Em matéria a Stella Campos, da revista Valor Econômico em 15 de junho de 2015, Marcos Lisboa, novo diretor-presidente do Insper – parceira da Blackboard desde 2010 – fala sobre a maneira de medir o aprendizado em sala de aula e incentivar mais o pensamento crítico dos alunos.
O economista Marcos Lisboa se empolga ao dizer que seu dia de trabalho não tem hora para acabar. Para quem já foi secretário de política econômica do Ministério da Fazenda (2003-2005) e vice- presidente de um banco de grande porte como o Itaú Unibanco, dirigir uma escola poderia ser uma tarefa um pouco mais leve. Ele, no entanto, diz que não é. “O Insper é um projeto diferente de tudo o que existe no Brasil.”
Lisboa está desde abril no comando da instituição de ensino privada, mas sem fins lucrativos, localizada na cidade de São Paulo, que oferece cursos de graduação e pós-graduação. Ele diz que seu desafio no cargo não é apenas fazer o Insper atrair e formar a futura elite de pensadores do país, mas revolucionar a forma como se ensina hoje algumas disciplinas tradicionais como engenharia, economia e administração.
A proposta é pretensiosa, mas seus mentores a levam a sério. Quando foi chamado em 2013 por Claudio Haddad, um dos fundadores da escola, para assumir a vice- presidência com a intenção de prepará-lo para a sua sucessão este ano, Lisboa já estava familiarizado com os objetivos do Insper. “Sempre fui um admirador porque isso aqui é uma imensa doação de tempo e recursos de pessoas dispostas a viabilizar uma instituição de qualidade”, diz.
Em dois anos, Lisboa, que tem Ph.D. pela Universidade da Pensilvânia, fez pesquisas, deu aulas e passou por todos os departamentos da escola, do financeiro ao de tecnologia. Atualmente, mantém reuniões semanais com Haddad, que responde agora pela presidência do conselho, depois de ficar 16 anos no comando.
Uma das principais metas do Insper para os próximos cinco anos, segundo o novo diretor- presidente, é promover a consolidação da faculdade de engenharia, inaugurada este ano. A primeira turma tem 89 alunos. Até 2019, quando eles estiverem se formando, terão sido investidos mais de R$ 130 milhões nessa área. Esse investimento inclui a construção de um novo prédio e mais laboratórios. Os recursos vêm de doações. “É assim que tudo acontece aqui. Estamos sempre correndo atrás”, diz Lisboa.
O que faz da engenharia a “menina dos olhos” do corpo diretivo do Insper é a forma original como os cursos de engenharia mecânica, mecatrônica e computação foram estruturados. A inspiração veio do Olin College, instituição americana que, segundo Lisboa, revolucionou o ensino na área. “Fizemos uma ótima parceria e não temos problema em copiar o que é bom.”
“Existe um grande debate no mundo e no Brasil sobre o perfil do engenheiro que estamos formando e o que o mercado precisa”, afirma Lisboa. No que diz respeito ao conteúdo técnico, ele acredita que o país conta com boas escolas, mas nenhuma tem a preocupação de formar um profissional com uma visão mais abrangente. “Queremos que o engenheiro saiba se comunicar, trabalhar em equipe, que pense como dono e vá atrás de recursos”, diz. Ele defende que o futuro profissional precisa desenvolver a capacidade de analisar os impactos e conflitos associados a qualquer projeto, seja no âmbito social, econômico ou ambiental. “O Brasil vai precisar de gente assim para gerenciar grandes obras.”
Para Lisboa, o curso é inovador e pode servir “de modelo e inspiração para outras escolas, inclusive as públicas”. Ele diz que a vantagem de se começar um programa do zero é que nele é possível experimentar tudo, desde um vestibular onde o trabalho em equipe conta pontos até uma metodologia de avaliação que leva em conta o aprendizado contínuo e não apenas as notas em provas. “Sabemos que para aprender é preciso errar, o que nos interessa é que o aluno no fim do processo tenha entendido, de verdade, aquilo que queríamos que ele aprendesse.”
Para levar adiante esse jeito diferenciado de ensinar, a escola treina vários professores no Olin College, inclusive alguns dos cursos de economia e administração. “A inovação na metodologia de aprendizado na escola de engenharia vai contaminar todas as áreas do Insper, incluindo os programas de extensão”, explica. A ideia é que as disciplinas se conversem.
Lisboa conta que alunos da área de economia, administração e até empreendedores de fora frequentam os laboratórios da engenharia. Eles estão instalados em contêineres coloridos na escola e contam com um material de ponta, como impressoras 3D e cortadores a laser. “O FabLab é uma plataforma de inovação que faz parte de uma rede do MIT que procura aproximar o cidadão comum da manufatura digital”, explica. Às quintas-feiras, a escola abre as portas desse laboratório ao público externo.
O objetivo é criar um ecossistema em torno da inovação para que a escola seja o centro desse processo. “Ver essa garotada debruçada sobre projetos, fazendo protótipos e tentando coisas novas é muito estimulante”, afirma. Lisboa lembra que os primeiros cursos do Insper já eram inovadores. “Introduzimos, por exemplo, a graduação em administração em tempo integral”, conta. Nesse modelo, a dedicação do estudante é de 40 horas semanais. “Ele fica totalmente focado até o terceiro ano, e faz estágio apenas no período de férias”.
Outra novidade foi a ida dos alunos do curso de administração a empresas no sexto semestre. Nesse período, eles vão uma vez por semana ajudar as companhias a solucionarem problemas reais. Então, fazem o diagnóstico junto com um mentor do mercado e propõem soluções que depois são avaliadas por uma banca de especialistas na escola. “É uma operação de guerra. Imagine organizar 150 alunos por semestre, em 30 grupos e que irão para 20 empresas diferentes”, explica. Lisboa diz que existe um departamento dedicado exclusivamente a esse programa, que foi criado há cinco anos.
Atualmente, o Insper tem quase seis mil alunos circulando em seu campus, no bairro Vila Olímpia. O corpo docente é formado por 45 professores e pesquisadores com atuação em tempo integral, 83 professores horistas e 20 dedicados ao doutorado. “Os carros-chefe da escola, segundo Lisboa, são os cursos de graduação e as pós-graduações lato sensu. Mas há também a área de ensino executivo, os MBAs, mestrados profissionais e os cursos customizados para empresas. No segundo semestre deste ano a novidade será o lançamento do doutorado em economia dos negócios, ministrado em inglês.
Além disso, a escola conta com centros de pesquisa em finanças, políticas públicas, estratégia e empreendedorismo. Para garantir que bons alunos cheguem às suas salas de aula, mesmo aqueles que não conseguem pagar uma mensalidade salgada em torno de R$ 3,5 mil, Lisboa diz que a escola vem ampliando seu programa de bolsas, inclusive integrais. Nos cursos de administração e economia, 123 tem bolsas parciais e 35, integrais.
Lisboa diz que o objetivo do Insper, acima de tudo, é formar alunos questionadores. “Queremos contribuir para os grandes debates sobre as políticas públicas do país”. Caminhando à noite pelos corredores da escola, ele chama a atenção para grupos de alunos conversando, que assim como ele, parecem não ter hora para ir embora.
Fonte: Valor Econômico – 15/06/2015
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