Na tela do seu computador, a imagem ao vivo do professor se divide com a de cada um dos seus colegas, conectados à aula via internet. Após a fala do instrutor atingir o limite de cinco minutos, começa o debate entre os alunos. E não espere se esconder para não participar da atividade: todos precisam estar preparados para interagirem por, no mínimo, três quartos da aula. Todas as avaliações são feitas com base na participação nas atividades, sem provas ou exames. Assim funciona a Minerva University.
Batizada com o nome da deusa romana da sabedoria, a instituição tem jeitão de startup. Nascida e sediada em pleno Vale do Silício, na cidade de San Francisco, Califórnia, a universidade é vizinha de gigantes da tecnologia como Twitter, Spotify e Uber. A diferença fundamental entre a Minerva e as outras universidades é a total ausência de alunos em suas instalações – com exceção dos que trabalham para a instituição.
O que transforma em realidade o projeto é o ambiente virtual desenvolvido por neurocientistas. Feito para explorar a interação entre o professor e as turmas – cada uma com, no máximo, 20 alunos – o Management Learning System (LMS) faz com que todos interajam, seja em grupo, individualmente ou unindo toda a sala em um seminário. Tudo em um clique.
Durante as 12 horas semanais em que passam em aulas ativas, os alunos são avaliados todo o tempo. A instituição orienta os alunos a estudarem e se envolverem em projetos práticos ou estágios durante outras 40 horas semanais.
Aluno-mochileiro
Criado em 2013, o modelo de ensino da Minerva University se diferencia não só pela aplicação de metodologias ativas de ensino. Recebidos em seu primeiro ano na cidade-sede, eles passam os semestres seguintes entre destinos variados, como Coreia do Sul, Argentina e Índia.
O conceito de aluno-mochileiro está entre as fundações da academia, que busca formar um aluno pronto para ser líder e atuar em diversas realidades socioeconômicas e culturais. “Estamos construindo uma universidade perfeita. Esse é o nosso objetivo”, explica o fundador, Ben Nelson, que tem passagens por empresas como Disney e HP, ao jornal americano San Francisco Chronicle.
Com sua primeira turma aberta em 2015, os primeiros diplomas serão concedidos apenas em 2019. Mero detalhe para os aspirantes: o processo seletivo já é mais concorrido que o do tradicional Massachusetts Institute of Technology (MIT). O alto nível de exigência para entrada dos novos alunos é uma característica desde o início. Enquanto 1% dos candidatos são selecionados na Minerva, em Harvard o percentual é de 5%, enquanto no MIT o índice alcança os 7,5%.
Excelência e concorrência
O método de seleção leva em conta não apenas o currículo acadêmico, mas toda a análise biográfica dos alunos. Notas excelentes no ensino médio são um ponto positivo, mas precisam ser complementadas com atividades extraclasse, como clubes de leitura ou participação em olimpíadas e competições de conhecimento. Aquele grupo voluntário e o time de futebol que geralmente são omitidos da apresentação também são itens essenciais para uma universidade baseada no trabalho em equipe e na capacidade de resolver problemas.
A universidade-startup também se destaca em outro quesito entre as tradicionais instituições americanas: o preço. Com anuidade e custos de alojamento e materiais, o aluno desembolsa US$ 28 mil (cerca de R$ 90 mil) ao longo do ano letivo. Em Harvard, o custo alcança facilmente os U$ 70 mil, enquanto em Stanford, também localizada na Califórnia, o investimento anual chega próximo dos US$ 85 mil.
Para garantir a viabilidade econômica, o fundador, Ben Nelson, adota posturas consideradas polêmicas para os padrões norte-americanos. Ele chama de “insano” os estudantes pagarem milhares de dólares para financiar os salários dos treinadores esportivos, uma tradição nas grandes escolas superiores estadunidenses. Quanto a ensinar um idioma, ele aconselha a matrícula em um cursinho ou a visita a outro país. “Nós não ensinamos informações rotineiras”, sintetiza o CEO do projeto Minerva.
Investimentos e confiança
Segundo Nelson, o projeto já recebeu aportes de mais de US$ 100 milhões, incluindo um aporte do fundo Benchmark, responsável pelo pontapé inicial em startups como Twitter, Dropbox e Instagram. Entretanto, o principal ativo que a Minerva busca conquistar nos próximos anos é a confiança, por meio de profissionais de excelência saídos de seus hangouts.
“Eu perguntaria a um aluno: você quer estudar biologia em uma escola que não possui laboratório? Estudar artes cênicas em uma escola sem teatro? Uma instituição sem biblioteca?”, provoca a consultora de ensino superior Elizabeth Stone, uma das professoras da universidade, em entrevista ao Chronicle. Ela não cita universidades em particular, mas diz que aconselha estudantes que procuram uma educação de elite a pensar cuidadosamente sobre o que isso significa.
O conselho da instituição atrai, além de Nelson e dois investidores, dois nomes conhecidos: Gwynne Shotwell, presidente da empresa de tecnologia e exploração espacial SpaceX, e Phil Lader, ex-embaixador dos EUA no Reino Unido.
“Todo empregador e toda universidade sabem que as empresas procuram pessoas capazes de pensar de forma crítica, se comunicar efetivamente e interagirem bem com os outros”, disse o fundador. “Não é um mistério que as instituições na verdade não ensinem nenhuma dessas coisas. Então, quando surge uma universidade que ensina o que os empregadores precisam, obviamente, os graduados serão altamente procurados.”
Ainda em fase beta, a Minerva University precisa demonstrar ao mundo sua capacidade de responder efetivamente ao título de universidade de excelência. Até lá, fica a expectativa de ver nascer um dos principais marcos disruptivos na educação superior mundial.
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