O nome mais cotado era o de Mozart Neves Ramos. No entanto, quando Jair Bolsonaro anunciou o diretor do Instituto Ayrton Senna como futuro ministro da Educação, a bancada evangélica do Congresso reagiu, vetando o nome do também ex-reitor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).
A reação negativa ao nome de Ramos, dado como certo à frente do MEC, levou o presidente eleito a procurar uma alternativa – às pressas. Assim, na noite da mesma quinta-feira, 22 de novembro, Bolsonaro anunciou Ricardo Vélez Rodríguez como titular da pasta.
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Quem é Ricardo Vélez Rodríguez
Colombiano naturalizado brasileiro, Rodríguez tem 75 anos, graduação, mestrado, doutorado e pós-doutorado em filosofia. Como professor, lecionou ou pesquisou sobre temas da filosofia política e da ética.
Ele é professor na Faculdade Positivo, de Londrina (PR), onde mora com a família. Atuou em outras instituições, como a Universidade Gama Filho e a Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), ambas no Rio, e na Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). Também deu aulas em faculdades colombianas e na Escola de Comando e Estado Maior do Exército Brasileiro.
Rodríguez chegou ao conhecimento de Bolsonaro por indicação do pensador Olavo de Carvalho, expoente do conservadorismo brasileiro, que vive nos Estados Unidos.
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O que pensa sobre educação
Com base em textos publicados na internet pelo futuro ministro, o Nexo Jornal reuniu suas principais ideias. Para Ricardo Vélez Rodríguez, o MEC deve enxergar o sistema de ensino básico e fundamental como um serviço de responsabilidade dos municípios.
“As instâncias federal e estaduais entrariam simplesmente como variáveis auxiliadoras dos municípios que carecessem de recursos e como coadunadoras das políticas”, escreveu ele.
Para Rodríguez, entre 1964 e 2014 faltou uma política de educação contínua no país. O professor credita esse gap a problemas do setor e a falhas da formação dos estudantes. Afirma, também, que a política educacional mais coesa vista no país foi desenvolvida pelos militares durante a ditadura.
Em outro texto, ele afirma que o projeto da Escola sem Partido é uma “providência fundamental”, que o mundo está submetido “à tentação totalitária” e que no século 20 emergiram regimes que negam o “sagrado poder de a família educar os seus filhos”. Abordagens sobre temas como ideologia de gênero e sexo, segundo ele, são “maluquice” e um “crime” contra as famílias.
O professor também defende a reforma do ensino médio – sancionada por Michel Temer em fevereiro de 2017. Para Rodríguez, a proposta que prevê a implementação gradual do ensino integral, entre outras alterações, representa uma “nova era” na educação secundária. E acrescenta que as provas do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) são “instrumentos de ideologização”.
As referências acima são retiradas de seu blog pessoal. No momento em que este texto era redigido, não era possível acessar o blog – bloqueado pelo autor desde a repercussão de sua nomeação.
Na segunda-feira (26), em Londrina, Rodríguez deu sua primeira entrevista coletiva e abordou diversos assuntos. Perguntado sobre as universidades públicas, reclamou que o custo da estrutura “sai quatro, cinco vezes mais caro que o de uma universidade particular”. “Universidade pública tem que permanecer pública. Mas com uma gestão eficiente, uma gestão em que o cidadão veja que o que está pagando tem resultado.”
Questionado sobre suas prioridades no MEC, respondeu: “Para mim, o valor fundamental é servir as pessoas. Então, vou tentar dar importância às pessoas, ao aluno em sala, aos professores que se sentem oprimidos pela violência que há em sala, isso precisa ser equacionado.”
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Desafios para o MEC
Em um grupo de pesquisa e debates na internet, perguntou-se quais seriam os principais desafios do novo ministro. O professor Helio Dias, do Instituto de Estudos Avançados da USP, enumerou alguns:
- O Brasil está entre os últimos no PISA;
- Último da lista na valorização do professor;
- 63% da verba de educação é usada no ensino superior;
- Os cursos de licenciatura não formam professores adequadamente para a sala de aula;
- 30% de brasileiros com nível rudimentar de alfabetização;
- 75% da população é analfabeta funcional;
- Apenas 3% dos adolescentes querem seguir a carreira de magistério;
- Menos de 8% de jovens estão matriculados em cursos de formação profissional;
- 80% dos professores são formados por faculdades privadas;
- Jovens de 19 anos que concluíram o Ensino médio: 58,5%.
O professor também falou sobre docentes com formação superior compatível com as disciplinas que lecionam, sobre número de matrículas, entre outras coisas. Por fim, alfinetou. “Retrocesso? Para onde? De que? Existe algum lugar após o último?”
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