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O desafio da educação bilíngue no horizonte das universidades

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Educação bilíngue não para de crescer no Brasil e já se constitui num dos mercados mais atrativos para os professores

Crescendo no Brasil, educação bilíngue expande da educação básica para impactar o ensino superior

Os reflexos de um mundo interligado pela tecnologia estão por toda parte. No âmbito do aprendizado, o fenômeno pode ser notado pelo crescimento de novas metodologias de ensino. Uma delas é a educação bilíngue. Caracterizada por uma imersão dos alunos no idioma estrangeiro, a abordagem desperta cada vez mais interesse no Brasil.

A busca por escolas dedicadas ao bilinguismo deve-se, em grande parte, à preocupação dos pais em oferecer um aprendizado capaz de inserir as crianças numa sociedade globalizada – além de dotá-las de um diferencial para o mercado de trabalho. O movimento se concentra nos ensinos Fundamental e Médio, mas já começa a impactar as instituições de ensino superior (IES).

Um dos diferenciais dos sistemas de educação bilíngue é a interdisciplinaridade. Ou seja, o ensino do idioma estrangeiro não fica restrito a uma aula específica. O aluno tem contato com a segunda língua na maior parte do currículo, durante a exposição de matérias como matemática, geografia ou educação física.

Além disso, o material didático e o próprio ambiente escolar são adaptados ao modelo. A estratégia vai além da aplicação linguística e estimula o estudante a pensar em outro idioma, gerando benefícios cognitivos e emocionais comprovados cientificamente. As três unidades da Escola Concept – localizadas em São Paulo (SP), Ribeirão Preto (SP) e Salvador (BA) – operam assim.

A rede é vinculada ao Sistema Educacional Brasileiro (Grupo SEB) e oferece o ensino bilíngue integrado (português e inglês) desde a educação infantil. Nessa fase, o idioma estrangeiro está presente em 80% da carga horária, diminuindo para 50% nas séries do Ensino Fundamental I e 40% no Fundamental II.

O currículo da Concept combina os parâmetros do Ministério da Educação (MEC) aos da Fieldwork Education, órgão presente em 98 países. “Nossos alunos poderão ter escolhas não só nacionais como internacionais, com parcerias em outros países e estudos que permitirão contato e ampliação de horizontes”, afirma Thamila Zaher, diretora-executiva do Grupo SEB, em entrevista à Revista Pátio Ensino Médio, Profissional e Tecnológico.

Exigência redobrada

O paradigma da educação bilíngue deve provocar alterações no ensino brasileiro. Uma delas se refere à adequação das escolas particulares à nova demanda. É o caso do Colégio Divino Salvador, de Jundiaí (SCP). Com 64 anos de história, a instituição começou a desenvolver o programa bilíngue em 2018, atendendo a um pedido dos pais.

O curso, elaborado em parceria com a Pearson Bilingual Program, será oferecido em caráter extracurricular. Já o Colégio Damas, de Recife (PE), implementou a metodologia em 2016, adotando o modelo da International School – o mesmo utilizado na União Europeia para o ensino da segunda língua. Os alunos matriculados do Infantil II ao 8º ano do Ensino Fundamental têm cinco horas semanais de inglês. A carga pode chegar a dez horas para quem optar pelo Tempo Complementar.

Num primeiro momento, o bilinguismo tende a permanecer restrito às instituições voltadas às classes A e B. Isso se deve ao alto custo desse tipo de aprendizado. Em média, a mensalidade de uma escola bilíngue não fica abaixo dos R$ 4 mil. Porém, aos poucos, a metodologia deve deixar de ser um diferencial para se tornar uma condição. Um indício dessa tendência pode ser notado pela expansão do Systemic Bilingual.

Criado em 2002, o método é pioneiro no Brasil e está presente em 52 escolas de 32 cidades. A adesão ao programa oferecido pela editora Systemic cresceu 63% em 2016 – um ano marcado pelo agravamento da crise financeira do país. Outro sinal da disseminação da educação bilíngue é a entrada de instituições internacionais no mercado nacional. A rede norte-americana Avenues é uma delas.

