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Como nascem as metodologias de ensino colaborativas

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Ricardo Fragelli, autor do livro Método Trezentos. Crédito: arquivo pessoal.

O general espartano Leônidas posicionou seus 300 homens em frente a uma estreita formação rochosa, à beira de um desfiladeiro, na região grega das Termópilas. A missão era criar um muro humano e brecar o avanço do exército persa.

Cada homem protegia o companheiro ao lado com seu escudo, tornando o regimento quase intransponível. No entanto, o estratagema não foi suficiente e os espartanos perderam o conflito. Efialtes, um aspirante a soldado, renegado por ser corcunda, traiu seu povo e mostrou um caminho pelo qual os persas poderiam driblar a barreira.

A Batalha das Termópilas, ocorrida em 480 a.C, entrou para a história como um símbolo do trabalho em equipe. Mas foi na frustração de Efialtes que o engenheiro e professor Ricardo Fragelli encontrou a chave para criar o Método Trezentos – uma estratégia de ensino inclusiva, marcada pela colaboração entre os alunos.

“Quando preterido ou excluído do grupo, o estudante não se sente bem. Como isso acontece muito em sala de aula, o Método Trezentos busca estabelecer um novo patamar de aprendizagem, evitando o isolamento e garantindo a motivação”, afirma Fragelli, doutor em Ciências Mecânicas pela Universidade de Brasília (UnB) e docente da instituição.

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A proposta do Método Trezentos é equilibrar os conhecimentos da turma e estimular a cooperação. O modelo cria grupos de estudos mistos, formados por alunos com desempenhos distintos nas provas: os melhores ajudam quem não foi tão bem.

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Aqueles integrantes com notas baixas podem repetir os exames, desde que cumpram algumas metas de participação no grupo. Já os mentores ganham pontos extras se os colegas evoluírem.

O Método Trezentos começou a ser aplicado nas turmas de Cálculo 1 em 2013. A disciplina é caracterizada por altos índices de reprovação. Na UnB, por exemplo, o sistema fez a aprovação saltar de 50% para 95%.

“Além de possibilitar que o aluno aprenda ensinando, a interação traz um ganho de diversidade. Muitos participantes dizem ter passado a admirar os ‘estranhos’ da turma”, conta Fragelli, em entrevista ao Desafios da Educação.

Em 2015, o projeto ganhou o Prêmio Santander Guia do Estudante na categoria Apoio ao Estudante. Os cases de sucesso e o roteiro de aplicação do modelo em diferentes contextos de aprendizagem estão no livro Método Trezentos: Aprendizagem ativa e colaborativa, para além do conteúdo, lançado em 2018 pela Editora Penso.

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Felicidade que engaja

O Trezentos é apenas uma das metodologias colaborativas criadas por Ricardo Fragelli. Ele começou a lecionar com 23 anos, em 2002, dois anos após concluir o curso de Engenharia Mecânica na UnB.

Fragelli dava aulas particulares de matemática e física. São disciplinas nada benquistas pelos alunos. Mas o jeito como o professor as ensinava conquistava os estudantes. Às vezes em menos de um mês. “Minhas aulas nunca foram tradicionais e sempre buscaram resgatar o interesse dos alunos pela ciência”, diz.

Seu primeiro método de ensino colaborativo surgiu em 2003. Chamada de Rei da Derivada, a estratégia é uma espécie de campeonato de resolução de equações. A primeira etapa de exercícios é realizada em duplas, com os pares sendo modificados a cada novo desafio.

Já na fase final, os classificados devem solucionar os cálculos individualmente. O sistema pode ser aplicado em disciplinas exatas ou humanas e já foi adotado em uma série de universidades – como a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) –, além de escolas dos ensinos fundamental e médio.

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Outra inovação de Fragelli é o Summaê – Somas com Chapéu. Nesse modelo, os alunos resolvem problemas apresentados em vídeos criativos, que trazem montagens de filmes ou são protagonizados por celebridades e pessoas da comunidade.

Todos os participantes, incluindo os professores, devem utilizar um chapéu durante o evento. A ideia é criar um sentimento gregário entre alunos e docentes, transformando a resolução de cálculos diferenciais e integrados numa atividade lúdica e divertida.

A leveza é um dos pilares das metodologias criadas pelo professor. “Comecei a pensar em novos sistemas para que os alunos se sentissem mais felizes durante as aulas”, lembra. Os modelos de Ricardo Fragelli, desse modo, vão além do aprendizado e trazem um importante fator de acolhimento.

Ele costuma dizer que, em vez de apenas preparar alunos para serem águias, capazes de alçar altos voos, prefere também treiná-los como rouxinóis, cujo canto pode envolver a todos ao redor. “O engajamento é a base da educação. Porém, o mais importante é tirar as pessoas do isolamento”, ressalta.

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Leonardo Pujol
Leonardo Pujol é editor do portal Desafios da Educação e sócio-diretor da República, agência especializada em jornalismo, marketing de conteúdo e brand publishing. Seu e-mail é: pujol@republicaconteudo.com.br

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