XV CBESP

CBESP encerra com reflexões sobre empreendedorismo e o futuro da educação

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O terceiro e último dia do XV Congresso Brasileiro da Educação Superior Particular (CBESP), realizado no Tauá Resort Alexânia (GO), foi marcado por reflexões, mas também por indagações sobre o futuro do ensino e o papel dos líderes educacionais nesse cenário.

A cerimônia de encerramento, nesta sexta-feira (26), contaria com a presença da ministra do Meio Ambiente e Mudança Climática, Marina Silva, mas ela teve que cancelar sua participação após ser convocada para uma reunião de última hora com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.  

Com foco no empreendedorismo, o painel “Novas lideranças para um Brasil inovador” também abordou a experiência educacional sob o ponto de vista político, uma vez que contou com a presença da prefeita de Bezerros (PE), Lucielle Laurentino, e do deputado federal Átila de Melo Lira (PP-PI).  

Empreendedorismo e políticas públicas foram temas do painel.

Em sua explanação, Laurentino, que também é professora de Geografia, argumentou que a decisão de ingressar na política foi baseada na ideia de “devolver um pouco do que a educação me permitiu conquistar”. “Sou filha da escola pública em tempo integral”, disse. 

Esse objetivo a levou a incentivar o projeto Empreendedorismo na Escola. A iniciativa foi implementada de forma embrionária no município pernambucano há menos de um ano, com cooperação técnica da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), através do Instituto Êxito de Empreendedorismo. 

As atividades extracurriculares ocorrem no contraturno escolar e, no caso do ensino médio, que é em tempo integral, aos sábados. Segundo a prefeita, um dos principais resultados é a ampliação de repertório dos estudantes, que ficam mais preparados para as novas demandas do mercado de trabalho. 

“As pessoas questionam por que estimular noções de empreendedorismo de forma tão precoce (126 alunos dos ensinos fundamental e médio foram selecionados na primeira etapa). Entendo que, como educadores, precisamos promover o desenvolvimento de habilidades e competências conectadas com o século 21”, afirmou Laurentino. “De iniciativas como essa surgirão os líderes do futuro. Cabe a nós dar uma oportunidade para esses meninos e meninas se desenvolverem.” 

Mediador do painel, o presidente do Instituto Êxito aproveitou para lembrar que, em breve, o Empreendedorismo na Escola chegará também a Balneário Camboriú (SC). 


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Desafios da educação brasileira e o papel das IES privadas 

Parlamentar de primeiro mandato, Átila Lira também começou sua fala explicando porque resolveu ingressar na vida pública. “Assim como vocês, sou empreendedor educacional. Foi por isso que resolvi levar minha experiência da área privada para a política: porque entendo que sabemos como fazer as coisas acontecerem”, afirmou. 

O deputado propôs uma série de reflexões sobre os desafios educacionais do Brasil. Para ele, o debate sobre a revogação ou não do Novo Ensino Médio requer cautela. “Sou daqueles que defendem um ajuste, com avanços na carga horária, nos itinerários formativos que incluem o empreendedorismo”, pontuou. 

Depois, criticou o modelo atual do Fundo de Financiamento ao Estudante do Ensino Superior (Fies), que, segundo ele, não é mais sustentável. “Temos desigualdade de acesso nas instituições de ensino superior (IES), mesmo com políticas públicas. Isso passa pela falta de financiamento adequado. Enquanto tivermos o Fies como despesa, não vamos conseguir resultados”, ressaltou o parlamentar. 

Entre outros pontos que julga necessário melhorar, Lira citou a inovação, a internacionalização do ensino, a inclusão no acesso e os métodos de avaliação. Em relação ao primeiro aspecto, lembrou que, quando se trata de soluções que envolvem criatividade, o acesso é mais democrático. O problema é quando entra a tecnologia, que custa caro. “Precisamos de cursos mais flexíveis e atualizados, de gamificação, realidade virtual, realidade aumentada, entre outros, que sejam acessíveis para todos.” 

