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As gerações estão cada vez mais inteligentes?

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Somos mais inteligentes ou mais burros que nossos antepassados? Essa pergunta, especialmente quando colocada assim, de modo tão polarizado e sem nuances, tem levantado diferentes respostas entre pesquisadores da área da cognição e da evolução humana. De um lado, está James Flynn, filósofo cujos estudos foram tão importantes que levam seu nome: o efeito Flynn define justamente o fenômeno de cada geração atingir uma maior pontuação que a anterior em testes de QI. Criticando seu trabalho estão cientistas da Holanda que afirmam que a verdadeira medida da inteligência está na velocidade de resposta do cérebro, critério do teste de QI no qual a espécie humana tem decaído ao longo dos anos.

Flynn, que explica resumidamente seus estudos em uma instigante palestra no Ted com mais de 1,5 milhão de visualizações, dá mais atenção à pontuação geral dos testes de QI. Nesse quesito, em termos gerais, estamos cada vez melhores. Se avaliássemos com os padrões de hoje os resultados de QI de pessoas que viveram um século atrás, elas teriam, na média, um quociente de apenas 70, o que consideramos atualmente um número à beira do retardo mental. Na via contrária, se a média dos testes atuais fosse avaliada com os padrões de cem anos atrás, qualquer um de nós estaria a um passo da genialidade. Isso se deve em parte a nosso crescimento cognitivo e em parte às peculiaridades do teste.

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James Flynn crê que estamos cada vez mais espertos.
[Fonte: NewScientist]

O último século nos obrigou a abstrair o mundo: adotamos novos hábitos mentais, como a classificação, a lógica e a capacidade de levar a sério o que é hipotético. Essas habilidades não existiam no homem antigo: diante de um simples problema de lógica, ele teria sido incapaz de responder o que hoje consideramos correto. Um pesquisador russo certa vez estudou homens de uma pequena comunidade que não tinham o hábito de frequentar a escola por mais que quatro anos. Apresentando a pergunta “se em lugares onde sempre há neve, os ursos são sempre brancos, e se no Polo Norte sempre há neve, qual a cor dos ursos do Polo Norte?”, ele recebeu apenas respostas concretas. É preciso que alguém vá ao Polo Norte para ver os ursos, é preciso que alguém veja com os próprios olhos, lhe diziam. Hoje, nossa visão mudou do universo palpável para o universo das ideias.

Flynn, grande estudioso da moral, explica como a capacidade de levar a sério o hipotético é fundamental para estabelecer princípios universais. Na defesa da igualdade entre homens de todas as cores, é comum que digamos algo como “imagine se você tivesse nascido negro, você acharia justo ser marginalizado só por isso?”. O argumento, porém, torna-se inútil e até mesmo absurdo para alguém que seja incapaz de considerar uma hipótese abstrata, uma vez que não existe a menor chance de alguém voltar no tempo e nascer com uma cor diferente.

Sem dúvida, a abstração nos possibilitou ser menos preconceituosos, mas não é certo que tenha nos tornado mais inteligentes. Eis que surgem os pesquisadores de Amsterdã, Dr. te Nijenhuis e sua equipe. Para eles, a única medição válida da inteligência absoluta de um ser humano é o tempo de resposta do cérebro a um estímulo qualquer. Para comprovar sua hipótese, eles realizaram o remake de um teste simples: o sujeito tinha à sua frente um botão e deveria pressioná-lo quando visse uma determinada imagem. No século 19, as pessoas levaram em média 194 milissegundos para apertar o botão; em 2004, levamos 275 milissegundos. Estamos mais abstratos, porém mais lentos.

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Estima-se que Einstein teve um QI entre 160 e 180.

Esse declínio de velocidade se deveria, conforme Nijenhuis declarou ao Huffington Post, à facilidade da vida moderna. Não precisamos mais caçar nem fugir de leões, podemos nos dar ao luxo de ser mais burros porque as grandes cidades são ambientes que oferecem baixo risco à vida humana. Em resumo, Nijenhuis acredita que, embora os testes de QI apresentem melhores resultados, eles não retratam a inteligência verdadeira do ser humano, apenas espelham as facilidades de vida que o ambiente urbano nos proporciona. De certa forma, ele defende que os produtos de nossa inteligência, como a engenharia, a tecnologia digital e a medicina, permitem que pessoas mais burras sobrevivam e multipliquem seus genes, o que antes não teria sido possível.

A pergunta que abre esse texto parece agora ainda mais complexa. Por um lado, temos maior capacidade lógica e mais diversidade cognitiva. Por outro, nossa resposta mental é cada vez mais lenta. Afinal, as facilidades da vida contemporânea estão nos deixando mais inteligentes ou mais preguiçosos? Qual é a sua opinião?

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Redação
A redação do portal Desafios da Educação é formada por jornalistas, educadores e especialistas em ensino básico e superior.

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