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Educação: análise de dados pode identificar problemas e orientar ações

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A coleta e a análise de dados, que se tornaram uma realidade na economia, também está se expandindo para outras áreas. Na educação, por exemplo, o big data (como é chamado esse tipo de prática) pode contribuir para identificar problemas e orientar a ação de gestores, profissionais e governantes – tanto na administração escolar quanto na elaboração de políticas públicas.

“A questão é como fazer para captar essa quantidade de informação”, ponderou Alessandra Montini, professora de Administração da Universidade de São Paulo (USP) e uma das participantes do Data Meeting Brazil, realizado em Brasília, em novembro.

Montini prosseguiu: “O número de dispositivos aumenta, o carro está conectado, até a TV desligada está conectada. Isso é possível porque há muito processamento. Hoje, nosso smartphone é muito mais poderoso do que o computador que levou homem pra lua”.

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Por que os dados

Na avaliação do gerente de políticas do movimento Todos pela Educação, Gabriel Corrêa, o trabalho orientado por dados pode ajudar o segmento educacional de diversas formas.

A primeira é reconhecendo o que funciona. Entre 2007 e 2017, os percentuais de alunos do 5o ano com aprendizagem satisfatória em língua portuguesa e matemática mais que dobraram, saindo, respectivamente, de 28% para 60,7% e de 23,7% para 48,9%.

Outro exemplo é o acesso à escola. Na década de 1970, o índice estava na casa dos 48%. Atualmente, os jovens em idade obrigatória (4-17 anos) matriculados nos ensinos fundamental e médio chegam a 96,8%. “Um montante de dados, quando bem utilizado, pode virar política pública e impactar a vida dos professores e alunos brasileiros”, sugeriu Corrêa.

Por outro lado, a análise de registros sobre serviços educacionais também permite mapear problemas. No ensino médio, por exemplo, 28% dos jovens estão dois ou mais anos atrasados, enquanto 60% dos alunos que concluem o ensino fundamental não têm o aprendizado considerado adequado.

Corrêa acrescentou que a análise de informações permite comparar governos “sem ideologia, com base em resultados”. O integrante do movimento citou ainda desempenhos desiguais entre estados.

Entre 2007 e 2017, “se tomado o aprendizado adequado em língua portuguesa, o Ceará cresceu 44 pontos percentuais, enquanto o Maranhão evoluiu apenas 8”, exemplificou. Por outro lado, enquanto o Maranhão teve, em 2015, R$ 3,4 mil para gastar por aluno, São Paulo investiu R$ 6,5 mil por estudante no mesmo ano.

Leia mais: Com MEC em crise, estados adotam políticas de educação do Ceará

Outra forma de atuação apoiada em dados no setor é o acompanhamento de alunos.

Em São Paulo, o governo elaborou uma ferramenta que ganhou o nome de foco aprendizagem. Por meio da análise da atuação do estudante, ela traça um perfil individualizado a cada professor, inclusive recomendando formas de reparar ou ajudar alunos que apresentem dificuldades a estimular habilidades.

Já a Sagah, ferramenta educacional integrada pelo Grupo A Educação, desenvolveu uma plataforma adaptativa para nivelamento em português e matemática dos alunos do ensino superior. Ela fornece uma lista de exercícios para identificar os principais pontos de carência do aluno assim que entra na graduação.

No nivelamento em matemática, por exemplo, há questões de logaritmo, exponencial e regra de 3. Se o sistema identificar que o aluno não acertou nenhuma das questões de algoritmo, indica vídeos e outros materiais que ajudam o aluno a preencher o gap.

Leia maisLearning analytics: o poder dos dados na instituição de ensino superior

Privacidade

A advogada Elaine Keller alertou, durante o Data Meeting Brazil, que embora o uso da tecnologia traga facilidades ele também envolve ameaças, como à privacidade.

Recentemente, o Brasil aprovou sua Lei Geral de Proteção de Dados (Lei 13.709/2018), prevista para entrar em vigor em agosto do próximo ano. Em um cenário em que plataformas sabem mais sobre as pessoas do que elas mesmas, continuou a advogada, normas protegendo os dados dos indivíduos são fundamentais – e isso inclui a coleta de dados também na área da educação.

“A gente joga ao vento nossos dados e não sabemos qual será o uso, por quanto tempo e onde será armazenado. Isso abre a janela da privacidade e pode ter efeitos maléficos. Pessoas podem usar isso contra os usuários. Por isso, a lei é tão importante, pois obriga que empresas informem a finalidade, como será o armazenado e até quando será usado. É preciso ter proteção à privacidade e à ética”, defendeu Keller.

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*Com informações da Agência Brasil. 

Redação
A redação do portal Desafios da Educação é formada por jornalistas, educadores e especialistas em ensino básico e superior.

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