Ensino Básico

Educomunicação: o que é e como aplicar na escola

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A prática educativa não pode estar alheia ao contexto em que acontece, como defendia Paulo Freire. No entanto, a cada dia que passa, a realidade social fica mais complexa.

As crianças de hoje são nativas digitais – e têm as visualidades como principal idioma. Em um mundo de vídeos curtos, efeitos e filtros, é necessário aprender a usar as mídias e entender suas lógicas de funcionamento.

Nesse cenário, trazer a tecnologia para dentro da sala de aula, promovendo o senso crítico e autonomia, é um desafio urgente. É isso que propõe a Educomunicação, uma abordagem que visa a educação para as mídias.

Alunos da escola estadual Raymundo Sá, em Manaus (AM), interagem virtualmente com professores e colegas durante aula a distância produzida no Centro Nacional de Mídias de Educação. Crédito: Marcelo Camargo/Agência Brasil.

O que diz a BNCC

A cultura midiática está em crescimento constante. E a sociedade não está cega para esse movimento.

A Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), por exemplo, alerta para a importância de incrementar as práticas pedagógicas voltadas ao estudo das mídias – o que exige uma postura crítica e ativa.

No Brasil, a remodelação da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) levou em conta as exigências contemporâneas do ensino. Em 2017, a BNCC teve mudanças significativas nas orientações para a educação básica, incluindo a educação midiática.

Segundo o documento, as escolas precisam estar abertas às diferentes linguagens que constituem o cotidiano dos estudantes. Tudo para que os alunos possam “se expressar e partilhar informações, experiências, ideias e sentimentos” nas variadas dinâmicas de ensino.

“É importante que a instituição escolar preserve seu compromisso de estimular a reflexão e a análise aprofundada e contribua para o desenvolvimento, no estudante, de uma atitude crítica em relação ao conteúdo e à multiplicidade de ofertas midiáticas e digitais”, aponta a BNCC.

Leia mais: O desafio da BNCC na prática

Remédio contra as fake news?

Quando as distorções e as mentiras são disseminadas com a facilidade de um clique, educar para as mídias é um dever que deve perpassar os currículos.

Logo, iniciativas de Educomunicação não se limitam ao uso da tecnologia. Sobretudo, elas têm como objetivo preparar os estudantes para uma leitura questionadora do mundo ao seu redor.

“O acesso a uma ampla variedade de tecnologias comunicacionais tem resultado em alterações significativas na infância, principalmente na forma como as crianças se entendem e dialogam com o mundo”, destaca o mestrando em Diversidade Cultural e Inclusão Social na Universidade Feevale e integrante do Grupo de Pesquisa Criança na Mídia, Alissom Brum.

Assim, as plataformas e meios de comunicação não devem ser vistas apenas como um local de entretenimento e consumo de informação, mas como meios de convivência e compreensão da realidade.

Leia mais: Internet: o cenário da conectividade nas escolas

Educomunicação e a promoção da cidadania

Uma escola aberta a pensar e a refletir a mídia amplia a noção dos estudantes sobre o que são os meios de comunicação, de que forma eles se constituem e, principalmente, como ler e se apropriar do que é veiculado.

“Uma escola direcionada à construção da cidadania é uma escola que precisa se fazer aberta e integrada ao novo ecossistema comunicativo, compreendendo que a mídia e os novos códigos comunicacionais estão intrinsecamente ligados ao modo de se existir e de se exercer os direitos de se ser um cidadão”, salienta Brum.

Ou seja, uma nova lógica pedagógica que contemple outros modos de alfabetizar e refletir através dos meios de comunicação depende do domínio sobre as tecnologias midiáticas e de uma postura cidadã diante delas.

Leia mais: A comunicação entre professores e alunos no ensino básico

Como aplicar

“É de extrema importância aproximar os estudantes do sistema de produção midiática, desmistificando o processo criativo e técnico que permeia a criação destes discursos visuais. Isso ajuda a promover um olhar mais consciente”, defende Brum.

Criar vídeos, podcats, blogs e perfis em redes sociais é uma iniciativa que pode ser utilizada em várias disciplinas. Não de forma pontual e restrita, mas continuamente durante a jornada do aluno.

Em outras palavras, a Educomunicação deve ser dinâmica e constante na escola. Ela pode permear aulas de história, ciências, geografia, entre outras. Afinal, os produtos da mídia abarcam narrativas que constituem o corpo curricular da educação.

O papel do professor

Os professores são os principais agentes na promoção de uma pedagogia crítica. É especialmente por meio deles que a construção do conhecimento se qualifica e se sustenta como uma realidade na sala de aula.

“Ser professor, nesta perspectiva, é assumir uma função de mediador da cultura, investigando e questionando o que são conceitos próprios dos indivíduos e o que são consensos adquiridos de outros âmbitos da cultura”, exemplifica Brum.

É perceptível que a escola precisa se atualizar diante das novas formas de conceber e compartilhar conhecimento. O mesmo vale para a formação docente, que precisa acompanhar as novas tendências. Só assim os professores conseguirão formar cidadãos e profissionais mais maduros, críticos e alinhados à realidade.

Leia mais: A qualidade da formação de professores no Brasil, segundo o Enade

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