O movimento começou logo após as 10 horas da manhã da última terça-feira, dia 19. Reunidos em uma sala no centro de convenções do Recanto Cataratas Thermas, Resort & Convention, em Foz do Iguaçu, cerca de 40 convidados se preparavam para debater o futuro da educação superior. “Isso tudo começou com uma série de eventos, em 2011, quando começamos a reunir pessoas do Brasil e do exterior para discutir os desafios da educação”, anunciou Bruno Weiblen, Diretor Comercial do Grupo A, uma das empresas mantenedoras do projeto. “Agora, esperamos que o Desafios da Educação possa se tornar uma referência em conteúdo em ensino superior.”
Os convidados foram divididos em três grupos temáticos coordenados por Ryon Braga, diretor-presidente da Uniamérica; Gustavo Hoffmann, Diretor do Grupo A; e Pavlos Dias, gerente da Blackboard Brasil. Braga mediou os debates sobre o impacto dos novos modelos de educação nas instituições de ensino superior. Hoffmann ficou responsável pelos debates sobre metodologias ativas e ensino híbrido. Dias mediou as discussões sobre tecnologias na educação.
Embora as temáticas e experiências variassem de grupo em grupo, a preocupação central dos debates foi a mesma: em um mundo em que a tecnologia é ubíqua e as pessoas estão permanentemente conectadas, como convencer os alunos e professores do valor do ensino híbrido ou a distância?
“Apesar de vir crescendo, a aceitação do EaD ainda varia muito conforme a área. Em cursos como Pedagogia, posso dizer que a aceitação da modalidade é de praticamente 100%. Na saúde, porém, há uma resistência grande”, afirma Ryon Braga. “Mas é inegável que a aceitação está ganhando corpo, está diminuindo a diferença entre o perfil de público. Acredito que, em alguns anos, não vai fazer sentido falar em EaD e presencial.”
Para Mônica Campos Santos Mendes, tutora online na Unigranrio, parte do problema está na orientação inicial dos alunos. Segundo ela, sem a orientação na hora da matrícula, o aluno sente que está pagando por algo que não está ganhando – a presença do professor em sala de aula. “Precisamos ter argumentos conscientizando o aluno da importância dessas disciplinas já no primeiro contato com a instituição. Esse é um dos grandes gargalos”, diz a professora.
Conscientização é o segredo
Pró-reitor acadêmico da Unifeob, José Roberto de Almeida concorda que a informação é um aspecto crucial. Para ele, a resistência é maior quando o aluno percebe que a instituição está usando a legislação (a reserva de 20% das disciplinas para o ambiente online) por uma questão financeira – e não para melhorar o desempenho dos alunos. Outro problema, segundo Almeida, é o uso da tecnologia de forma isolada, sem um projeto pedagógico bem definido. “O comum é a aplicação de determinadas metodologias de forma isolada por parte de determinados professores. Precisamos inserir novas tecnologias e metodologias em sala de aula, mas dentro de um projeto institucional.”
Everton Paula, da Positivo, destaca que a discussão não deve se limitar ao ensino superior. “Não é raro ir em uma escola do ensino médio e ter proibição do uso de celular”, diz. Assim, quando se depara com ambientes online de aprendizagem, isso pode ser um choque cultural. “O aluno não é preparado para isso. Precisamos influenciar a educação básica para que a cultura se transforme.”
Os professores, antes acostumados a serem a grande referência em conteúdo, agora têm um papel diferente. “A função do professor tem mudado radicalmente. O conteúdo está no Google”, salienta Gustavo Hoffmann. E, é evidente, a resistência pode ser forte para profissionais acostumados ao modelo tradicional. “Quando implementamos o modelo híbrido, nossos professores passaram por uma formação de 150 horas”, comenta Ryon Braga, da Uniamérica. E, mesmo assim, não é possível esperar a resistência de todos. “Achei que a aceitação do professor iria ser a parte mais fácil. Mas estava enganado. Acredito que ainda vai levar alguns anos para que o modelo mental do docente mude.”
Neuza Belo, diretora de Ensino na NRE Participações S/A e professora da Ibmec Business School, ressalta a necessidade de conhecer – e respeitar – o perfil do professor. “Há professores que dificilmente vão aplicar metodologias ativas. É preciso identificar seus pontos fortes e aproveitá-los em funções específicas”, comenta. Braga concorda. “Selecionamos os professores que mais se destacam nas aulas expositivas e os colocamos para gravarem as aulas para o ambiente virtual. No entanto, o momento em sala de aula é voltado para a execução de projetos e a resolução de problemas.”
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