É sempre um bom exercício analisar as mudanças, os planos os investimentos que as IES fizeram para sobreviver à crise de covid-19. Afinal, faculdades, centros universitários e universidades tiveram que trocar o pneu com o carro em movimento, como comparou Mozart Neves Ramos, integrante do Conselho Nacional de Educação (CNE), em painel no 23° FNESP.
O encontro reuniu:
- Anna Carolina Muller Queiroz, fellow na Stanford University;
- Carla Letícia Alvarenga Leite, pró-reitora acadêmica do Centro Universitário Faesa, de Vitória (ES);
- Viviane Dantas Farias, aluna de Medicina Veterinária da Unicesumar.
A mediação foi de Mozart Ramos. Segundo ele, os gestores precisam, agora com mais calma, adaptar-se ao novo contexto educacional, pensando soluções de forma institucional. É o caso da Faesa – que pensou fora da caixa para se adaptar às mudanças causadas pela pandemia.
“Trabalhamos com a personalização”, explicou Carla Letícia Alvarenga Leite. “Ouvimos as necessidades e as expectativas dos alunos, além de acompanha-los ao longo dos anos, pois mudamos o tempo todo.”
Educação personalizada
Para a pró-reitora acadêmica da Faesa, uma instituição de ensino superior de sucesso precisa colocar o aluno no centro da aprendizagem, com foco no sucesso, trabalho colaborativo e conexão com o mercado de trabalho. Leite diz que o trabalho de personalização e acolhimento de toda a comunidade acadêmica durante a pandemia foi crucial para o bom desempenho da Faesa.
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A adaptação da instituição ao ensino híbrido também foi crucial para a volta a presencialidade. “O modelo irá se reestruturar com o fim da pandemia, mas não dá para voltar o que a educação era antes”, explica.
Apesar do desafio para as IES, o ensino híbrido tem agradado. É o que afirmou Viviane Dantas Farias, aluna de Medicina Veterinária da Unicesumar. “Apesar das inovações tecnológicas que já existiam, a educação era muito estática.”
Farias contou que a adaptação ao ensino remoto no início da pandemia foi difícil. E, depois de um tempo, os alunos já estavam cansados das aulas online.
Fadiga do zoom
A “fadiga do zoom” é como ficou conhecido o cansaço gerado pelo excesso de comunicação em plataformas de videoconferência durante a crise de covid-19. Essa explosão do uso de aplicativos e plataformas, principalmente na educação, provocou uma onda de cansaço nas pessoas.
A sociedade passou a fazer tudo remotamente, sem deslocamento e mesmo assim estão cansados. Por quê? Foi o que levou pesquisadores da Stanford University a investigar o caso.
Um componente importante do estudo foi o da comunicação não verbal. “Nosso cérebro usa várias áreas para completar o processo cognitivo durante a videoconferência”, explica Anna Carolina Muller Queiroz, fellow na Stanford University.
Segundo a pesquisa, algumas funcionalidades das plataformas, como a galeria de visualização dos participantes, a linguagem corporal, preocupação com postura na tela e a mobilidade reduzida, provocam uma sensação de aproximação das pessoas.
“Todos esses processos exigem uma carga cognitiva muito grande e gera um cansaço físico.”, afirma Queiroz. De acordo com a pesquisadora, há também uma correlação da fadiga com a duração, frequência e intervalo das videoconferências.
Quando comparado o cansaço de trabalhadores e estudantes, o impacto nos alunos foi ainda maior. Os estudantes estão 16,7% mais cansados. Para Anna Carolina, é possível minimizar os efeitos negativos com pequenos ajustes e a avaliação da real necessidade de se comunicar somente por meio das videoconferências.
Queiroz diz que as IES devem analisar bem na hora de decidir entre o online e o presencial – foi o que sugeriu o consultor da Plataforma A, Gustavo Hoffmann, em outro painel do FNESP. “Estimule o uso de outros formatos de aulas para além da plataforma virtual”, sugere. Além dos alunos, isso ajudará os docentes, que também estão cansados do excesso de telas e de tarefas.
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