Até o fim de 2017, o Brasil deverá atingir a marca de um smartphone por habitante. Ou seja, serão 207 milhões de aparelhos em pleno funcionamento. A estimativa, baseada em estudos da Fundação Getúlio Vargas (FGV), também indica que já em 2019 serão aproximadamente 236 milhões de telefones com acesso à internet.
Essa velocidade de expansão é um dos ingredientes que potencializam um outro avanço: o da inclusão digital. O problema é que diversos setores da economia ainda carecem de amadurecimento nesse quesito. Um deles é a educação superior, ainda fortemente marcada por universidades ligadas ao modelo de ensino presencial.
Mônica Campos Santos Mendes, especialista em Educação a Distância (EAD), defende a criação de ambientes de aprendizagem inovadores, como o de ensino híbrido. O modelo chama a atenção ao combinar as vantagens da educação online com os benefícios da sala de aula tradicional – além de reduzir, em média, 30% o custo do curso aos estudantes.
“Existem inúmeras vantagens para o aluno que estuda na plataforma online, mas os tutores persistem na ideia exclusivamente presencial”, explica Mônica, que também é professora da Universidade do Grande Rio (Unigranrio), no Rio de Janeiro.
Novo paradigma
Vencer os diversos obstáculos culturais, segundo a professora da Unigranrio, ainda é o grande desafio das instituições de ensino superior (IES). Um bom primeiro passo seria a união entre os centros universitários. “As IES poderiam criar um curso piloto com alunos interessados na modalidade”, sugere.
Outro fator que impõe barreiras à disseminação do ensino híbrido no Brasil é a carga horária pré-fixada de 40 horas. Muitos docentes (inclusive Mônica) dizem que, se o tutor conseguir atender os alunos diretamente pela plataforma online, não existe a necessidade de trabalhar em tempo integral.
O diretor do Grupo A e especialista em EAD, Gustavo Hoffmann, acrescenta que a simples redução do horário presencial não traria resultados imediatos. “Os alunos ainda enxergam mais valor financeiro em aulas presenciais do que nas virtuais”.
Para ele, a realização de grupos focais com estudantes e professores (juntos ou separados) torna-se um elemento fundamental para determinar o nível de ensino híbrido mais aplicável.
Benchmarks nacionais
Foi exatamente isso o que fez a Universidade Positivo (UP). Mais do que criar vídeo-aulas, games e de utilizar redes sociais em debates com alunos, a instituição apostou na qualificação do corpo docente para trabalhar nestes novos ambientes. O processo foi decisivo para convencer as equipes a “aderirem a um sistema de aprendizagem condizente com os desafios de um mundo em transformação”, afirmou o pró-reitor acadêmico da UP, Carlos Longo, em material à revista Exame.
A Unicesumar, universidade polos no Paraná e em Santa Catarina, também aposta no modelo de educação híbrida. Para dar forma ao método, a instituição investiu R$ 100 milhões nas pesquisas pedagógicas e na elaboração dos laboratórios (cada um avaliado em R$ 1 milhão), além de dois anos de dedicação de um grupo de professores.
Por ora, o modelo híbrido é aplicado nos cursos de arquitetura e urbanismo e para as engenharias civil, elétrica, mecânica, mecatrônica e de produção. “Temos um planejamento para estender essa proposta para outros cursos nos próximos dois anos”, antecipou a diretora operacional de Ensino da Unicesumar, Kátia Coelho, ao portal Notícias do Dia.
Outros benchmarks de ensino híbrido foram apresentados no Congresso Internacional Abed de Ensino a Distância (Ciaed), realizado em Foz do Iguaçu, em meados de setembro. Na Uniamérica, por exemplo, a opção foi por minimizar o “impacto da mudança curricular” desde o primeiro dia de aula. A teoria disponibilizada em ambiente digital prepara os alunos a resolver problemas reais, aplicando conhecimentos e habilidades adquiridas anteriormente.
O case foge dos padrões de gestão educacional que costumam ser aplicados no Brasil. “A Uniamérica testou e mostrou ao Ministério da Educação que o ensino híbrido realmente funciona”, salienta Mônica Mendes, professora da Unigranrio.
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