“O dia em que o Brasil torcer e vigiar a educação da mesma forma como torce e vigia a Seleção (de futebol), nós teremos uma educação de qualidade”.
A afirmação é do professor Cláudio de Moura Castro, economista de formação, autor de mais de 30 livros na área educacional e um verdadeiro pródigo em frases de efeito. Muitas delas, publicadas em ensaios e artigos de sua coluna quinzenal na revista Veja, agora estão reunidas, editadas e atualizadas em As Trapalhadas da Educação Brasileira, obra recém-lançada pela Penso.
O autor “divertido, mas absolutamente sério”, segundo Viviana Senna, presidente do Instituto Ayrton Senna, oferece uma série de reflexões acerca das mazelas e dos desafios da educação brasileira com base na experiência e no conhecimento de causa.
Conhecido por suas posições polêmicas, Moura Castro já expunha a verve afiada para abordar as questões centrais do ensino no país em livros anteriormente publicados, como Educação Brasileira – Consertos e Remendos (1994) e Crônicas de Uma Educação Vacilante (2005).
Em As Trapalhadas da Educação Brasileira, conta a favor do autor um estilo textual de fácil compreensão, pontuado por abordagens literárias que enriquecem a narrativa. No primeiro capítulo, A mágica da educação, o autor alinha histórias de vida para demonstrar os efeitos positivos do ensino na ascensão social e nas conquistas profissionais de indivíduos.
Uma das histórias remonta à época de sua infância. Ele lembra de ter visto um menino descalço, filho de um tropeiro, acompanhando o pai que toca adiante uma tropa de burros carregada de carvão. Aquela cena jamais saíra de sua mente. Anos mais tarde, Moura Castro reencontrou aquele garoto pobre. Não com a pele encardida de carvão, mas na posição de um respeitado médico.
De modo comovente, a cena reforça o argumento de que a educação é o elevador mais adequado para quem deseja subir na vida, segundo o educador. “Sua trajetória foi fruto das escolas que frequentou”, afirma Moura Castro sobre o médico.
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Analfabetismo e repetência
Outra premissa de As Trapalhadas da Educação Brasileira é a exigência de se fazer o “arroz com feijão bem feito” para qualificar a educação básica.
Os resultados insuficientes da alfabetização, que geram novas formas de analfabetismo funcional, como o “analfabetismo emocional”, fortalecem ainda mais a constatação do “fracasso generalizado” dos esforços de qualificação dos estágios iniciais de aprendizado.
Sobre o “analfabetismo emocional”, Moura Castro afirma: “Alguns não conseguem ler um texto. Outros dominaram a mecânica da leitura, mas enleiam suas emoções com o que está escrito, tirando conclusões incompatíveis com o que o autor escreveu”.
Outro capítulo aborda a “maldita cultura da repetência”, no qual o economista defende que “aprovar ou reprovar é ficar na superfície do problema”.
“Um dos clássicos tropeços do nosso ensino é tomar a reprovação como problema, e não como sintoma de que alguma coisa vai mal na sala de aula”, diz Claudio de Moura Castro.
Embalada pela argumentação arguta do autor, a conclusão é simples: ao invés de perdermos tempo e energia em debates estéreis, cabe descobrir as razões da repetência e como remediar a situação o quanto antes.
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Embora Moura Castro dê prioridade no livro aos temas do ensino básico, a educação superior não ficou de fora. Um dos problemas do segmento, segundo ele, é as “infindáveis cruzadas ideológicas” no ensino superior.
Aqui, o senso de pragmatismo do autor fala mais alto. Ele condena a “cacofonia de acusações” entre as alas em conflito, uma vez que, no fim, o que interessa é a qualidade de ensino oferecida aos estudantes.
Assim é Cláudio de Moura Castro: goste-se ou não, concorde-se com ele ou não, é preciso reconhecer a relevância de suas ponderações. Elas são de extrema serventia para apontarmos o muito que ainda há de se avançar até que consigamos efetivamente dotar as próximas gerações de condições apropriadas para que alcancem o futuro que merecem.
Moura Castro é formado em Economia pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), com estudos de pós-graduação em Yale e Berkeley, nos Estados Unidos. Além disso, foi professor de diversas instituições como PUC-Rio, FGV e Universidade de Brasília, bem como das Universidades de Genebra e de Borgonha.
Atualmente, é diretor-pedagógico da EduQualis, instituição educacional e de consultoria em ensino, gestão e inovação, com sede em Nova Lima, região metropolitana de Belo Horizonte (MG).
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