Em relação ao acesso, Lira destacou que é preciso ampliar a inclusão de grupos historicamente excluídos, através de programas de concessão de bolsas, como o ProUni. E voltou a pedir uma revisão do Fies. “O novo governo tem uma visão mais sensível sobre a educação. Nesse sentido, podemos pensar em um Fies menos bancário e sem burocracia exagerada, como já soubemos fazer no passado. Basta ter vontade política.” 

O parlamentar também defendeu que os instrumentos avaliativos devem ser revistos. Segundo ele, é preciso refletir se exames como o Enade, que requerem uma “estrutura gigantesca”, realmente avaliam os estudantes de forma correta. “Hoje falamos em novas competências, skills. É preciso que uma avaliação leve em consideração todos esses aspectos”, refletiu. 

Por fim, o deputado lembrou o papel das IES privadas para o desenvolvimento do País. “Se temos vagas ociosas, mais baratas, que geram um milhão de empregos, viabilizar o acesso a essas instituições é um caminho que a gente precisa trilhar.” 

Sintetizador do painel e consultor jurídico do Fórum, José Covac Júnior complementou lembrando que ninguém nasce empreendedor. “A gente aprende a empreender. E o papel das IES é criar o ambiente para que isso aconteça, mostrar como desenvolver o empreendedorismo dentro da nossa realidade”, resumiu. 

Confira o painel “Novas lideranças para um Brasil inovador” na íntegra:

Professores podem ser influenciadores? 

O talk-show de encerramento teve a participação João Pedro Paes Leme, sócio-fundador da startup de mídia Play 9. Em conversa com o presidente da Associação Baiana de Mantenedoras do Ensino Superior (Abames), Carlos Joel Pereira, e com o presidente da Linha Direta, Marcelo Chucre, o jornalista falou sobre a necessidade de as IES estarem mais sintonizadas com o que os jovens pensam. 

“O desafio é fazer o docente mais próximo do discente. Se usarmos essas duas palavras (docente e discente), por exemplo, 80% do nosso potencial público não vai saber do que se trata. Então, em primeiro lugar, é preciso fazer uma desconstrução da narrativa”, ressaltou Paes Leme. 

A questão do diálogo acessível e conectado com os jovens permeou toda a conversa. E não à toa: um dos sócios do jornalista na Play 9 é Felipe Neto, o maior influenciador do Brasil. A empresa agencia uma rede de youtubers e tiktokers, entre eles o professor Noslen Borges, que tem mais de 4 milhões de inscritos em seu canal no YouTube.  

“Quando falamos de influenciadores, há um estigma contra essas pessoas. Mas o Noslen tem uma conexão com os alunos muito poderosa. É o maior canal de educação do Brasil”, destacou Paes Leme.  

O jornalista defendeu o uso de recursos tecnológicos na educação, da inteligência artificial (IA) à gamificação. Mas lembrou que essas ferramentas, por si só, não são suficientes para atrair os jovens para o ensino superior. Segundo ele, há dois caminhos: aproximando as IES de influenciadores que atuem como “embaixadores” delas ou adotando uma linguagem mais próxima dos jovens.  

“O professor já é um influenciador por natureza. As pessoas que influenciaram nossa vida são nossos familiares e professores. Eles não podem perder esse protagonismo por conta de uma peculiaridade, que é a tecnologia. É apenas uma mudança de plataforma, e é mais fácil nos adaptarmos a essa mudança do que lutar contra ela”, ponderou. 

O CBESP é um evento realizado pela Linha direta e promovido pelo Fórum das Entidades Representativas do Ensino Superior Particular. Todos os painéis desta edição estão disponíveis no YouTube 

Confira o talk-show de encerramento na íntegra:


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Redação
A redação do portal Desafios da Educação é formada por jornalistas, educadores e especialistas em ensino básico e superior.

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