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A escola como espaço de valorização da vida e de combate à solidão

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Estudantes durante prova do Enem. Crédito: reprodução/EBC.

Por Luciano Sathler

A adoção de metodologias ativas e de tecnologias digitais oferece novas e maiores possibilidades para que a aprendizagem social e emocional seja trabalhada no contexto da sala de aula.

É interessante notar esse potencial. Pois crianças, adolescentes e jovens que cresceram diante de videogames, com pouquíssima experiência de brincar na rua e fortemente conectados em redes sociais são as que correm mais riscos de sofrimento com a solidão, a depressão, além de uma série de outros sentimentos negativos e transtornos mentais. Isso tem impacto direto no desempenho na aprendizagem.

Uma pesquisa recente afirmou que acessar sites como Twitter, Facebook e Snapchat por mais de duas horas por dia dobra a probabilidade de alguém se sentir isolado – com impactos mais profundos em jovens adultos.

Em outra investigação, o Instagram foi considerado a pior rede social quanto aos impactos negativos sobre a saúde mental dos jovens, entre 14 e 24 anos. Na ocasião, foram avaliados aplicativos populares em quesitos como ansiedade, depressão, solidão, bullying e imagem corporal.

O apoio psicopedagógico nas escolas tornou-se quase um serviço de emergência, que atende crianças e jovens que lidam com receios e preocupações que gerações anteriores não vivenciavam com essas idades. Relações familiares em crise permanente, a baixa autoestima, a infelicidade, o cyberbullying e a automutilação passam a invadir as relações de ensino-aprendizagem, o que torna muito difícil avançar a contento se priorizados apenas os aspectos cognitivos ou disciplinares.

O contato entre grupos pode reforçar estereótipos anteriores e aumentar a hostilidade entre os diferentes, o que se transfere para o universo digital. Viver em cidades grandes e pertencer a uma família com renda mais baixa também aumenta a solidão infantil.

A aprendizagem social e emocional é uma abordagem que ensina os indivíduos a reconhecer, regular e expressar os aspectos sociais e emocionais para que possam gerenciar com sucesso sua vida. Isso pode ser adquirido ou fortalecido desde que consciente e explicitamente projetado para criar atitudes, comportamentos e cognições que promovam relações sociais saudáveis, bem-estar pessoal e realização acadêmica.

Promover a aprendizagem social e emocional não pode ser encarado como um programa, mas sim uma abordagem programática, que pede capacitação específica dos docentes e do corpo técnico-administrativo nas escolas.

Uma pesquisa realizada no contexto norte-americano detalha quais as principais habilidades da aprendizagem social e emocional a serem perseguidas no planejamento de aulas, por meio de atividades especificamente desenhadas para se alinhar aos objetivos relacionados ao conteúdo da unidade curricular.

Estamos em dezembro de 2018 quando escrevo este pequeno texto, um tempo que convida à renovação da esperança e ao planejamento para tentar alcançar realizações significativas nos próximos 12 meses. Incluir a aprendizagem social e emocional dentre os objetivos e estratégias das metodologias ativas só vai trazer ganhos para educadores e estudantes. Leia mais abaixo.

Principais habilidades da aprendizagem social e emocional

AUTOCONHECIMENTO
− Reconhecer e nomear as próprias emoções
− Compreender as razões e circunstâncias dos próprios sentimentos

AUTORREGULAÇÃO DAS EMOÇÕES
− Verbalizar e lidar com a ansiedade, a raiva e a depressão
− Controlar os impulsos, a agressividade, os e comportamentos antissociais e autodestrutivos
− Reconhecer seus pontos fortes e mobilizar sentimentos positivos sobre si mesmo, a escola, a família e redes de apoio

AUTOMONITORAMENTO E DESEMPENHO
− Focar nas tarefas imediatamente em mãos
− Estabelecer metas de curto e longo prazo
− Modificar o desempenho a partir de orientações recebidas
− Mobilizar a motivação positiva
− Ativar esperança e otimismo
− Trabalhar para alcançar ideais de desempenho

EMPATIA
− Desenvolver mais e melhores mecanismos de interação para uso na vida cotidiana
− Tornar-se um bom ouvinte
− Aumentar a empatia e a sensibilidade para com os sentimentos dos outros
− Compreender as perspectivas, pontos de vista e sentimentos dos outros

HABILIDADES SOCIAIS NO CUIDADO DOS RELACIONAMENTOS
− Gerenciar emoções nos relacionamentos, harmonizar sentimentos e pontos de vista diversos
− Expressar emoções de maneira aberta e equilibrada
− Exercer assertividade, liderança e persuasão
− Trabalhar como parte de uma equipe e ser capaz de aprender de forma colaborativa
− Mostrar sensibilidade a sugestões sobre atitudes e comportamentos
− Exercitar a tomada de decisão quanto a aspectos de relacionamento e de resolução de problemas
− Responder de forma construtiva e com atitude de solução de problemas aos obstáculos interpessoais

Fonte: NORRIS, Jacqueline A. Looking at classroom management through a social and emotional learning lens. Theory Into Practice, Volume 42, Number 4, Autumn 2003, pp. 313-318.


Sobre o autor

Luciano Sathler é PhD em Administração pela FEA/USP, reitor do Centro Universitário Metodista Izabela Hendrix e diretor da Associação Brasileira de Educação a Distância (Abed), além de curador do site Inovação Educacional.

Redação
A redação do portal Desafios da Educação é formada por jornalistas, educadores e especialistas em ensino básico e superior.

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