Capacitação Docente

Ensinar não é vocação, é aprendizado

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É comum ouvirmos – e mesmo repetirmos – que carreiras na área da educação são adotadas por pessoas que têm uma vocação para ensinar. Embora existam, de fato, muitos professores apaixonados pelo que fazem, é perigoso reforçar a ideia de que o educador nasce com um dom, pois os professores também precisam aprender: aprender a ensinar, aprender sobre seu ofício e sobre as ferramentas que ele tem à sua disposição. Por isso, gestores devem sempre lembrar-se de que a formação do corpo docente da instituição é uma questão de administração, e não apenas de vocação dos profissionais.

Esse é o argumento defendido por Elizabeth Green, editora do site Chalkbeat, em um livro chamado Building a Better Teacher: How Teaching Works (and How to Teach It to Everyone), ou “Construindo um melhor professor: como o ensino funciona (e como ensiná-lo a todos)”, em tradução livre. Para ela, promover a imagem do professor como um sujeito de dons naturais e vocação nata desvaloriza o trabalho envolvido na carreira. É preciso reconhecer o esforço dos bons educadores e estimulá-los a desenvolver suas habilidades ao invés de contar apenas com seus talentos.

Chemistry Teacher with Students in Class
Não são apenas alunos que precisam de aulas
[FONTE: PFL]

Em entrevista ao site Inside Higher Ed, Green ressalta que, para ensinar, deve-se antes aprender inúmeras habilidades e técnicas que estão muito além de, simplesmente, ter um bom conhecimento sobre a disciplina a ser ensinada. Em tempos de frequentes e velozes inovações tecnológicas, o processo de aprendizagem dos professores merece ainda mais atenção. Mesmo um professor com facilidade para se comunicar com seus alunos pode enfrentar dificuldades em lidar com computadores, por exemplo, ou em implementar novas práticas na sala de aula, e caberá aos gestores oferecerem ajuda aos profissionais.

Incentivo à formação
Além de colocar toda a responsabilidade do ensino sobre o professor, a ideia de que ele nasce pronto para ensinar pode influenciar a criação de políticas de governo pouco favoráveis à formação continuada do educador. Para Green, “muitas pessoas acreditam que existe algo de mágico em ensinar”, o que, segundo ela, levou os Estados Unidos a instituírem leis que recompensam os supostos “bons professores” com bônus no salário e punem os “maus professores” com represálias institucionais. No Brasil, não existe tal sistema de bonificação, mas o discurso de que os professores ensinam porque amam o que fazem muitas vezes vem lado a lado com a justificativa por baixas remunerações.

Sad teacher
A falta de incentivo e orientação podem desanimar os professores
[FONTE: The Guardian]

É claro que existem diversos desafios para se manter atualizado na área da educação, mas são os cursos de especialização e a formação continuada que vão garantir não apenas que um bom professor – daqueles que nascem com a paixão por ensinar – consiga se manter à frente de seu tempo, mas também que pessoas com grande conhecimento adquiram a capacidade de passar conteúdo para outros, mesmo que isso não lhes venha com tanta naturalidade. Se nem todo mundo nasce professor, todos podem se tornar professores.

Como defende Green, a formação dos mestres é tão importante quanto a formação dos estudantes, e as instituições de ensino precisam investir em seus profissionais que, afinal, são a base do funcionamento de qualquer curso. A educação se transforma rapidamente: os professores não podem perder o barco.

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Redação
A redação do portal Desafios da Educação é formada por jornalistas, educadores e especialistas em ensino básico e superior.

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