Considerado um grande defensor da educação pública brasileira e dos direitos dos estudantes, Darcy Ribeiro completaria 101 anos no próximo mês. Antropólogo, político, escritor e sociólogo, ele deixou sua marca por meio de iniciativas como a implementação de Centros Integrados de Educação Pública (CIEPs) e a revisão da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira (LDB), além de obras que até hoje são referência para os educadores.
Darcy Ribeiro nasceu em Montes Claros (MG), em 26 de outubro de 1922. Estudou na primeira faculdade de Ciências Sociais do Brasil, vinculada à Universidade de São Paulo (USP), a Escola de Sociologia e Política de São Paulo, formando-se em Antropologia em 1946.
Se casou no ano de 1948, com a também antropóloga e etnóloga Berta Gleizer Ribeiro. Juntos, eles elaboraram estudos etnológicos de campo até o ano de 1956, se aprofundando na cultura indígena e prestando apoio às aldeias do País. O professor, aliás, foi um dos maiores indigenistas do Brasil, desenvolvendo atividades no Serviço de Proteção ao Índio, a atual Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai).
Política e literatura
Entre os anos de 1962 e 1964, Ribeiro foi empossado ministro da Educação e chefe da Casa Civil no governo do presidente João Goulart. Com o golpe de 1964, que estabeleceu uma ditadura civil-militar no Brasil, houve uma mudança na organização política, favorecendo a prisão de muitos intelectuais, como ele e sua esposa. Em 1974, o casal acabou se separando devido ao exílio imposto pela ditadura, no Chile.
Na década de 1980, filiando-se ao Partido Democrata Brasileiro, uma tradicional legenda de esquerda, o estudioso passou a apostar na carreira política. Atuou a favor de uma educação pública de qualidade, sendo considerado, até hoje, uma referência em políticas públicas educacionais no País
Darcy Ribeiro também se destacou na literatura, publicando uma série de livros, de romances a ensaios, que foram traduzidos para vários idiomas. Algumas de suas obras mais conhecidas são:
- Culturas e Línguas Indígenas do Brasil (1957)
- A Universidade Necessária (1969)
- Nossa Escola é uma Calamidade (1984)
- O Povo Brasileiro – a Formação e o Sentido do Brasil (1995)
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Os CIEPs
No ano de 1982, após ocupar o cargo de vice-governador do Rio de Janeiro em chapa liderada por Leonel Brizola, Ribeiro ajudou a implementar um sistema inédito de educação: os Centros Integrados de Educação Pública (CIEPs).
Os espaços ofertavam, de maneira gratuita, para crianças e adolescentes de baixa renda, iniciação esportiva, reforço escolar, educação artística e formação técnica profissional, além das aulas regulares. Também funcionavam como casas de acolhimento, oferecendo abrigo a crianças de rua.
Anos depois, o projeto foi modificado e os CIEPs se tornaram escolas comuns. Foi nesse contexto que Ribeiro deu uma de suas declarações mais emblemáticas: “Se os governantes não construírem escolas, em 20 anos faltará dinheiro para construir presídios”.
Por uma educação pública de qualidade
Durante seus últimos anos, Darcy Ribeiro deu continuidade à vida política, assumindo o cargo de senador, em busca de melhorias na educação pública do País. Foi a partir daí que passou a lutar pela revisão da LDB, fazendo com que vários intelectuais e políticos repensassem a educação pública ditada pela Constituição Federal de 1988.
Com essa reviravolta se deu a criação da nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN). Promulgada em 1996, a Lei nº 9.394 estabeleceu as diretrizes e bases da educação nacional. O compilado é a garantia de um ensino público de qualidade, estabelecendo o direito de todo jovem à educação e o dever não só de professores, mas também do governo, de educar.
O intelectual também foi escolhido para ocupar a cadeira nº 11 da Academia Brasileira de Letras, ajudou a criar a Universidade Estadual do Norte Fluminense e finalizou a carreira com o primeiro projeto de criação da Universidade Aberta do Brasil e da Escola Normal Superior. Seu último trabalho foi a criação da Fundação Darcy Ribeiro.
O antropólogo faleceu em 17 de fevereiro de 1997, aos 74 anos, devido a complicações causadas por um câncer. Deixou sua marca ao defender incondicionalmente as políticas públicas educacionais do País, tornando-se referência no assunto.
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