O porto-alegrense Miguel Andorffy tinha apenas 20 anos quando começou a empreender. Em 2011, ele se dividia entre as disciplinas do segundo semestre de Engenharia Elétrica na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e as aulas de reforço que dava para colegas com dificuldade em Cálculo. Rapidamente, o gosto pelo ensino levou Andorffy a criar o Me Salva!, um canal com videoaulas e exercícios no YouTube. Voltado para vestibulandos e estudantes em fase de preparação para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), o projeto evoluiu a ponto de se tornar uma das principais plataformas de estudo online do Brasil.
Desde então, o Me Salva! já foi acessado por mais de 28 milhões de estudantes. O site disponibiliza videoaulas gratuitas (assistidas mais de 140 milhões de vezes) e uma versão premium, com cursos e monitorias destinados a diversas especialidades – desde reforço para o Ensino Médio até Empreendedorismo e Negócios. Graças ao sucesso da plataforma, Miguel Andorffy venceu a primeira edição do prêmio Jovens Inspiradores, promovido pela revista Veja e pela Fundação Estudar, em 2012. O reconhecimento, inclusive, rendeu a ele uma bolsa de estudos para um curso sobre empreendedorismo na Universidade de Stanford (EUA).
Em 2014, a startup integrou a lista das 50 empresas mais disruptivas no mundo criadas por empreendedores com menos de 25 anos, formulada pela organização internacional Kairos Society. Mas os destaques não param por aí. Em 2017, Andorffy foi apontado pela revista Forbes Brasil como um dos 91 brasileiros mais promissores com menos de 30 anos de idade.
Desafios da Educação entrevistou Miguel Andorffy sobre sua trajetória e a do Me Salva!, adiantando parte de sua apresentação no Fórum de Lideranças: Desafios da Educação 2018, que acontece no dia 17 de maio, no Centro Universitário Ítalo Brasileiro, em São Paulo (SP) – inscreva-se no evento aqui.
Como surgiu a ideia de criar um canal de educação em uma época em que o assunto ainda era novidade no Brasil?
Eu estava cursando o segundo semestre de Engenharia Elétrica na UFRGS e dava as aulas de reforço em Cálculo para meus colegas e outros estudantes. Ali comecei a me tornar professor. À época, o MIT [Instituto de Tecnologia de Massachusetts, dos EUA] estava começando a transpor a lógica da sala de aula para a internet, mas os vídeos deles tinham 1h30min de duração – e isso não fazia sentido. Pensei ‘não é assim que a coisa funciona na internet’. Então resolvi criar um canal próprio, com aquilo que eu considerava ser um produto ideal para web. Ou seja: um conteúdo exclusivo, com vídeos curtos de até oito minutos, que o aluno pudesse pausar e voltar quantas vezes quisesse.
Ao que você atribui a aderência da plataforma?
O Me Salva!, assim como as demais plataformas de ensino online, suprem deficiências encontradas pelos alunos em sala de aula. São coisas simples, como não compreender o conteúdo e ter que revisar depois da aula ou não ter entendido da mesma forma que os colegas. Às vezes, o simples fato de haver outro professor explicando, com outra abordagem, já torna a matéria mais compreensível. A disponibilidade full time também é um diferencial das plataformas online. E mais: quando o aluno busca auxílio fora da aula, que é obrigatória, é porque ele está motivado a aprender mais. Assim, o Me Salva! logo se tornou o maior canal de educação do Brasil.
Como o Me Salva! conseguiu sair de uma plataforma gratuita e se tornar uma empresa que auxilia milhões de jovens a aprender?
A tecnologia é a grande responsável por trazer essas novas possibilidades ao ensino. Isso tem acontecido de maneira tão rápida que, às vezes, pode parecer difícil acompanhar o ritmo. Ainda assim, a educação continua sendo um desafio no mundo todo. Por isso os gestores se preocupam em criar sistemas de avaliação complexos, com muita tecnologia, mas acabam esquecendo que lá na ponta tem o estudante. Por outro lado, nós oferecemos conteúdo prático ao usuário porque percebemos que, quanto mais alunos tiverem bons resultados, mais a nossa ideia se propaga. E isso é bom para todo mundo. O professor cumpre seu papel, o estudante chega mais perto do seu sonho e nós ganhamos espaço.
Em 2012, você conquistou o Prêmio Jovens Inspiradores e, logo depois, o Me Salva! foi eleito um dos “50 negócios mais disruptivos do mundo” pela Kairos Society. Qual é a fórmula desse sucesso?
O Me Salva! surgiu com foco nos alunos e isso fez toda a diferença. Desde o início, percebemos que queríamos estar perto do estudante, porque acreditamos que ele é o ponto central do processo de aprendizado. Se ele não estiver motivado, não irá se engajar e, portanto, não vai levar o ensino para frente. Acredito que esse tenha sido o nosso diferencial. O segredo é que as organizações precisam saber o que querem – e para quem vão falar. Se uma empresa quer se projetar para atender professores, deve acompanhar de perto a performance do professor, tem que se preparar para ser o seu melhor parceiro e estar junto dele. É assim que funciona.
Apesar de algumas iniciativas que vêm dando certo, a educação no Brasil também enfrenta uma série de desafios. Quais são os principais entraves, em sua opinião?
