Cinco meses depois da pandemia atingir o Brasil, o Desafios da Educação publicou uma reportagem mostrando como a quarentena e o excesso de tarefas levava professores ao esgotamento mental. Àquela altura, a crise sanitária agravava antigos dilemas e dificuldades desses profissionais valorosos e persistentes.
Entre elas está a jornada de trabalho docente, que raramente acaba após o último sinal. Preparar materiais, corrigir provas e organizar os conteúdos das disciplinas estão entre os afazeres realizados além do espaço físico da sala de aula. Na pandemia, esse trabalho aumentou.
Além da jornada extraclasse, o distanciamento social trouxe outras adversidades: a falta de recursos para ministrar aulas remotas; a necessidade de auxiliar alunos após o fim do expediente; ir atrás dos estudantes que não davam sinal de vida; o uso excessivo de telas e, em alguns casos, a falta de traquejo com as plataformas digitais. Sem falar que os professores improvisaram as aulas virtuais em casa. Quem não tinha escritório (quem tinha?) às vezes ministrava a aula do quarto, da sala e até da cozinha.
Junte isso à preocupação de perder o emprego – como aconteceu com muitos docentes de instituições privadas – e a problemas financeiros familiares decorrentes da pandemia: pronto, é a tempestade perfeita para o burnout, o transtorno psíquico associado ao trabalho em excesso.
Como ajudar os professores
Trabalhar em casa é bom? Para algumas pessoas sim. Mas é inegável que o trabalho remoto tende a ser menos imersivo. Ou seja, os profissionais tendem a fazer mais intervalos – seja para preparar o almoço, atender um familiar, colocar a roupa no varal.
Pode soar ruim, mas são essas “quebras” – chamada por alguns especialistas de nanotransições – que podem ajudar a evitar ansiedade, estresse e até o burnout, segundo um estudo da Claremont Graduate University, na Califórnia.
Para os docentes que continuam a trabalhar de casa, os “minibreaks” agem como um reiniciar para o cérebro cansado ou tenso.
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É claro que, em caso de esgotamento mental, apenas intervalos não devem resolver: o profissional deve procurar ajuda de um psicólogo. E mais: não adianta o docente receber atendimento psicológico e depois voltar às mesmas circunstâncias que criaram o quadro de sofrimento.
Gestores: abraçar os educadores passa por entender que a problemática não é pessoal, é social.
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Uma das medidas importantes para prevenir o burnout é tornar a saúde mental dos professores um dos itens de atenção da IES. Incluindo o treinamento dos líderes e a criação de ações para diminuição de problemas emocionais, além de acompanhar de perto a saúde de cada funcionário.
Tornar a pauta coletiva, por meio de oficinas, eventos e reuniões pedagógicas, ampliam a discussão e promovem espaços de expressão e de discussão. Reforçar os fatores individuais, familiares, escolares e comunitários de proteção e tratar os fatores de risco é importante para fortalecer a rede de atenção à saúde mental.
As IES podem, ainda, desenvolver a participação social, discussão ampla, divulgação das formas de atenção e busca de estabelecimentos de atenção. Além da inserção da saúde mental nos projetos políticos-pedagógicos dos cursos, formação de equipe interdisciplinar e criação de políticas públicas.
Gestores e coordenadores precisam fortalecer assuntos relacionados a saúde mental com os docentes. Saber identificar, ouvir e apoiar um professor que esteja passando por um período de esgotamento profissional, ansiedade ou depressão irá promover um senso de acolhimento na IES. Ganha o professor, ganha a escola e ganha o aluno.
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