Depois de uma abertura pontuada por críticas ao marco regulatório da educação a distância (EaD), o segundo dia do Desafios da Educação Talks 2024 se concentrou em aspectos estratégicos para o crescimento das instituições de ensino superior (IES).
Realizado nesta quarta-feira, 27/11 — Dia do EaD —, o painel “Estratégias adaptáveis: EaD para IES de todos os portes” teve a participação do diretor de Negócios do Grupo Integrado, Rafael Zampar, e da diretora de EaD dos cursos de graduação da PUCPR, Manoela Pierina Tagliaferro.
A mediação ficou por conta de Rodrigo Severo, diretor de Negócios e Operação da Plataforma A. Ele abriu o painel destacando uma competência presente na jornada de todas as IES que trabalham com educação a distância: adaptação.
“A modalidade está sempre se adaptando em busca de novas ideias e abordagens”, observou, elencando os principais pontos de mudança: mercado, regulação, perfil dos estudantes e atualização de currículos, formatos e metodologias. “É essencial ouvirmos profissionais experientes para entender o que eles têm feito para trabalhar com projetos significativos e pioneiros.”
Do presencial para EaD: uma mudança de mentalidade
Ao iniciar sua apresentação, Rafael Zampar fez questão de ressaltar que, embora atue no ensino superior há mais de 15 anos, sua vivência na educação a distância é relativamente recente. “Minha história na EaD se confunde com a do Grupo Integrado”, disse. Mas, antes de se aprofundar nela, o gestor optou por compartilhar algumas dicas para ter sucesso na modalidade.
Estratégia para EaD: 6 premissas para o sucesso, conforme Rafael Zampar
- Foco na experiência do estudante – Na educação privada, o aluno comumente é tratado como um cliente. É preciso, portanto, ouvir esse cliente para saber o que ele deseja.
- Aprendizagem personalizada e adaptativa – Se existem estudantes com as mais diferentes competências, as IES devem oferecer diferentes experiências de aprendizagem.
- Capacitação docente – Os professores, em geral, são advindos do ensino presencial. Eles precisam estar dispostos a se adaptar à nova realidade para dialogar com os estudantes.
- Gestão da aprendizagem – É fundamental acompanhar o progresso do estudante (por meio de análise baseada em dados) para ter certeza de que a aprendizagem está sendo efetiva e significativa.
- Flexibilidade tecnológica – A entrega de conteúdo deve ser feita em diferentes formatos, para contemplar diferentes maneiras de aprender.
- Sustentabilidade operacional e financeira – É preciso garantir que o negócio seja adequado e sustentável, entregando os resultados que a IES espera, tanto financeiros quanto qualitativos.
Em seguida, Zampar fez um breve relato sobre a trajetória do Grupo Integrado na EaD. Apesar de atuar há 26 anos no mercado de ensino superior — e há 38 na educação básica -, a instituição de Campo Mourão (PR) só aderiu à modalidade em 2018.
Um ano depois, o formato foi expandido para os cursos de pós-graduação, o que exigiu uma adaptação rápida. Isso foi viabilizado por meio de parceria com a Plataforma A.
“Buscamos apoio com as Unidades de Aprendizagem da SAGAH, que foram implementadas tanto na graduação quanto na pós. A partir daí nasceu um relacionamento que dura até hoje”, destacou.
Zampar lembrou que até a pandemia 95% dos alunos da IES ainda estudavam na modalidade presencial. Com o isolamento social, os professores se viram obrigados a experimentar formatos para lecionar remotamente.
Nesse sentido, apesar das circunstâncias trágicas, o período de isolamento trouxe alguns ensinamentos para o setor educacional. “Naquele momento, a EaD estava muito focada em aulas assíncronas. A pandemia acabou popularizando o formato síncrono. Aprendemos com isso e temos incorporado em nossas práticas”, explicou o gestor.
O mais recente avanço da IES ocorreu em 2023, quando deu início à oferta de cursos híbridos nas áreas de Saúde e Agronomia — esta última uma de suas especialidades, por conta das demandas de mercado do interior paranaense.
