Sempre que falamos em ensino a distância, pensamos em jovens que estão em busca de cursos que se adaptem ao seu estilo de vida ou de adultos que encontrem nessa modalidade uma forma de impulsionar a carreira sem deixar de trabalhar. Esses são dois públicos recorrentes nas rodas de conversa sobre o aprendizado online. Neste mês, porém, um artigo do The New York Times chamou a atenção para outro tipo de público: o das pessoas que aprendem por lazer, que encaram o ensino como uma forma de entretenimento.
O artigo começa com um exemplo emblemático, que certamente vai abrir a mente de gestores, empreendedores e professores de Instituições de Ensino Superiores. Não é apenas mais uma porta que se abre, é uma oportunidade de negócios. O exemplo de Bill Gates, fundador da Microsoft e um dos homens mais respeitados do mundo pelo seu trabalho filantrópico, é só um entre vários apresentados ao longo do texto.
Encarar a educação também como entretenimento pode ser uma oportunidade de negócio
FONTE: NYT
A matéria conta que, certa vez, em 2013, Gates participou do famoso programa de TV “60 Minutos”. O objetivo do quadro era apresentar o “cantinho inspirador” do homem por trás do Windows. De cara, ele mostrou um manuscrito de 500 anos de idade de Leonardo da Vinci avaliado em US$ 30 milhões, quando Gates o comprou. Em seguida, e para espanto de alguns, o executivo mostrou, com igual entusiasmo e quase a mesma reverência, sua prateleira cheia de cursos em DVD. Gates, que largou Harvard na juventude, contou que já havia assistido o equivalente a centenas de horas de aula de uma faculdade na poltrona da sua casa.
Gates é só um exemplo célebre desse outro estudante que está por aí, mais do que interessado nas possibilidades que se abrem com o ensino a distância. Não se pode negar que o entretenimento chegou a outros campos do conhecimento, inclusive na educação. Mas, ao contrário do que pode parecer, isso é algo bom. O edutainment, ou a “academização do lazer”, como é chamado pelo NYT, está por tudo: nas palestras do TED Talks, nos cursos de férias, nos podcasts temáticos, nos jogos de treinamento cerebral e até em exemplos mais radicais como a Lasell Village, em Newton, uma casa de repouso cujos moradores devem completar “um mínimo de 450 horas de aprendizado e de atividades físicas a cada ano”.
O material didático pode ser tão envolvente quanto qualquer programa de televisão
FONTE: Game Design Scholl
Como a palavra em inglês sugere, o edutainment combina aspectos da educação e do entretenimento em produtos e experiências que visam a melhorar a forma como aprendemos, tornando-a não apenas indolor, como também prazerosa. Por muito tempo, se falou da influência do entretenimento em outras áreas como, por exemplo, o jornalismo, e a transformação de âncoras sérios em apresentadores de programa de auditório, mas a verdade é que essa nova onda para qual o NYT chama a atenção é diferente. O edutainment atual faz o contrário: usa formatos e técnicas de educação para invadir os domínios que antes eram recreativos, ou, pelo menos, não acadêmicos. O sofá da sala em frente da televisão agora funciona como um espaço de aprendizagem e em profundidade.
De acordo com o artigo, vários fatores contribuem para a ascensão de tais produtos. O envelhecimento da população com tempo livre e dinheiro para gastar é um deles. Além disso, o fortalecimento do meio digital permite que os criadores de conteúdo orientem seus ensinamentos para públicos menores com interesses mais especializados. Os alunos, uma vez conectados, possuem a praticidade de poder consumir esses produtos em qualquer lugar e hora que desejarem. A necessidade das próprias empresas produtoras de mídia por novas fontes de receitas também tem impulsionando esse mercado recente.
A moda pegou tanto que, nos Estados Unidos, programas de férias voltados ao aprendizado dos mais variados temas estão sendo lançados. A fome por conhecimento chegou até aos cruzeiros, com ex-presidentes substituindo animadores profissionais. Lech Walesa, ex-presidente da Polônia, vai visitar os participantes de um jornada de aprendizado. César Gaviria, ex-presidente da Colômbia, também estará à disposição em um cruzeiro.
Como bem se sabe, a educação não termina com um grau de bacharel, ou mesmo um Ph.D. Na acelerada economia do conhecimento, para guardar bem aquilo que foi ensinado, é preciso estar constantemente aprendendo. O caminho certo para conquistar os alunos é oferecer experiência e instrução, sem complicação, e, para isso, os elementos do mundo do entretenimento são mais do que bem-vindos. Afinal, o material didático pode ser tão envolvente quanto qualquer programa de televisão.
[…] O edutainment, ou a “academização do lazer” está por tudo: nas palestras do TED Talks, nos cursos de férias, nos podcasts temáticos e nos jogos de treinamento cerebral […]
Interesse no conteúdo de edutainment como método de ensino básico.