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Que a leitura é importante desde a infância, muitos sabem. Os benefícios da leitura em todas as fases do desenvolvimento de uma criança – e mesmo de um adulto – estão bem documentados por pesquisadores e especialistas. Mas como criar um leitor? Existe receita para formar o hábito da leitura? O que envolve esse processo? Como os pais podem incentivar o contato com os livros desde cedo nas crianças? O Desafios da Educação foi atrás de algumas respostas. A seguir, você confere uma lista com dicas práticas que ajudam na formação de pequenos leitores.


Dê o exemplo  

Desenvolver o interesse pela leitura na primeira infância é a chave para criar um leitor no futuro. E o papel dos pais nesse processo é fundamental. “Um leitor começa a se formar muito antes de ele identificar as primeiras letras”, diz Mônica Timm de Carvalho, mestre em gestão educacional e CEO da plataforma de leitura para escolas Elefante Letrado.

“Ao ouvir histórias contadas por seus pais, ao ver adultos manuseando e lendo livros, ao perceber o quanto a escrita está presente nas nossas vidas. Uma vez feita essa ponte, é muito mais fácil a alfabetização e a conquista da autonomia para a leitura.”

Em outras palavras: quer criar um novo leitor? Seja um leitor.

Leia para os bebês

De acordo com um guia do jornal The New York Times, os bebês expostos à leitura aprendem que a prática é divertida. Eles também têm os sentidos aguçados ao tocar nas páginas, observar as ilustrações, o som da voz dos pais. Livros texturizados são especialmente bons para a experiência tátil de seu filho. Quando estiver lendo para a criança, faça contato visual, mas não procure uma reação específica. Pode parecer que os bebês não estão ouvindo, mas eles estão, sim, absorvendo a experiência.

Saiba mais: O incentivo à leitura de forma independente e orgânica nas crianças

literatura infantil

Instituto de Leitura Quindim: apenas 45% das escolas públicas brasileiras têm biblioteca ou sala de leitura. Crédito: Patrícia Tavares/divulgação.

Leia em voz alta

Os livros infantis são fantásticos e garantem um ótimo aproveitamento para a leitura. Lê-los em voz alta gera benefícios para o comportamento e a atenção dos pequenos. O truque está em promover uma leitura viva, dirigida à criança. Esse ato ajuda a aguçar, por exemplo, o desenvolvimento da linguagem e alfabetização.

Para ajudar nesse ponto, a editora Brinque-Book lançou a iniciativa Ler e ouvir. Títulos como “Abrapracabra!”, “A princesa e as ervilhas” e “O urso pulguento” contam com leituras gravadas em áudio com locução profissional e efeitos sonoros. A leitura é acessada via smartphone ou tablet, bastando escanear o QR Code disponível no interior do livro.

Respeite o gosto da criança

Atire a primeira pedra quem nunca comprou um livro infantil só porque você, e não o filho, gostou. Isso acontece bastante – e tudo bem, faz parte do processo de introdução à leitura. Mas à medida que a criança se desenvolve, é preciso dar atenção às suas predileções pessoais. O cuidado é importante para incentivar o aumento do repertório individual, além de tornar o processo de leitura mais prazeroso.

Ofereça novas perspectivas

Mas não é porque a criança gosta de ler os mesmos livros de sempre que você precisa seguir essa linha. Apresentar novidades, e não ter medo de expor assuntos aos quais ela não está inserida, é tão importante quanto satisfazer suas vontades literárias. Apresente-lhe livros sobre história da arte, geologia, outras culturas. Obras que explorem os sentimentos, como gratidão, saudade e tristeza, também são ótimas opções.

“A menina que abraça o vento” (editoria Vooinho), por exemplo, mostra a realidade de uma refugiada congolesa no Brasil. Ao mesmo tempo em que aprende uma nova língua e se acostuma à nova cultura, a menina precisa lidar com saudade do pai, que ficou na República Democrática do Congo. Já “Um belo lugar” (editora VR) e “Tanta Chuva no Céu” (Editora do Brasil) são obras que ajudam o leitor a entender melhor o processo do luto e do sofrimento.

