A pandemia de coronavírus ainda mantém a maioria das instituições de ensino fechadas no Brasil. O problema é que, após quase seis meses de atividades suspensas, o aumento da evasão, da inadimplência e a pressão por descontos inviabilizou a operação de muitas escolas privadas de pequeno porte.
Especialmente as escolas de educação infantil.
É o caso da Planeta Azul, escola de ensino infantil localizada em Pinheiros, na capital paulista. Como outras, a instituição tentou trocar as aulas presenciais pelo ensino remoto. Só que a maioria dos alunos na escola são crianças de até 3 anos – que, por lei, são dispensadas da obrigatoriedade da estarem matriculadas na escola.
“Os pais me dizem ‘as aulas online não estão servindo. Vou tirar meu filho da escola e coloco de novo quando as aulas retornarem’”, contou a proprietária da Planeta Azul, Marli Pereira, em entrevista à BBC News Brasil.
Pereira chegou a renegociar o aluguel do imóvel da escola. Mas a perda de mais da metade dos alunos, e os descontos nas mensalidades daqueles que permaneceram, fizeram a diretora reconhecer que já não conseguiria pagar suas 17 funcionárias.
Valquíria Leite também está seguindo o mesmo caminho. Proprietária de uma escola de educação infantil de pequeno porte na cidade de Aracaju (SE), Leite escreveu ao Desafios da Educação dizendo que perdeu metade dos seus alunos e que a única opção foi fechar a unidade.
“Tivemos que reduzir o valor da mensalidade e ainda assim estamos com índice muito alto de inadimplência. Por esses motivos, já demitidos professores e não estamos conseguindo pagar aluguel e outras dispensas”.
Quem também abandonou o ramo foi Elaine Fuzaro, dona de uma escola na zona norte de São Paulo. A instituição tinha 30 alunos. Com a chegada da pandemia, a unidade suspendeu as atividades presenciais e a evasão se alastrou. “Sobraram duas matrículas. O que eu faço com dois alunos?”, indagou ela ao jornal o Estado de S. Paulo.
O estado ainda não definiu uma data para a volta às aulas presenciais, mas deu autonomia para os municípios paulistas optarem ou não pelo retorno a partir de 8 de setembro, com base na situação epidemiológica e da curva de contágio de cada cidade.
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O setor mais afetado
Escolas de ensino infantil e de pequeno porte são as mais afetadas economicamente pelas medidas de isolamento social. Um levantamento do Sindicato de Estabelecimentos Particulares de Ensino do Ceará (Sinepe-CE) mostrou que, das 180 instituições de ensino que encerraram as atividades nos últimos seis meses, 40% são creches e escolas de educação infantil.
O governo do Ceará autorizou a reabertura das escolas de ensino infantil a partir do dia 1º de setembro. A autorização é válida para a capital, região metropolitana e municípios vizinhos.
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Por outro lado, muitas escolas já anunciaram que não voltam em 2020, mesmo que os governos autorizem. É o caso da Escola de Educação Infantil Pato, em Porto Alegre (RS).
Com 52 anos de existência, a instituição comunicou os pais no dia 27 de agosto sobre o fim das aulas online e a demissão dos professores e coordenadores. Mônica Mariani, que é sócia majoritária da Pato, afirma que a escola deve reabrir em 2021 – a depender do cenário dos próximos meses.
“No pós-pandemia, temos que avaliar como ficará a economia para as famílias terem condições de arcar com a mensalidade”, afirmou Mariani ao jornal Zero Hora.
Ela também diz que o governo precisa apoiar as escolas infantis que passam por necessidade. “O setor não tem acesso a linhas de crédito e, por parte do governo estadual, não temos previsão de retomada das aulas.”
O governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, anunciou que a partir de 8 de setembro as escolas de educação infantil estão autorizadas a retomar as atividades presenciais em regiões que estejam na chamada “bandeira laranja”. A expectativa, porém, é que 690 das 2,3 mil escolas privadas de educação infantil gaúchas não retomem as atividades imediatamente, mesmo que autorizadas.
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Escolas clandestinas
Segundo o presidente da Federação Nacional das Escolas Particulares (Fenep), Ademar Batista Pereira, as mudanças e incertezas sobre a retomada das atividades estudantis presenciais podem gerar em “aberturas sem autorização e de forma irregular”. “A escola volta, mas sem registrar funcionários”, diz.
Outra questão é que a retomada desacompanha a reabertura do comércio. Os pais estão voltando a trabalhar, mas não tem onde deixar os filhos. A solução encontrada é contratar uma babá para cuidar dos filhos ou recorrer a “escolinhas clandestinas”.
É o caso de Ellen Kamila Ferreira, que precisou voltar ao trabalho e encontrou em uma creche clandestina da cidade de Campo Grande (MS) o único lugar para deixar a filha de 3 anos. “Não tem jeito, eu cuido dela sozinha, preciso trabalhar para sustentar ela, a opção foi deixar com uma moça que cuida de mais 5 crianças”, disse Ferreira ao Campo Grande News.
Em Curitiba (PR), o Ministério Público investiga a atuação de creches clandestinas na região. Os espaços funcionam de maneira irregular, sem o aval da Vigilância Sanitária e do Corpo de Bombeiros. Em São Carlos (SP), a fiscalização interditou uma escola clandestina que atendia 10 crianças em dois imóveis de um condomínio residencial. A prefeitura de cidade já anunciou que as aulas não voltam esse ano.
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