Ensino Superior

O ensino superior está ficando mais velho?

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Segundo um levantamento do último Censo da Educação Superior, do Ministério da Educação (MEC), a ocupação dos espaços universitários por pessoas com 40 anos ou mais tem aumentado. Em 2021, um total de 599.977 alunos nessa faixa etária ingressaram no ensino superior. Hoje eles já representam 13,4% dos estudantes brasileiros. 

Fatores como a insegurança, medo da exclusão social e dificuldades após algum tempo fora das salas de aula, normalmente desanimam na hora de efetivar a matrícula. Mas isso tem sido deixado de lado. “Alguns alunos se sentem até mais confiantes dividindo as experiências acadêmicas com estudantes maduros”, conta Angela Teresinha Oliveira Gomes, que concluiu sua licenciatura em História de forma presencial em 2010, quando tinha 43 anos.  

Atualmente cursando Gestão Ambiental, ela garante não ter tido nenhuma dificuldade na convivência com pessoas mais jovens, sentindo-se segura de sua escolha e do direito de estar naquele espaço. 

O ensino superior está ficando mais velho. Porém, é necessário ressaltar a intolerância com discriminações como o etarismo. Crédito: Unsplash.

Um espaço novo para os mais velhos 

Em contrapartida aos optantes do aprendizado presencial, existem os que escolheram o conforto do digital. Conforme os dados do Censo da Educação Superior 2021 a modalidade de ensino a distância (EaD) cresceu 474% em uma década, confirmando a tendência da adoção desse meio de estudo para o futuro. 

As demandas de rotina como casa, trabalho, filhos, entre outras, fazem com que muitas pessoas acabem optando pela facilidade de aprender no lar. A própria Angela, em sua segunda graduação, preferiu o formato virtual. A segunda licenciatura, em Gestão Ambiental, que ainda está em andamento, ocorre de forma virtual. “Tem sido mais tranquilo devido à vantagem de poder organizar o meu tempo para os estudos”, afirma ela, hoje com 56 anos. 

Em entrevista ao portal G1, a psicoterapeuta Helena Abdalla afirmou que a idade não tira nada das pessoas, e nem exclui a capacidade que elas têm de aprender, sonhar ou viver a vida da maneira que lhes agrade. “Como se as pessoas de idade avançada, fossem inadequadas para realizar sonhos, que são destinados e designados, pela própria construção da sociedade, para grupos de jovens adultos, por exemplo”, afirma a especialista. 


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Você sabe o que é etarismo? 

Quando se fala de faixa etária elevada dentro de espaços acadêmicos, um assunto que tem sido abordado com frequência é o etarismo. O termo refere-se ao preconceito voltado as pessoas mais experientes, causando impactos em sua vida pessoal, profissional e prejudicando sua aprendizagem.  

Um estudo de 2021 ministrado pela Global Campaign to Combat Ageism (Campanha Global para o Combate ao Etarismo) aponta que aproximadamente 50% dos entrevistados demonstram preconceito com pessoas de idade avançada. 

Mesmo sendo vedado pelo Estatuto do Idoso, com pena de seis meses a um ano de reclusão (Lei nº 10.741, de 6 de outubro de 2003 – Art. 96), esse tipo de descriminação ainda é muito presente na sociedade, inclusive no ambiente acadêmico. A seguir listaremos algumas formas de combater esta intolerância dentro das universidades. 

Como combater o etarismo? 

O preconceito se vale de uma exclusão social e desenvolver alternativas adequadas e políticas de inclusão dentro das universidades pode contribuir para que esse tipo de comportamento se dissipe. Algumas ações para combatê-lo: 

  • Normas internas contra a discriminação para com pessoas mais velhas; 
  • Programas de incentivo à faculdade para pessoas acima dos 40 anos; 
  • Linguagem inclusiva; 
  • Promover palestras nas universidades para falar sobre o etarismo;   
  • Tornar os diferentes espaços sociais mais integrativos. 

No Brasil existe uma iniciativa chamada Universidade Amiga do Idoso (Unai). Trata-se de uma ação de extensão da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), desenvolvida no ano de 2016, com a coordenação da professora adjunta, Karina do Valle Marques.  

O projeto visa promover atividades educacionais, recreativas, culturais, sociais e voltadas a exercícios físicos e qualidade de vida para pessoas com idade igual ou superior a 50 anos.  

Essa façanha já vem sendo desempenhada, internacionalmente, desde 2012, na Universidade de Dublin, na Irlanda, e atualmente conta com 21 instituições de ensino superior pela Europa, América do Norte, Coréia do Sul e Austrália, sintonizadas em uma rede que sistematizou os princípios fundamentais para a criação de universidades amigas do idoso.  

Os princípios que regem a rede de universidades amigas do idoso e podem ajudar na implementação desse método são:   

  • Estimular a participação dos adultos mais velhos em todas as atividades relevantes da universidade, inclusive os programas de pesquisa; 
  • Garantir diálogo constante com organizações que representem os direitos da população mais velha; 
  • Promover o desenvolvimento pessoal e profissional na segunda metade da vida das pessoas, inclusive dando apoio aos que querem tentar uma nova carreira; 
  • Fazer com que a universidade se engaje e participe de sua própria comunidade de aposentados; 
  • Reconhecer o amplo espectro de necessidades educacionais dos mais velhos, para atender desde os que deixaram a escola precocemente até os que buscam um título de PhD;   
  • Melhorar o acesso dos idosos aos programas da universidade relacionados a saúde e bem-estar, assim como as artes e atividades culturais;
  • Promover o aprendizado intergeracional, facilitando o compartilhamento de expertises entre estudantes de todas as idades; 
  • Ampliar o conhecimento dos alunos sobre os dividendos da longevidade e a riqueza que esta pode trazer para a sociedade; 
  • Ampliar o acesso à educação online para adultos de modo a garantir a diversidade de possibilidades de participação; 
  • Garantir que a agenda de pesquisa da universidade leve em consideração as necessidades relacionadas ao envelhecimento. 

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