Ensino Superior

Medicina EaD? Para algumas disciplinas, sim

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A anatomia, o estudo da arquitetura do corpo humano, é tradicionalmente realizada nos laboratórios das faculdades de Medicina com cadáveres reais. De uns tempos para cá, porém, a dissecção anatômica vem sendo virtualizada. Medicina EaD  é realidade?

Na Faculdade de Medicina de Las Vegas, da Universidade de Nevada, desde 2017 os alunos dissecam cadáveres virtuais em mesas Sectra. É como se fossem tablets gigantes – uma tela touch de 55 polegadas que permite girar, aumentar e diminuir o foco nos corpos, além de navegar por imagens 3D.

Medicina EaD: solução da Plataforma A projeta corpo humano em tela através de ferramenta de realidade virtual (RV). Crédito: Imersys

No Brasil e em outros países da América Latina, a Plataforma A, por meio das soluções Algetec e Imersys, tem popularizado o uso de realidade virtual e laboratórios virtuais em cursos da Saúde. Entre eles estão Enfermagem, Odontologia, Psicologia e também Medicina, a graduação mais concorrida – e cara – do Brasil.

O valor da mensalidade de Medicina pode beirar os R$ 13 mil – apesar disso, a evasão e a inadimplência é menor quando comparada a outros cursos. O custo elevado se justifica pelo investimento. “A estrutura que uma faculdade de Medicina precisa dispor é muito maior do que a de qualquer outra”, disse Fabio Freire, professor de ciências médicas da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), em entrevista ao portal Desafios da Educação.

Parte do investimento, porém, pode ser evitada com as ferramentas digitais – cuja beleza não se restringe à capacidade de simular o corpo humano. Os laboratórios virtuais reduzem os custos com espaços físicos (pois parte deles pode ser dispensado).

A inovação também desonera despesas com transporte, embalsamento e armazenamento dos corpos. Além de preservar os cadáveres. Afinal, o aluno está sujeito a cometer erros que podem destruir o material. Com a realidade virtual, é só reiniciar a simulação. E repetí-la quantas vezes for necessária.

Medicina híbrida

Cabe salientar que a tecnologia não transforma o curso de Medicina em um curso EaD. Essa opção simplesmente não é reconhecida pelo MEC. O que também não significa que as ferramentas digitais devam ser abolidas da graduação. Na verdade, a tecnologia pode (e deve!) ser usada a favor do ensino médico.

Não fosse os laboratórios virtuais, a pandemia teria prejudicado ainda mais os alunos devido a restrição da presencialidade. Outra lição deixada pelo coronavírus é que, sim, boa parte das atividades teóricas de Medicina podem ser realizadas no ambiente online, segundo a coordenadora adjunta administrativa do curso de Medicina da Universidade Vale dos Sinos (Unisinos), Cláudia de Salles Stadtlober.

“Estamos vivendo uma transição de ensino tradicional para ensino com novas metodologias”, acrescenta o médico Lucas Cottini, fundador do Jaleko e diretor de novos negócios na Artmed. Essa transição começou com metodolgias ativas, como a sala de aula invertida e a aprendizagem baseada em projetos. Agora, segue com a experiência digital.

Leia mais: Saúde, Engenharia e Direito EAD: debate tem mais opinião do que evidências

O fundador do Jaleko segue o pensamento de outros especialistas do setor: o ensino superior pós-pandemia é híbrido. “Não temos hoje a possibilidade de criar um curso de Medicina com modalidade 100% a distância”, reconhece Cottini. “Mas tenho certeza que devemos criar diversos ambientes digitais de aprendizagem para otimizar e potencializar a formação do aluno de Medicina.”

Nesse cenário, o papel das ferramentas virtuais não é o de ocupar o espaço das atividades presenciais. “O laboratório virtual complementa, mas não substitui certas práticas presenciais de habilidade”, garante Vinícius Dias, diretor da Algetec.

A questão é que, quando chegam ao laboratório físico ou a um estágio clínico, os alunos que usam laboratórios virtuais estão mais preparados para colocar em prática as habilidades manuais exigidas em disciplinas como anatomia e fisiologia celular.

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A telemedicina ajudou médicos e alunos a continuarem seus atendimentos clínicos durante a pandemia. Crédito: Divulgação/Unicesumar

Telemedicina

Desde 20 de março de 2020, o Ministério da Saúde autoriza o uso da telemedicina para atendimentos à população, contando inclusive com o aval do Conselho Federal de Medicina (CFM). A medida foi anunciada em caráter emergencial e permanece válida até a publicação desta reportagem.

Mas o atendimento a distância não é uma pauta recente. Desde de 2019 o assunto gera debate entre os órgãos da área da saúde. Dentro das faculdades de Medicina, a modalidade só passou a ser usada após a eclosão da pandemia do novo coronavírus.

Cottini, da Artmed, apoia a utilização da telemedicina na sala de aula. Ele explica que nos ciclos clínicos, o uso da telemedicina pode fazer um aluno chegar em pacientes que jamais veria. E ainda ter a oportunidade de ser supervisionado por profissionais de alto nível que nem sempre estão presentes em sua cidade.

Mas certamente isso não vai ser 100% do curso, segundo Cottini. “A parte clínica, o contato com o paciente, a presença dentro de ambientes hospitalares clínicos e cirúrgicos e o relacionamento com outros profissionais de saúde de forma presencial seguirão fundamentais para a formação de um médico de qualidade.”

Leia mais: Pandemia aumenta interesse de alunos por graduações na área da saúde

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