Além de ser uma forte tendência e uma solução para muitos alunos, a educação online se tornou um grande negócio, ampliando seus domínios para todos os continentes. Para Harman Singh, CEO da WiziQ, esse protagonismo da educação a distância levanta algumas questões do ponto de vista da diversidade cultural dos estudantes.
A ausência de fronteiras na internet permite que alunos do Brasil tenham aulas com professores dos Estados Unidos, por exemplo. Esse intercâmbio resulta não apenas em uma troca de conhecimento, mas de técnicas de ensino, de formas de aprendizado e até de normas e valores da cultura na qual se está inserido. Tamanho cruzamento merece uma atenção diferenciada em razão dos educadores, que estão na linha de frente com estudantes de todas as partes do mundo, mas também dos gestores por trás dessas iniciativas na web, que precisam abraçar a variedade dentro da sala.
Alunos do mundo inteiro podem estar no mesmo curso online
[FONTE: Sonya Woodman]
A primeira e mais evidente diferença entre alunos de países diversos é o idioma. Embora se fale muito na “barreira” do idioma, a verdade é que a mistura que correria o risco de se transformar em uma torre de Babel pode se tornar incentivo para uma maior oferta de cursos de Inglês como segundo idioma. Além disso, cresce também a demanda por aulas em outras línguas, o que obriga as instituições a buscarem profissionais de diferentes países, movimentando o setor da educação.
Outro desafio pode ser na maneira com que os alunos estão acostumados a realizar tarefas. Enquanto no Ocidente é frequente a prática do trabalho em grupo, na qual os estudantes criam um espaço de colaboração e são estimulados a assumir papeis de liderança, no mundo oriental, o trabalho acadêmico coletivo não é comum. Essa visão, em parte, se deve ao respeito pelo mestre, que deve ser o centro do ensino em todos os momentos.
Para lidar com as diferentes expectativas, os educadores precisam de muito jogo de cintura. Algumas ferramentas podem ajudar a agradar gregos e troianos, como um programa de aulas em vídeos, que os alunos podem assistir individualmente ou com os colegas. A existência de espaços colaborativos não obrigatórios, como fóruns, salas de chat e murais virtuais, também permite a participação dos mais sociáveis e o recolhimento daqueles que preferem estudar sozinhos.
Uma turma de EaD pode ter essa cara: idades, cores e nacionalidades distintas
[FONTE: DiT]
Os objetivos de alunos de diferentes países também podem ser bastante diferentes. Para alguns, a educação é um passo essencial no crescimento econômico. Na Índia, um funcionário que ingressa ganhando mil dólares ao mês pode, ao curso de cinco anos, ganhar cinquenta vezes mais, caso se mantenha atualizado e treinado. Em outros locais, a educação não tem um reflexo tão imediato no salário, mas as pessoas buscam cursos para obter maior reconhecimento, satisfação pessoal e novas oportunidades.
Nesse percurso, haverá estudantes mais dedicados e outros para quem as aulas serão menos prioritárias. Enquanto algumas culturas valorizam a educação e enxergam o sucesso acadêmico como símbolo de status, outros países colocam o desempenho escolar em menor evidência. Encontrar um equilíbrio no momento de avaliar esses alunos será uma tarefa fundamental para não desestimular os mais comprometidos mas também para não afastar os menos dedicados.
Por fim, diferenças não culturais, mas de infraestrutura, também influenciam no aproveitamento que os estudantes terão do curso. Acesso rápido, confiável e barato à banda larga de internet é pré-requisito para a popularização da educação online. E mesmo garantidas as necessidades básicas de equipamento, haverá diferente níveis de habilidade dentro da mesma turma. Mais uma vez, caberá ao educador integrar todos os alunos.
Como se vê, a educação a distância depende inteiramente da tecnologia, mas seu sucesso enquanto prática de ensino depende da inteligência humana, sobretudo de professores e gestores. Haverá desafios pelo caminho, mas a diversidade cultural pode enriquecer ainda mais a experiência de aprendizado e contribuir com a distribuição global de conhecimento.
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