Saiba mais: Reggio Emilia: as cem linguagens das crianças, agora em mini-histórias

Quer formar leitores desde pequenos? Leve as cianças às feiras de livro. Crédito: Joel Vargas/PMPA.

Leia com frequência

“A leitura é sobretudo prática”, garante Antonio Hohlfeldt, professor dos cursos de Jornalismo e Letras-Português da PUCRS e diretor do Teatro São Pedro, em Porto Alegre. Christian David, autor de obras como “Três finais de um jacaré” (editora Physalis) e “O dilema dos juros de chocolate” (editora Borunga), acrescenta: “É necessário um esforço contínuo desde cedo, para o bom acesso ao mundo das histórias com literatura variada e de qualidade”.

O melhor momento para ler costuma ser à noite, antes de dormir – é uma rotina em muitas famílias. Nesse caso, certifique-se de que a atmosfera seja relaxante e não apressada. Mas também leia com seu filho durante o dia – você pode convidá-lo a qualquer hora para esse momento de conexão. Além disso, caso tenha carro, considere deixar alguns livros no veículo. Isso estimula a leitura e ajuda a criança a vencer o tédio enquanto se está preso no trânsito ou numa longa viagem.

Não tema as interrupções

Não fique tão preso ao próprio ritmo de leitura a ponto de ignorar os comentários e perguntas de seu filho. Lembre-se: as interrupções mostram que seu filho está engajado. Também deixe-o virar as páginas. Isso dará a ele o controle do ritmo da leitura ao mesmo tempo em que desenvolve habilidades motoras finas. “A melhor maneira de incentivar a criança é brincando, resgatando o mundo da fantasia, vivendo e aguçando o lúdico”, diz Erica Mylius, presidente da ONG Cataventus, de contação de histórias infantis.

Visite a feira do livro

Se na sua cidade ou região ocorrem feiras desse tipo, não perca a oportunidade. As feiras de livro geralmente contam com vários estandes especializados, além de programação especial voltada ao público infantojuvenil – com foco em reforçar o hábito da leitura.

Forneça detalhes sobre os livros 

Uma forma interessante de cativar o pequeno leitor é oferecer informações adicionais sobre a obra. Além do título, conte de quem é a autoria e a ilustração. Também mencione a editora. São informações que permitem a criança a ir além do lúdico – despertando o interesse sobre como é que os livros são feitos. A boa dica, aqui, é conferir “Como surge o livro infantil: da ideia à prateleira” (editora Sesi-SP). Narrada por uma raposa, a obra explica todas as etapas da produção de um livro infantil – da criação da história até o momento que o livro vai parar nas livrarias.

Considere assinar um clube de livros infantis

Talvez você tenha chegado até aqui e decidido a criar um leitor ou que seu filho precisa ler mais, mas não sabe por onde começar. Ou que seu filho é um leitor ávido, mas está tendo problemas para encontrar livros fora de seus gêneros favoritos. A solução para esses e outros dilemas literários podem ser um clube de livros infantis.

Funciona assim: ao pagar um valor mensal fixo, recebe-se em casa um livro. Não são os pais que escolhem o produto. A tarefa fica a cargo de autores, especialistas da indústria, bibliotecários e livreiros, responsáveis pela curadoria. As obras geralmente são uma surpresa – e isso é parte da diversão. No Brasil, alguns clubes de livros para crianças incluem o Quindim, A Taba e, Dentro da História, Clube da Gurizadinha e o Leiturinha.

Leia mais: Uma conversa com Itamar Vieira Junior sobre ‘Torto Arado’ e a educação brasileira

Com produção e edição de Gabriela Bittencourt e Leonardo Pujol.

Redação Pátio
A redação da Pátio – Revista Pedagógica é formada por jornalistas do portal Desafios da Educação e educadores das áreas de ensino infantil, fundamental e médio.

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