Desde a fundação das primeiras universidades na Europa, em meados do século 11, uma abordagem da educação se sobressaiu. Por quase um milênio, a compreensão do ensino como a pura transmissão de conhecimento entre professor-aluno se manteve praticamente inalterada. Nos últimos anos, no entanto, o desenvolvimento de estudos sobre cognição humana tem colocado esse modelo em xeque – e deixa claro que o caminho para a melhora do aprendizado está em uma posição mais questionadora e participativa dos alunos.
Pesquisadores da Universidade da Califórnia revisaram 225 estudos de métodos de ensino em cursos de graduação em ciências, tecnologia, engenharia e matemática. Os resultados da meta-análise, publicada na revista Proceedings of the National Academy of Sciences of the United States of America, indicam que as abordagens pedagógicas que transformam estudantes em participantes ativos, em vez de ouvintes passivos – isto é, as chamadas metodologias ativas de ensino –, reduzem as taxas de falhas e melhoram os resultados de exames. “Estudantes em classes com aulas tradicionais são uma vez e meia mais propensos a falhar do que estudantes em classes com aprendizagem ativa”, revela o estudo. Esse, entretanto, é um paradigma ainda difícil de ser superado.
“Os professores consideram que a sua missão é planejar atividades interessantes e envolventes, que os alunos devem ficar sentados e prestar atenção, realizar as tarefas sugeridas e entregá-las a tempo”, avalia o especialista em Educação John Hattie, em entrevista à revista Pátio. “Desse modo, criam um modelo lastimável sobre o que é a aprendizagem”, afirma o professor, que é diretor do Melbourne Educational Research Institute da Universidade de Melbourne, na Austrália.
Hattie possui um extenso histórico na área de educação. Criador do método Visible Learning, que consiste em “enxergar a aprendizagem com o olhar dos alunos”, ele sintetizou anos de pesquisa com estudos envolvendo milhões de estudantes no livro Aprendizagem visível para professores: como maximizar o impacto da aprendizagem, lançado neste ano no Brasil pelo selo Penso. Segundo o autor, o objetivo do método é ajudar os alunos a se tornarem professores de si mesmos. “A história da aprendizagem visível é simples: identificar, de modo confiável, os alunos que alcançam no mínimo um ano de evolução em um ano letivo, formar uma coalizão dos bem-sucedidos e convidar os outros a participar dessa coalizão”, explica.
O papel do professor, nesse caso, é o de um especialista orientador. Ele ajuda o aluno a superar o potencial que ele pensa ter; a fazer o diagnóstico de seu conhecimento – e entender o que ele não conhece –; e a determinar metas e avaliar quais os melhores caminhos para atingi-las. Mas há ainda um aspecto decisivo: estar aberto ao feedback dos alunos. “Mais importante do que o método de ensino é ter flexibilidade e habilidade nos professores para avaliar continuamente o impacto do método, e também para trocá-lo quando não estiver funcionando”, explica.
Além disso, Hattie reforça a necessidade de os professores não menosprezarem nenhum aluno. E mais: compartilharem o grau de exigência elevado com toda a cadeia de ensino. “Entre as influências mais poderosas sobre a aprendizagem estudantil está a eficiência coletiva dos professores”, afirma o especialista. “Eles precisam ter altas expectativas, demonstrando um senso de determinação de que todos os alunos podem superar seus potenciais.”
Saiba mais
Aprendizagem visível para professores: como maximizar o impacto da aprendizagem, de John Hattie. Editora Penso, R$ 71.
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