O maior problema é a falta de motivação, sem dúvida. A inspiração é o único caminho possível para quem quer crescer, mas estamos andando na contramão. Eu vivo meu dia a dia na educação e a impressão que tenho é de que as pessoas não sonham nem acreditam mais. O entusiasmo e a esperança são formas de se chegar ao sucesso, mas estão muito em baixa, porque as pessoas estão sendo pouco motivadas.
Como é possível reverter esse quadro?
É difícil provocar uma grande mudança num cenário como esse. O que se pode fazer são pequenas interferências. A gente começou porque enxergou que havia demanda. Há sete anos, ninguém fazia o Enem, e escolher estudar para o Enem é uma etapa crítica na vida de um jovem. Ele se dedica e sabe o valor dos estudos. É com esse jovem que precisamos trabalhar, porque ele vai se engajar e, como consequência, vai ter um futuro diferente lá na frente. Isso, sim, vai causar mudanças.
Com base nesses desafios, como você acha que será a educação no futuro?
É difícil apontar um único caminho, mas posso apostar em três tendências. A primeira delas é, sem dúvida, o caminho personalizado. A partir dele, os alunos têm uma metodologia aplicada às suas habilidades, de modo que o ensino considera a capacidade individual e passa a ser muito mais aproveitado. Cada pessoa vai seguir seu aprendizado por um caminho. O segundo ponto é que os cursos existentes hoje no ensino superior não estão entregando os profissionais que o mercado precisa. Em função disso, vamos ver novos cursos e novos currículos surgindo nos próximos anos. Por fim, a terceira tendência vai preparar o profissional em um novo nível, treinando suas habilidades não cognitivas. Não faz mais sentido ter como ensino a exposição de um mesmo conteúdo, sendo que para isso temos plataforma digital. Em sala de aula, serão treinadas também as capacidades socioemocionais para o trabalho em equipe.
No Brasil, essa realidade ainda parece distante para a maioria das instituições. Como fazer o processo acelerar?
Alguns pontos podem ser solucionados até com certa facilidade. É uma questão de avaliar e entender como inserir essas tendências também no ensino básico, por exemplo. Com acesso à tecnologia e às plataformas de ensino – e com a aceitação das escolas, naturalmente –, esse processo vai ser muito mais rápido. O caminho é a criação de um novo ecossistema que seja usado por muitas pessoas – como é o Me Salva!, que atua fora da escola, como um reforço. Aí todo mundo vai correr para ter inovação. Quem não correr, vai ficar pra trás.
O que você pode adiantar sobre sua participação no Fórum de Lideranças: Desafios da Educação 2018?
Vou levar a perspectiva do aluno. Como me dispus a ser o melhor parceiro do estudante, vou falar sobre as demandas que ele tem. Além disso, precisamos debater sobre como engajar o estudante nos projetos de aula, como entendê-lo e auxiliá-lo a lidar com suas dificuldades no dia a dia e, principalmente, com os medos do futuro. É isso que a gente faz há quatro anos e é isso que eu vou levar para o Fórum.
Qual sua expectativa para o que deve ser debatido no evento?
A ideia de que a tecnologia era um elemento auxiliar faz parte do passado. O fato de ter sido convidado para um evento como esse demonstra que o ecossistema educacional está olhando para o digital e para a tecnologia como algo sério. Hoje, já se percebe que ela está no centro do processo. Será uma honra compartilhar o palco com esses caras superexperientes [Claudio de Moura Castro, Fagner de Deus e Arapuan Motta Netto]. Tenho certeza de que vamos conseguir passar para o público tanto a experiência de quem lida com educação há décadas quanto as necessidades contemporâneas do estudante. Precisamos escalonar essas demandas e disponibilizar conhecimento ao maior número de pessoas possível, dando exemplos para a galera que está começando e para a galera que está no colégio e vai pensar no futuro daqui pra frente.
Saiba mais informações e inscreva-se para o evento.
Fórum de Lideranças: Desafios da Educação 2018
Data: 17/05 (quinta-feira)
Horário: 7h às 12h30
Local: Centro Universitário Ítalo Brasileiro (Av. João Dias, 2046 – Santo Amaro, São Paulo)
Link para inscrição: CLIQUE AQUI.
Sobre o Fórum de Lideranças: Desafios da Educação
O evento, que faz parte da iniciativa Desafios da Educação, é realizado todos os anos pelo Grupo A e conta com apoio da Blackboard e da SAGAH. O Fórum de Lideranças: Desafios da Educação já contou com palestras de nomes nacionais e internacionais como Peter Dourmashkin – Professor Sênior do MIT e Especialista em Sala de Aula Invertida, Dale Stephens – Fundador do movimento UnCollege, Josiane Tonelotto – Reitora Nacional de Ensino a Distância da Rede Laureate, Ryon Braga – Presidente do Conselho de Administração da Hoper Educação, entre outros. Para a edição 2018, além de Miguel Andorffy, estão confirmados Claudio de Moura Castro, economista, educador e autor de diversos livros no segmento; Fagner de Deus, ex-reitor do Centro Universitário de Patos de Minas (Unipam) e atual diretor de Tecnologias Educacionais do Grupo A Educação; e Arapuan Netto, reitor e presidente do Centro Universitário Augusto Motta (Unisuam), no Rio de Janeiro.
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