SÃO PAULO (SP) – Preocupadas com o bem-estar e o futuro dos alunos, as instituições de ensino superior (IES) criam ações para estabelecer vínculos mais fortes e promover experiências de aprendizagem inovadoras. Tudo para mantê-los presentes, engajados e satisfeitos com a jornada acadêmica.
Mas os desafios são inúmeros – e globais. Em palestra durante o primeiro dia do 24° FNESP, o presidente da Olin College of Engineering convocou os gestores da área para elaborar uma coalização em prol de uma educação capaz de transformar vidas.
Para Richard K. Muller, são três frentes prioritárias de ação:
- Saúde mental dos alunos;
- Retorno financeiro após a formatura;
- Combate à perda de apoio público ao setor.
“Em Washigton, a segunda maior taxa de mortes por suicídio é entre pessoas entre 10 e 34 anos. Isso não acontecia antes e envolve alunos universitários. É uma crise do ensino superior”, alertou Muller.
Ele trouxe mais dados que chamam a atenção. Nos Estados Unidos, onde o governo federal monitora o impacto do ensino superior na vida dos alunos, passados dez anos da matrícula na graduação, quase 1/3 dos egressos estão em uma situação financeira pior.
“Se não fizermos algo para resolver essa situação, as consequências serão terríveis. A nossa missão como coalização é formar uma comunidade de líderes comunitários para implementar novas práticas na educação, em uma onda planetária por experiências de bem-estar para os alunos”, disse.
Renovação acadêmica e administrativa na Unifor
O primeiro debate da tarde, no primeiro dia do FNESP, também contou com representantes de IES brasileiras. Elas apresentaram saídas para os dilemas expostos por Muller, da Olin College of Engineering. Em outras palavras, como melhorar o bem-estar dos alunos.
Na Universidade de Fortaleza (Unifor), por exemplo, a estratégia está baseada em duas dimensões: acadêmica e administrativa.
Em 2012, a instituição cearense iniciou a renovação do portfólio de cursos e das matrizes de 44 graduações, implementando currículos por competência que colocam o aluno no centro do processo de aprendizagem. Paralelamente, criou uma central de carreiras e acompanhamento de egressos.
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“O tempo inteiro, precisamos estimular a vida profissional dos alunos, gerando oportunidades de estágio e emprego”, destacou a vice-reitora de ensino de graduação e pós-graduação da Unifor, Maria Clara Bugarim.
Além disso, o Núcleo de Inovação e Pesquisa da universidade oferece editais com recursos próprios para envolver os alunos no desenvolvimento de projetos. Nessa área, a curricularização da extensão tem papel estratégico e coloca os estudantes para tocar projetos desde o primeiro semestre.
Na parte administrativa, a Unifor conta com uma célula de gestão da permanência, com painéis de predição do processo estudantil e réguas de relacionamento com a participação de docentes e tutores. Do lado da captação, uma estratégia de marketing integrado garantiu, nos últimos anos, um crescimento de 6% nos índices de captação, apesar do aumento da concorrência.
“Não adianta trabalhar na captação sem olhar para a permanência. Por isso, também trabalhamos com um programa de acolhimento, permanência e satisfação do aluno”, completa Bugarim.
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Univates: um novo ecossistema de aprendizagem
A Universidade do Vale do Taquari (Univates) é uma instituição de ensino gaúcha com 43 cursos de graduação presencial, 19 de educação a distância (EAD), 25 na escola técnica e 38 cursos livres. Por lá, o destaque é o projeto Aula Mais.
“O nosso desafio era repensar a sala de aula. Assim nasceu o Aula Mais, um ecossistema de aprendizagem que promove uma vida universitária memorável para os nossos alunos”, conta a vice-reitora e pró-reitora de ensino da Univates, Fernanda Storck Pinheiro.
Nesse caso, a motivação para a mudança é fruto da necessidade de encontrar novas trilhas de aprendizagem, estabelecer um diálogo próximo com o mercado e atender ao novo perfil de alunos do ensino superior.
Para desenhar o Aula Mais, a Univates se valeu dos relatórios de autoavaliação institucional e pesquisas com egressos dos seus cursos. Nesses materiais, a IES identificou três pilares que precisavam ser reestruturados: tempo, espaço e currículo.
“Tudo o que foi criado a partir daí teve como foco a transversalidade dos conteúdos, a aprendizagem, a experimentação, a criação e a alteridade”, explica Pinheiro.
Assim, o Aula Mais transformou o modelo de sala de aula, inseriu trilhas de carreira nos currículos, adotou o ensino por competências e criou um setor de acolhimento ao aluno.
“É um processo que exige mudança de cultura. À medida que caminhamos, descobrimos novas vivências e possibilidades de experimentação para os estudantes”, resume Pinheiro.
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