“Para nossa surpresa, recebemos um público novo, mais parecido com o que buscava o ensino presencial, que sente a necessidade dessa interação. Mais uma vez, tivemos que adaptar o formato para entender o que deve ser presencial e online”, revelou Zampar.
O diretor de Negócios do Grupo Integrado encerrou sua apresentação com cinco sugestões para uma adaptação bem-sucedida em EaD e ensino híbrido. São elas:
- Ouvir o estudante;
- Olhar para a qualidade do material;
- Ter sensibilidade na escolha do docente;
- Acompanhar o estudante;
- Explorar as diferentes oportunidades tecnológicas.
Ele se ateve principalmente aos cuidados com a composição do corpo docente. “O professor no EaD não pode replicar a mesma aula que dava no presencial, que é muito expositiva. Por isso a importância de investir em capacitação”, complementou.
Implementando práticas extensionistas na educação a distância
Com 19 anos de atuação na EaD (inclusive com a experiência de utilizar videoaulas para tribos indígenas), Manoela Tagliaferro fez uma apresentação sobre estratégias para a implementação de práticas extensionistas na modalidade. Com apoio da Plataforma A, por meio de sua solução de gestão de projetos acadêmicos, a PUCPR fez algumas tentativas de implementar a curricularização da extensão, até chegar ao bem-sucedido modelo vigente.
O processo consiste em três frentes: formação para práticas extensionistas, um Hub de Extensão e a gestão dessas práticas.
“Dentro da solução da Plataforma A, a formação está organizada em módulos, de forma a trabalhar toda a parte regulamentar e a aplicação de como o estudante vai a campo para executar as práticas extensionistas”, explicou a educadora. “É uma formação bastante concisa para capacitar e orientar os estudantes sobre o que é e como funciona a prática extensionista.”
No Hub de Extensão, se encontra a plataforma de gestão de práticas da edtech, renomeada na PUCPR como Conecta. Um dos destaques é uma calculadora de extensão, para que o aluno possa entender quanto falta de carga horária.
“Há também vários exemplos de práticas, já que cada curso tem seu público-alvo, suas necessidades e campos possíveis para aplicação da extensão”, complementou a diretora, que apresentou como exemplo o projeto Elas na Liderança, desenvolvido por uma aluna para capacitar mulheres cooperadas como líderes no setor agroindustrial.
Segundo Tagliaferro, o hub é importante porque serve como um espaço de consulta permanente: “O aluno faz a formação inicial, mas precisará revisitar os documentos e processos que deverá executar para ter de fato uma extensão aplicada. Com todas essas informações integradas, fica mais fácil”.
O estudante também pode simular as práticas extensionistas que deseja fazer no decorrer do curso — desde a prestação de serviços a oficinas e workshops. “Dessa forma, a extensão se torna algo realmente produtivo e que agrega à formação desse estudante na graduação”, complementou a gestora.
Capacitação docente: qual é a melhor estratégia?
No encerramento do painel, Rodrigo Severo retomou os temas abordados e, com base nos questionamentos do público, pediu que os painelistas falassem mais sobre o processo de capacitação docente em suas instituições. Em termos de EaD, a preocupação seria mais acadêmica ou direcionada ao uso de novas tecnologias?
Para Zampar, o conhecimento das ferramentas tecnológicas é essencial, mas, antes disso, é preciso pensar em uma mudança cultural. “No Grupo Integrado, os professores não assumem uma disciplina na educação a distância sem passar por processos de capacitação continuada. Eles começam fazendo alguns cursos prontos na plataforma e terminam dentro de um estúdio de gravação”, destacou.
Outra iniciativa da IES foi a criação de uma pós-graduação online e gratuita baseada em práticas inovadoras. “Os educadores passam por todos os cenários: primeiro o online, olhando para uma trilha de aprendizagem dentro da plataforma, e depois em momentos presenciais, para compartilhar experiências que possam mudar um pouco essa cultura.”
