Gestão educacional

Fraude nos EUA: o escândalo das admissões em faculdades de elite

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De acordo com as investigações, o esquema começou em 2011 e se estendeu até fevereiro deste ano. Crédito: Pixabay.

O Departamento Federal de Justiça dos Estados Unidos, o FBI, denunciou ao menos 50 pessoas – e prendeu 38 – por pagarem ou receberem propina para que jovens ricos fossem aceitos nas melhores universidades do país.

O esquema envolve pais que são grandes empresários e atrizes de Hollywood, além de servidores de instituições que fazem parte do Ivy League, um grupo seleto de universidades americanas. Entre elas estão Yale (New Haven, Connecticut), Stanford (Palo Alto, na Califórnia) e Universidade do Texas (Austin).

De acordo com as investigações, as fraudes começaram há oito anos, em 2011, e se estenderam até fevereiro deste ano. No total, foram movimentados mais de US$ 25 milhões (R$ 95 milhões) em propina.

William “Rick” Singer, 58 anos, é apontado como administrador do esquema, através da empresa Edge College & Career Network. Para mascarar os milhões de dólares que entravam nas universidades, ele afirmava que o dinheiro fazia parte de doações beneficentes.

Leia mais: Para onde caminha a educação universitária americana

Fraudes ocorriam de duas formas

PROVA ADULTERADA
O sistema de admissão numa faculdade americana é diferente do brasileiro. Lá, a maneira mais comum de ingressar no ensino superior é por meio de uma combinação que inclui bom desempenho numa prova teórica, chamada Scholastic Assessment Test (SAT), além de avaliação do histórico escolar, cartas de referência e atividades extracurriculares, como trabalho voluntário, desenvolvimento de projetos, iniciativas de empreendedorismo e prática de esportes.

As fraudes ocorriam na SAT. Os pais mentiam que os filhos tinham dificuldades de aprendizagem, e por isso precisavam de mais tempo para fazer o exame – cujo prazo é de no máximo três horas e 50 minutos – ou para realizá-lo em outro lugar, mais reservado, sem a presença de outros candidatos.

Os requerimentos eram feitos em instituições com servidores previamente subornados por Rick Singer. Ao conceder as exceções, os funcionários permitiam que os candidatos colassem ou que outra pessoa concluísse a prova pelo candidato.

Também havia pedidos de modificação – respostas erradas eram corrigidas após a conclusão do exame.

Foi o caso da atriz Felicity Huffman. Segundo o FBI, ela ofereceu cerca de US$ 15 mil (R$ 57,6 mil) para que o teste de sua filha mais velha fosse modificado. Huffman foi presa e posteriormente solta, ao pagar fiança de US$ 250 mil (R$ 953 mil).

FRAUDE ESPORTIVA
Outra forma popular de ingresso nas universidades é pela bolsa de estudo esportiva. É quando o estudante passa a integrar as equipes atléticas que representam as instituições de ensino superior em ligas nacionais e regionais – as competições universitárias são tradicionais nos Estados Unidos. Em troca, ganham descontos na mensalidade que variam de 30% a 100%.

As bolsas são concedidas após avaliação de treinadores e coaches. A concorrência inclui bom desempenho esportivo, bem como apresentação do histórico escolar para análise e cartas de referência. O bom nível acadêmico é fundamental para a manutenção da bolsa.

Aqui, treinadores eram subornados para admitir jovens sem qualquer habilidade atlética. É o caso da atriz Lori Loughlin e seu marido, o estilista Mossimo Giannulli: a investigação do FBI aponta que eles pagaram cerca de US$ 500 mil (R$ 1,9 milhão) para que a Universidade do Sul da Califórnia, em Los Angeles, incluísse suas duas filhas na equipe de remo – sem que elas nunca tenham praticado o esporte.

Em um dos casos, até Photoshop foi usado – colocando rostos de jovens aspirantes a uma vaga na universidade em corpos de atleta.

Leia mais: Dívida estudantil nos Estados Unidos: retórica versus realidade

Desdobramentos

As acusações do FBI foram divulgadas em 12 de março – duas semanas antes de as universidades anunciarem o resultado de seus processos seletivos da turma que se formará em 2023.

Promotor encarregado do caso, Andrew Lelling afirmou em coletiva de imprensa que os pais são os principais culpados da fraude. Ele também afirmou que um grande número de alunos não sabia do esquema, e se solidarizou com os candidatos que ficaram sem vaga.

“As verdadeiras vítimas desse caso são os estudantes que ficaram de fora do processo para que entrassem jovens muito menos qualificados”, disse Lelling.

O caso veio à tona após um um executivo, investigado por fraude financeira, tentar reduzir sua pena revelando o esquema. O jornal The Chronicle of Higher Education faz uma ampla cobertura sobre o caso.

Redação
A redação do portal Desafios da Educação é formada por jornalistas, educadores e especialistas em ensino básico e superior.

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