Considerada a escola dos bilionários de Nova York, a instituição deve iniciar suas atividades em agosto de 2018, com um campus de 40 mil m² no bairro Cidade Jardim, em São Paulo. O projeto pedagógico da Avenues vai além do ensino integrado de inglês e abrange um currículo que busca desenvolver habilidades não contempladas no currículo tradicional – como a empatia dos alunos. A evolução desse modelo de ensino se apresenta como um duplo desafio para as IES.

Procuram-se discentes

O primeiro desafio diz respeito à formação dos professores. Atualmente, o mercado brasileiro é carente de profissionais aptos a assumir postos em escolas bilíngues. Tanto que algumas instituições optam por capacitar seus próprios discentes. O motivo é o alto grau de exigência para lecionar de acordo com o paradigma. Os requisitos vão além da fluência no idioma estrangeiro e incluem o acuro nos termos técnicos das disciplinas e uma visão de mundo mais ampla e conectada por parte dos professores.

Essa segunda condição é especialmente importante nas chamadas Escolas Internacionais, cujos currículos combinam elementos da cultura brasileira e da nação à qual o colégio se reporta. Não à toa, as instituições buscam professores com experiências de ensino acumuladas em diferentes países. A ideia é proporcionar o contato do estudante com abordagens e percepções de mundo mais ricas e abrangentes.

As IES, desse modo, devem atentar para a montagem do currículo das licenciaturas. Além da inclusão da segunda língua, o projeto pedagógico precisa incentivar o intercâmbio estudantil e o contato com profissionais estrangeiros. Outra saída é a elaboração de programas de pós-graduação em educação bilíngue.

O Brasil possui algumas opções na área. Uma delas é oferecida pelo Instituto Singularidades, de São Paulo. No local, o curso tem duração de dois anos – mesmo tempo da especialização disponibilizada pelo Instituto Superior de Educação Ivoti, ministrada em Joinville (SC). O Instituto Evangélico de Novo Hamburgo (RS) e o São Paulo Open Center também possuem pós-graduações voltadas ao tema.

Nesse sentido, a própria EAD pode ser útil na missão de preparar professores às demandas do bilinguismo. Atualmente, uma das mais renomadas opções para o aprendizado de idiomas online é o Rosetta Stone. Equipado com uma moderna tecnologia de reconhecimento de voz, o software oferece soluções para o desenvolvimento de competências linguísticas essenciais aos professores. Inclusive, o investimento em capacitação pode gerar um bom retorno aos profissionais.

Em razão da escassez de discentes, o segmento das escolas de educação bilíngue está aquecido. A rede Avenue, por exemplo, oferece salários até 40% acima do mercado. “As escolas concorrem pelos mesmos professores. É como se estivéssemos pescando num aquário”, brinca a pedagoga Selma Moura, professora de pós-graduação em educação bilíngue do Instituto Singularidades, em entrevista à Revista Pátio.

Demanda a caminho

O segundo desafio imposto pela educação bilíngue às IES está relacionado ao acolhimento de universitários egressos desse modelo de aprendizado. Esse público chegará à faculdade buscando a continuidade de sua formação dentro do mesmo paradigma, visando ao alcance de postos qualificados de trabalho – seja no Brasil ou no exterior.

As IES, assim, precisam estar prontas para suprir a demanda. Aqui, o grande desafio é a proficiência na terminologia técnica das diferentes graduações. Assim, além da inclusão das licenciaturas bilíngues, as universidades poderão optar pela criação de mestrados e doutorados alinhados ao parâmetro de dupla linguagem.

Hoje o Brasil possui apenas uma universidade bilíngue. Trata-se da Universidade Federal da Integração Latino-Americana (Unila), de Foz do Iguaçu (PR), que oferece cursos em português e espanhol, acolhendo alunos brasileiros e de diversos países latino-americanos.

Redação
A redação do portal Desafios da Educação é formada por jornalistas, educadores e especialistas em ensino básico e superior.

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