos de suas comunidades”, argumentou. 

Leia mais: A importância de promover o bem-estar nas escolas

Projetos inspiradores 

Entre as falas dos educadores, o público conheceu projetos desenvolvidos pelas escolas Ateliê Carambola e Thema Educando, ambas no estado de São Paulo. 

Ao longo de 2022, os educadores do Ateliê Carambola realizaram um projeto especial com as turmas da Educação Infantil. Tudo começou com uma simples pergunta: o que é memória? 

A partir desse questionamento, as crianças foram instigadas a investigar suas noções de memória, trazendo suas interpretações do conceito. Em seguida, foram convidadas a usar a linguagem gráfica para explicar suas teorias. 

Já o projeto da escola Thema Educando começou em 2021, quando os estudantes do 3º ano do Ensino Fundamental construíram moradias de palafitas no parque da instituição. Enquanto isso, a turma do 4° ano da escola projetou um espaço urbano com objetivo de criar uma cidade ideal. 

No ano seguinte, os professores propuseram que os dois grupos se unissem e entrelaçassem suas ideias e investigações em torno da pergunta: o que constituiria uma cidade? Assim, surgiu o projeto intitulado “Nós e a Cidade”. 

As crianças até criaram seu próprio sistema representativo: a “multicracia”. Segunda elas, seria um modelo em que todas as decisões são tomadas a partir do consenso. 

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Redação
A redação do portal Desafios da Educação é formada por jornalistas, educadores e especialistas em ensino básico e superior.

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