Tagliaferro, por sua vez, sugeriu que investir em projetos de lifelong learning é uma necessidade de todos os mercados, mas ainda mais urgente na educação. “Trabalhamos em capacitações periódicas, no início dos semestres. E, desde a pandemia, desenvolvemos uma formação remota para os professores com acompanhamento e tutoria”, apontou.
Um tema bastante discutido na IES é o uso de inteligência artificial. Segundo ela, há grupos de discussão e formação destinados especificamente para essa área. Além disso, a PUCPR conta com uma formação direcionada para o público EaD, mais técnica e objetiva.
Desafios da curricularização da extensão
- O tema das práticas extensionistas também foi retomado por Severo. Ele questionou como as IES conseguiram encontrar o equilíbrio entre carga horária (que deve representar, no mínimo, 10% da carga horária total do curso), metodologia e formas de implementação.
Tagliaferro explicou que na PUCPR foi feita uma tentativa de introdução das práticas na carga horária das disciplinas que tinham algum caráter de extensão. Porém, a estratégia não funcionou.
“A duração dos módulos é curta, e a dinâmica para que o aluno se ambiente e tenha a profundidade necessária na extensão para depois ir a campo ficou defasada”, argumentou.
A solução foi ouvir e mapear as dores dos estudantes. A partir desse feedback, a metodologia mudou drasticamente.
“Hoje o aluno faz a extensão como se fosse uma atividade complementar. Tem carga horária para cumprir, com diretrizes e regras, mas possibilitamos que ele a faça do segundo semestre até o término”, disse a diretora. No primeiro semestre, o estudante participa de uma formação, com lives quinzenais e acompanhamento de um orientador, para conhecer a proposta e realizar a atividade simulada. Só depois ele vai a campo.
Porém, nem tudo são flores. Tagliaferro ressaltou que as empresas ainda desconhecem o propósito das atividades extensionistas, o que acaba limitando o campo de atuação dos estudantes. “Diferentemente das licenciaturas, em que todas as escolas sabem que vai ter um aluno batendo à porta para fazer um estágio, não há essa mesma cultura quando ele vai fazer extensão. Esse é um espaço a ser desbravado.”
Zampar elogiou a metodologia citada pela colega, dizendo que o Grupo Unificado também tentou introduzir atividades extensionistas nas disciplinas e agora está no processo de migração para uma unidade curricular específica. Por outro lado, disse não ter tantas dificuldades em encontrar espaços dispostos a abrirem suas portas para projetos de extensão.
“Acho que isso se deve ao fato de estarmos no interior e fazermos parte de um hub de recursos humanos com as maiores empresas da região. Elas dão vários inputs para os nossos currículos. Ouvimos dos profissionais de RH o que eles esperam dos profissionais e eles sempre mencionam a importância do desenvolvimento de soft skills. A extensão possibilita justamente isso, o que nos ajuda a ter uma grande abertura com diversas entidades.”
Você pode assistir ao painel na íntegra neste link ou no player abaixo:
E aqui você tem acesso à apresentação do primeiro dia, sobre o Panorama do EaD no Brasil em tempos de nova regulação.
Confira a programação do último painel do Desafios da Educação Talks
Realizado pela Plataforma A em parceria com o Desafios da Educação, o Desafios da Educação Talks se encerra nesta quinta-feira, 28/11, com o painel “EaD em diferentes países: cases Monterrey e UCPel”.
Os convidados são Luis Fernando Morán Mirabal, líder do Living Lab, do Institute for the Future of Education, no Tecnológico de Monterrey (México); Patrícia Giusti, diretora de Educação a Distância na UCPel; e Hector Escobar, diretor acadêmico regional para América Latina e Espanha da Plataforma A. A mediação é de Vinicius Dias, CEO e sócio da Algetec — Soluções Tecnológicas em Educação.
O painel, que começa a ser transmitido às 16h, é exclusivo para parceiros da edtech. Para assistir, é preciso preencher o formulário de inscrição.
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