Tecnologias e metodologias de aprendizagem são temas pertinentes ao ensino superior e recorrentes em discussões do setor. Porém, é preciso ir além, e é isso que o livro “Transformando a sala de aula: ferramentas do Design para engajamento e equidade”faz ao trazer uma nova perspectiva sobre o assunto, com um olhar direcionado a diversidade e inclusão.
Novo lançamento do selo Penso, a obra foi escrita por Gustavo Severo de Borba, mestre e doutor em Engenharia de Produção, e Melissa Merino Lesnovski, mestra e doutora em Design. Ambos são professores de Design na Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos).
A inspiração para o texto foi um levantamento de duas pesquisadoras norte-americanas, Corey Seemiller e Meghan Grace, que, em 2018, resultou no livro “Generation Z goes to college“. Em 2021, o estudo se estendeu, reunindo dados e perfis de alunos em 40 países, incluindo o Brasil – nesse ponto, os autores, que já conheciam os resultados iniciais da pesquisa, pediram autorização para aplicar a metodologia por aqui, participando do levantamento global.
Com os dados, eles entenderam a necessidade de discutir inovação, educação e comportamento. Para isso, distribuíram suas descobertas nos seis capítulos do livro, trazendo à tona um questionamento: quais os principais aspectos que guiarão a educação do século XXI?
Métodos e objetivos
Atualmente, o estudo conduzido por Seemiler e Grace está na fase de análise e comparação de dados entre os estudantes de todas as nacionalidades participantes. No Brasil, o levantamento contou com a resposta de 908 alunos para entender seus hábitos e percepções da realidade em um mundo pós-pandêmico.
Com isso, Borba e Lesnovski descobriram quais características, em relação à conduta pessoal, os jovens percebiam como mais importantes para si e quais eram as menos comentadas. Eles também reuniram as principais respostas sobre os impactos da crise sanitária nas relações sociais dos entrevistados e trouxeram um direcionamento para os comportamentos desses estudantes na atualidade.
Outro resultado obtido foi o ranqueamento dos principais recursos pedagógicos usados pelos 478 professores entrevistados no Brasil. Todos esses dados estão distribuídos no livro em planilhas e gráficos, o que facilita o acesso e a compreensão dos números.
Leia mais:
- Governo anuncia reajuste de bolsas de graduação, pós, iniciação científica e permanência
- Parceria com iniciativa privada pode ajudar a solucionar a crise da pesquisa científica no Brasil
- Mulheres e meninas na ciência: conheça 8 personalidades que ajudaram a mudar o mundo
Como transformar uma sala de aula
Entender o comportamento dos estudantes e como isso impacta na sua relação com as plataformas digitais é fundamental para um processo educacional de qualidade. A empatia, em relação a cada realidade, também deve ser levada em conta no desenvolvimento de ferramentas e metodologias de aprendizagem.
Conhecer a diversidade em uma turma ajuda a não compactuar com uma educação que busca formatar pessoas dentro de um padrão. Por anos, o símbolo do sucesso foi o homem heterossexual cis (que se identifica com o gênero biológico) e branco. Quando havia mulheres nesse patamar, elas seguiam os mesmos padrões. Era essa a visão que os professores buscavam encontrar em seus alunos.
Os autores admitem que também compartilhavam desse pensamento, uma vez que suas formações docentes foram construídas sob esses parâmetros. “Entendíamos os alunos como folhas em branco. Havia, nitidamente, uma diferença entre eles. Mas buscávamos trazê-los ao padrão”, lembram.
Outro pensamento
A mudança de mindset dos professores em relação aos temas diversidade e tecnologia é um dos principais catalisadores da mudança de ensino e um propulsor ao engajamento dos estudantes. O apego às certezas é prejudicial ao avanço, impedindo transformações necessárias e naturais.
A revolução tecnológica e digital democratizou esse entendimento. Isso tirou do professor o título de detentor de todo o conhecimento e o colocou no papel de mediador. Realizar essa tarefa ficou mais difícil, pois o docente precisa competir com todos os canais digitais pela atenção do aluno e entender como utilizá-los.
Isso é o que os autores chamam de uma “complexidade quase paradoxal”, porque, quanto mais acesso se tem à informação e às múltiplas plataformas, maior a dificuldade dos alunos para compreender as possibilidades de uso das ferramentas e conteúdos.
É nesse momento que o professor surge como um guia para aquilo que de fato ensina e o que apenas atrapalha, além de pensar e utilizar métodos que dialoguem com a nova geração de estudantes e suas formas de ver o mundo.
Design a favor da diversidade
O livro oferece ao público um “Canvas da diversidade”. Ou seja, instrumentos para planejamento das disciplinas, levando em consideração a equidade e a tecnologia. Esse design de sala de aula é um ponto de partida para que os professores possam desenhar suas próprias estratégias de ensino, a partir de suas realidades e dos seus alunos.
Por meio dessa ferramenta, o professor poderá saber em quais aspectos a turma é mais ou menos diversa, levando em conta características como raça e etnia, gênero, agregado familiar, classe social, crenças religiosas, identidade, capacidades físicas e cognitivas.
O objetivo central desse recurso é desenvolver metodologias capazes de suprir as necessidades de cada aluno em seu contexto individual. Ter um design adaptativo e funcional ajuda a transformar a relação entre professores e alunos e estimula a produtividade da aprendizagem.
Partindo para a ação
A maior reflexão que o livro traz está relacionada ao futuro da educação. A pandemia acelerou uma série de mudanças sociais que já estavam em curso. Reconhecê-las é a melhor forma de acompanhar esse processo.
Mesmo admitindo ser uma tarefa difícil, os autores propõem o exercício de imaginar o amanhã com base nos acontecimentos e as necessidades do agora. Não para criar um manual de práticas infalíveis, mas para fomentar práticas mais inclusivas e conectadas com as novas demandas educacionais.
Comments