Tudo começou com um simples recado que escrevi nas provas e trabalhos de estudantes que estavam com dificuldades: “Por favor, venha conversar comigo sobre o seu resultado na prova (ou trabalho). Vamos ver o que podemos fazer para melhorar a sua nota”.
Embora, inicialmente, eu não estivesse coletando dados sobre a efetividade do meu “convite”, logo percebi que a maioria dos estudantes — cerca de 80% deles — me respondia. Aqueles que se encontraram comigo começaram a ir melhor nos testes; seus trabalhos também melhoraram. Quando os alunos não me davam retorno, eu entrava em contato por e-mail cerca de uma semana depois. Alguns respondiam e outros, não. Com o tempo, não pude mais ignorar os benefícios daquelas conversas com o alunos que estavam com dificuldades. E acredito que o mais importante era transmitir para eles que não eram apenas mais um nome em minha lista de chamada, pois realmente me importava com seu aprendizado e sucesso.
Com o passar do tempo, desenvolvi uma abordagem estruturada para nossas conversas, cujos highlights eu listo abaixo. É interessante destacar que existiam semelhanças entre os pensamentos e sentimentos desses estudantes. Na maioria das vezes, começavam a reunião pedindo desculpas por não estarem indo bem na disciplina: “Desculpe-me por não ter estudando para este teste” ou “Estou muito envergonhado por ter ido tão mal”. Com menos frequência, mostravam-se perplexos: “Eu realmente estudei para esse teste, não sei por que não fui bem”. De qualquer forma, busquei enfatizar que faríamos de tudo para que conseguissem melhorar sua performance em provas e trabalhos futuros.
Aqui estão os seis temas que ilustram a essência das conversas e que se mostraram benéficos tanto para mim quanto para meus alunos:
- Você não está sozinho, somos um time. Se quisermos encontrar a solução para um problema, seremos muito mais eficientes em nossa abordagem se trabalharmos juntos, de forma franca e construtiva;
- A história é uma boa professora. Devemos usar o passado como guia, não como fonte para julgamentos. Ficar na defensiva, punir ou culpar a si mesmo e aos outros não é produtivo. Ninguém sai ganhando com essa postura!
- Surgem padrões e tendências. Durante os encontros, revisávamos as provas e trabalhos para entender se havia um quadro mais amplo. Uma análise do que aconteceu de errado pode dar pistas sobre maneiras ineficientes de estudo ou desenvolvimento de testes e provas. Mais de 70% dos alunos que conversaram comigo perceberam que entender melhor sobre eles mesmos enquanto estudantes contribuiu para que melhorassem suas notas até mesmo em outras disciplinas;
- Aprender a se comunicar efetivamente só traz benefícios! Com as conversas que tivemos, os alunos aprenderam que é importante discutir abertamente sobre seus receios, dúvidas e medos. Em vez de evitar seus problemas, eles compreenderam que compartilhar suas preocupações é o primeiro passo para romper as barreiras que estão impendindo sua evolução. E essa é uma competência que será útil por toda a sua vida. Ainda, descobriram que seus professores também são pessoas como eles;
- Uma simples conversa pode ter profundas consequências. Muitas vezes, quando sentimos que o outro realmente se importa conosco, tendemos à reciprocidade — prestamos mais atenção a como agimos em sua presença. Um comentário que ouvi muitas vezes dos alunos com os quais conversei foi: “Eu me esforcei ainda mais desta vez porque não queria decepcionar você!“;
- As anotações em sala de aula demandam atenção e orientação. Quando me encontrava com os alunos para revisar suas provas, sempre pedia para dar uma olhada em suas anotações para que pudesse dar dicas práticas de como melhorá-las. Isso porque poucas notas indicam falta de foco. Sempre encorajo que os alunos façam perguntas durante as aulas, principalmente se estão com dificuldade de compreensão de algum conceito.
Para alguns estudantes, nossas breves conversas levaram a transformações marcantes. Pode ser que não tenham como ser comprovadas cientificamente, mas constato seus benefícios em melhor assiduidade, notas maiores, mais confiança e vontade de participar das discussões em sala de aula. E tudo começou com um simples convite: “Por favor, venha conversar comigo!”.
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